Capítulo 31

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• Fernando Zorzanello •

Um senhor simpático nos serviu o almoço para dois que eu havia solicitado na área externa. Por volta de uma da tarde, o vento não estava mais frio, mas o clima estava fresco, agradável. Pedi para que Maiara continuasse sentada e eu mesmo distribuí sobre a mesa as embalagens descartáveis com as porções de comida. Em posse do seu prato, percebi que analisou os talheres discretamente.

O único barulho era o do canto dos pássaros e das embalagens que eu abria. Só descobri o cardápio ao remover as tampas. Eu não tinha frescura com comida e ela também disse não ter, então não escolhi nada em específico.

A cara estava boa, ao menos. Encontrei entre as porções: purê de batatas, arroz branco, frango ao molho, quiabo, farofa e salada verde. Para beber, suco de laranja.

Maiara: Parece comida de vó — comentou.

Fernando: O que seria comida de vó?

Espantou-se com a minha pergunta.

Maiara: Sua vó não cozinhava pra você? — Neguei. — Por quê?

Fernando: Não sei, nunca vi minha avó cozinhando. A cozinheira ficava no comando.

Maiara: Filomena também não é muito fã de um fogão.

Fernando: Se eu pedir, ela faz uma lasanha magnífica. É a sua especialidade.

Maiara: O filho favorito.

Fernando: O único, até onde sei.

Ouvi mais uma das suas risadinhas tímidas.

Maiara: Tenho certeza de que ela não tem outros filhos por aí.

Fernando: Também tenho, sempre se gabou de ter se casado com o primeiro namorado. Ela nunca fez a lasanha pra você?

Maiara: Bom, não chegou a tanto, mas ela pedia para a Nete fazer o meu bolo favorito.

Fernando: Ainda tem contato com a Nete? — Negou.

Maiara: A minha chegada foi tão conturbada aqui, Fernando. Quando recuperei o fôlego e quis ligar pra ela, acabei desistindo. Se eu me afastasse por completo de onde trabalhei e evitasse notícias, seria mais fácil esquecer. Ela está bem?

Fernando: Sim, continua conosco. — Percebendo que ela não tomaria a iniciativa, peguei uma colher e o prato dela. — O que você quer?

Maiara: Não precisa se incomodar, posso fazer isso.

Fernando: Eu sei que pode. — Coloquei duas colheres de arroz em seu prato. — Mais?

Maiara: Não. Está bom, obrigada.

Repeti a quantidade com o restante das opções e a entreguei. Não era inimigo do carboidrato, mas misturar purê, arroz e farofa seria uma bomba. Deixei o purê de fora, arroz combinava mais com frango ao molho.

Tão agradável como a paz que aquele lugar oferecia era o tempero das pessoas responsáveis por cozinhar para os hóspedes. Para o meu paladar, estava perfeito. Não precisei perguntar para a Maiara se gostou, sua felicidade ao mastigar me mostrava que sim.

Sem frescuras para comer, como imaginei.

Depois de voltar para a casa da minha mãe, conseguia contar nos dedos quantas vezes almocei com uma mulher que não fosse a própria, ou algumas poucas advogadas que trabalhavam para mim quando o tempo de reunião ultrapassava.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora