Capítulo 20

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• Maiara Pereira •

Tia Áurea permitiu que a Roze ficasse comigo no quarto após o meu banho. Uma enfermeira me auxiliou a encontrar uma posição confortável para mim e para o pequeno pedaço de gente que há poucas horas saiu de mim. 

A parte de cima do meu pijama estava aberta e os meus seios expostos. Fui orientada que o contato pele a pele da mãe com o bebê era essencial. Segurava-o em um dos braços, tão sensível, tão pequeno, que meu medo era machucá-lo.

Enfermeira: Veja, Maiara, ele está levando a mão a boca e fazendo movimentos de sucção — alertou a enfermeira.

Maiara: Céus! Está com fome, não está?

Enfermeira: Sim. Coloque-o de frente para o seio, com a barriga encostada na sua. — Movimentei-o em meus braços, com cuidado. — Isso, a cabeça precisa estar alinhada. Agora, abra a boquinha dele com o seu mamilo, tocando os lábios inferiores. — Mal encostei e ele já o abocanhou. — Perfeito. A boca precisa estar bem aberta, com os lábios virados para fora, assim como está agora. E não se esqueça de que, depois da amamentação, você deve colocá-lo para arrotar.

Maiara: Aí. Acho que deu certo.

Roze: Amiga, o bichinho parece esfomeado — comentou Roze.

Maiara: Que tipo de mãe eu sou? — brinquei.

Uma batida suave à porta ecoou e o médico entrou logo em seguida. Mesmo àquela hora da madrugada, parecia feliz e satisfeito pelo trabalho que estava realizando.

Médico: Esse meninão está saudável e forte! — anunciou, me trazendo um alívio inexplicável. — Bom peso, respiração estável, frequência cardíaca regular e reflexos normais. Todos os sinais são positivos.

Maiara: Que alívio, doutor.

Médico: Você notou como os olhos dele são lindos? — continuou. — Numa iluminação melhor você conseguirá notar melhor a tonalidade. Existe alguém na sua família com essa cor de olhos?

Virei-me para Roze e minha amiga tinha os lábios entreabertos. Eu já havia descrito o Fernando, incluindo os olhos. Precisei sanar sua curiosidade.

Maiara: O pai dele... — confessei. O médico pareceu ficar empolgado.

Médico: Interessante a herança genética.

Agora eu queria toda a luz do dia, para poder observar os olhos do meu filho. As sugadas se interromperam e o meu bebê ficou imóvel. Meu coração pareceu parar. Olhei para a sua barriguinha e estava respirando. Ainda bem que estava.

Maiara: Dormiu? — questionei, assustada.

Enfermeira: Parece que sim. Me dê ele aqui.

Não queria entregar o meu bebê para ela, por mais que eu soubesse que nada ia acontecer com ele. Minha cabeça estava confusa. Afastei-o do peito e observei seu rosto sereno antes de o entregar para a enfermeira, me sentindo incomodada.

Enfermeira: Eu já volto, mamãe — assegurou-me a enfermeira, notando a minha apreensão.

Ter um filho era a última coisa da minha lista de prioridades para os próximos anos, mas agora que eu tinha, sentia que minha alma se conectava com a dele e não queria ficar longe. Não mesmo.

Roze: Surreal — Roze comentou quando ficamos a sós.

Maiara: Carreguei por nove meses e nem um fio de cabelo se parece com o meu. — Minha amiga se curvou em uma gargalhada abafada, levando as mãos à boca para não perturbar a paz do hospital. — Para de rir, palhaça — sussurrei, espreguiçando meu corpo exausto.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora