Capítulo 42

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• Fernando Zorzanello •

Dias depois

Segurei firme na mão da minha noiva, que descansava sobre a minha perna, e tentei não me deixar abalar pelo choro dolorido de Júlio, sentado à nossa frente ao lado do Pedro, seu irmão mais sensato.

Júlio: Caralho... — Fungou. — Eu vivi ao lado de um monstro. — Referia-se a Aline, para Maiara.

Me certifiquei de que eles não falariam nada que pudesse ofendê-la ou envergonhá-la antes de agendar a reunião no meu escritório na sede da Zor.

Maiara: Júlio, está tudo bem. Eu já superei o que a sua irmã me fez, de verdade.

Pedro: Superar não apaga, Maiara. Recuperamos as conversas apagadas e estava tudo no celular dela, tudo. Ela orquestrou o seu sequestro, e combinou com os sequestradores para te matar pessoalmente. Se você não tivesse fugido, não estaria aqui hoje — pontuou Pedro, com a voz carregada de amargura. — Nos diga uma forma de reparar as perversidades da nossa irmã, por favor.

Júlio: Perdão, Maiara, perdão... — Júlio não parava de chorar.

Maiara: Não se preocupem comigo, vocês já devem carregar um peso muito grande por terem ficado distantes do pai de vocês devido às mentiras dela. — Virou-se para mim. — Fernando me contou tudo.

Fernando: De fato — confirmei. — E o Thomas? — A menção do nome do irmão fez Pedro franzir o rosto, enojado.

Pedro: Continua insistindo que a nossa irmã não é uma psicopata de merda.

Maiara: Ela foi diagnosticada? — Maiara questionou.

Pedro: Não, é presunção.

Fernando: E onde ela está? — questionei, e pareceu que tirei as palavras da boca dela.

Júlio: Internada. Aceitou ir de maneira voluntária — Júlio respondeu-me de supetão, limpando o rosto molhado com o dorso das mãos.

Pedro: E esse é outro assunto... se Maiara quer que entreguemos o celular pra polícia.

Esperei que o sim chegasse rápido, mas não chegou. Encarei-a, questionando por que ela ainda estava pensando. A resposta deveria ser óbvia. Não poderiam existir dúvidas sobre responsabilizar uma pessoa por seus crimes.

Fernando: Por que está pensando?

Maiara: Eu vou precisar ir à delegacia e comparecer a audiências, não vou?

Fernando: Sim, mas isso é normal. — Ela negou. — Do que você tem medo?

Percebi que suas narinas se dilataram e que ela poderia chorar a qualquer momento.

Maiara: Me deixa ser feliz só um pouquinho... Não quero passar por isso, não de novo. Estou vivendo o começo de um sonho e não quero pôr tudo a perder.

Fernando: Maiara, meu amor, você não irá perder nada. Será muito bem assistida. Terá todo o meu apoio e o de quantos advogados você desejar. — Continuou negando. — Não tenha medo da Aline, você não é mais uma mãe sozinha tentando se proteger e proteger o seu filho. Não fuja mais, eu estou na sua retaguarda.

Minhas palavras a levaram a uma profunda reflexão, e lágrimas escorreram pelo seu lindo rosto. Me curvei e beijei seu rosto antes de secar as lágrimas. Minha vontade era buscar vingança, mas não cabia a mim. A decisão era da minha noiva, e só me restava apoiá-la. Também podia compreender os seus motivos se decidisse abandonar essa batalha. Ela estava escolhendo pelo que lutar. Só precisava saber que não o faria sozinha.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora