Capítulo 40

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• Fernando Zorzanello •

Dias depois

Terminei a reunião com o meu provável gestor fantasma, aquele que assumiria processos internos para que eu pudesse estabelecer uma rotina mais maleável. Estava disposto a pagar o tempo que devia ao meu filho.

Depois de descobrir que era pai, a minha insônia desapareceu, mas, após o velório e o distanciamento temporário dos amigos, Maiara relatou que estava demorando mais que o seu normal para pegar no sono e acordava mais tarde do que todos da casa. Se aceitasse dormir no meu quarto, teria um sonífero de efeito colateral, bem adequado e enterrado nela, todo santo dia.

Desci as escadas, tentando não fazer barulho, porque assim que Felipe me visse, não me deixaria fazer o que estava planejando. Quem poderia julgar o meu filho pela carência que sentia? Ele ainda temia que eu saísse e não voltasse. Nero, quando vivo, trabalhava pouco e passava muito tempo com ele. A presença da sua avó amenizava a saudade, mas nenhum amor supria o outro por completo.

Alegrei-me ao encontrar a minha mãe, que passava pela sala em direção à cozinha.

Fernando: Bom dia, amada mãe.

Filomena: O que você quer? — perguntou, erguendo as sobrancelhas.

Pressionei um lábio no outro para não rir. Ela sabia que se eu não a chamasse de "minha velha" era porque queria algum favor.

Fernando: Onde está o meu amado filho?

Filomena: Na cozinha, apresentando os seus bonecos pela décima vez para a Nete. Vamos nos juntar para o café da manhã? Cadê a minha flor?

"Minha flor". Suspeitava que minha mãe amava mais a Maiara do que eu, o que de nenhuma maneira me incomodava.

Fernando: Então, preciso que segure Felipe aqui e não o deixe subir até descermos.

Meu pedido a fez franzir a testa, ao menos até onde a toxina botulínica a permitia.

Filomena: Espera. Não é o que eu entendi, é?

Fernando: Precisamos ter uma conversa privada, mãe — dissimulei.

Filomena: Hum, conversa... e isso impede seu filho de subir? É só trancar a porta.

Fernando: Como se ele não fosse tentar abrir e ficar batendo até alguém destrancar.

Os olhos dela se arregalaram em uma possível constatação, do dia em que ela precisou subir às pressas, porque Felipe se desesperou pensando que a mãe e o pai estavam presos no quarto.

Estávamos, mas era de propósito.

Filomena: Então aquele dia...? Fernando!

Fernando: Foi só o tempo de finalizar. — Ela me deu um tapa no braço, que só me fez rir.

Filomena: O que você e a Maiara são? Exijo um posicionamento. Vamos, me diga.

Fernando: Não sei.

Filomena: Não sabe? — questionou, perplexa.

Fernando: Por que isso importa? Somos, sei lá, namorados.

Filomena: E você a pediu em namoro?

Fernando: Alguém faz essa breguice hoje em dia? Namoro é algo que se subentende.

Filomena: Pare de enrolar ela, filho!

Fernando: Não estou enrolando ninguém. Esperei que se sentisse melhor, e agora apenas estou finalizando algo importante. E não insista que não te direi o que é, porque sei que não aguenta a língua dentro da boca.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora