Capítulo 12

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• Maiara Pereira •

Dia 1

Recebi uma planilha impressa com o horário das medicações e atividades que o Sr. Nero costumava fazer. Conversei com a cozinheira e ela me disse que nunca ninguém conseguiu o obrigar a seguir aqueles horários, pois fazia as coisas só quando bem entendia.

Às três da tarde ouvir música? Isso não deveria ser algo com horário pré-determinado. Descobri que parte daquelas coisas foram recomendadas por um médico da mulher com quem ele se relacionou anos após perder a esposa. Tentei descobrir também por que o relacionamento acabou, mas a Isabel não sabia, ou não queria contar.

Muitas perguntas, poucas respostas.

Antes de ir embora, Aline também me recomendou que eu tentasse o acordar mais cedo. O Sr. Nero dormia por volta da meia-noite e só acordava às dez da manhã. Suspeitava se apenas acordava tarde ou se enrolava dentro do quarto para não precisar ver ninguém.

Era por volta do meio-dia e ele ainda não havia dado as caras. A porta também estava trancada, e isso começou a me preocupar. Com as melhores intenções, subi as escadas centrais e respirei a plenos pulmões antes de dar três batidinhas.

Nenhum barulho ou sinal de vida.

Girei a maçaneta e a porta, antes trancada, estava aberta. Com minhas mãos suando, abri uma pequena fresta apenas para ter visão do interior do cômodo. Fiquei aliviada quando o vi bem-vestido em roupas sociais, sentado na poltrona única. Seus óculos estavam quase escorregando da ponta do nariz e, de cabeça baixa, ele lia um livro de capa rosa. As grandes janelas também estavam abertas, o cheiro de sabonete permeava o quarto e, pelo cabelo grisalho molhado, havia acabado de tomar banho.

Maiara: Bom dia — falei ao entrar e ficar bem ao lado da maçaneta interna.

Nero: Bom dia. — Nem mesmo levantou a cabeça para me cumprimentar.

Maiara: Posso trazer o seu café da manhã? — Franziu a testa.

Nero: Café da manhã ao meio-dia?

Como sou tonta.

Maiara: Perdão. Vou pedir para que adiantem seu almoço, então.

Nero: Não estou com fome. — Fechou o livro e me encarou, inexpressivo.

A resposta óbvia era "Você deveria comer", mas ele sabia disso, apenas não queria, e eu precisava fazer diferente.

Maiara: Faz algum tipo de jejum moderno, Sr. Nero? Não acho que você precise emagrecer.

Ele estreitou os olhos para mim e, escolhendo ignorar a minha fala, reabriu o livro.

Nero: Me traga um café sem açúcar — pediu, com a atenção voltada para as páginas.

Maiara: Claro, vou fazer um novo. Eu amo café! — Cri. Cri. Cri. — Com licença, volto já.

Não respondeu, claro que não, mas eu estava determinada a fazê-lo gostar de mim. Seis mil e quinhentos reais era muito dinheiro, distante de qualquer salário que eu pensei em ganhar antes de me formar.

Desci as escadas tão rápido que poderia ter sido até perigoso. Isabel se virou para mim, curiosa. Ela havia me aconselhado a não ir lá, a esperá-lo descer. Uma mulher entrou na cozinha segurando duas vassouras e passou os olhos por mim, como se eu fosse insignificante.

E de fato, ali, eu era.

Isabel: Boa tarde, Carla. Isso são horas? — questionou Isabel, fazendo-a torcer o nariz.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora