Capítulo 35

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• Maiara Pereira •

Fernando não havia me pedido para morar com ele, claro que não. Meus ouvidos decerto confundiram as palavras, era a única explicação. Eu mal conseguia piscar enquanto deslumbrava aqueles olhos. Estava apavorada, mas seu rosto era pura calmaria ao fazer aquela proposta indecente.

Fernando: Não coloque empecilhos, apenas confie — continuou.

Maiara: Entende que... não é algo simples?

Fernando: A vida é simples, nós quem a complicamos.

Maiara: É fácil dizer isso sendo homem e muito rico.

Fiquei aliviada quando ele assentiu, entendendo o meu ponto. O mais fácil seria renunciar a tudo e ir com ele, claro, porque eu era mulher, e, em uma escala, estávamos distantes um do outro em algumas questões.

A forma como pareceu me compreender me reconfortou. A sensação de sufocamento estava se dissipando.

Fernando: Vou explicar a minha proposta de maneira mais assertiva. Vamos lá. — Deslizou as mãos até a minha cintura e me segurou deliciosamente forte. — Você cuidou do nosso filho sozinha e adiou seus sonhos. Felipe é o meu sonho, é o seu também, mas não somos seres de um sonho só.

Se as pessoas nascessem com dons, não tinha dúvida alguma que o dom daquele grande pedaço pecaminoso era calcular e usar bem as palavras.

Maiara: Fernando Zorzanello, preparando o terreno para começar a sua argumentação.

Tão pecaminoso quanto ele foi o sorriso direcionado a mim ao me ouvir.

Fernando: Escute, engraçadinha. — Pinçou com os dedos a carne da minha cintura, provocando uma ardência satisfatória.

Maiara: Era pra ser ruim? Foi bom... — provoquei, com um tom de voz sugestivo.

Maiara Pereira, onde está você?

Não me reconhecia mais. Meu corpo precisava de pouquíssimo tempo ao lado do dele para que entrasse em completo estado de necessidade. Necessidade essa que eu pensava estar morta, enterrada, e que nem tão cedo sentiria outra vez.

Ele precisava ficar distante e parar de me elogiar. Precisava parar de me tratar como se eu importasse. Ah, ele precisava, porque eu já não conseguia controlar as batidas do meu coração a cada vez que ele sorria para mim.

Fernando: Se entrarmos em um acordo, posso te dar o que você quer mais rápido, Maiara.

Que vergonha, que vergonha, que vergonha!

Fernando: Felipe vai ser a minha responsabilidade também. Você poderá fazer a graduação que sonha e aliviar a tensão sobre os seus ombros.

Meu peito gritava que eu era apaixonada por aquele homem e que, na verdade, sempre fui, desde que éramos dois desconhecidos em um banco, enquanto ele me protegia do frio, me fazendo acreditar que as coisas poderiam sim acontecer à primeira vista. E se muitos outros olhares fossem trocados depois, como nós estaríamos hoje? Fernando nunca esqueceu meu nome, e teria vindo até mim se tivesse recebido o nome correto.

Como nós estaríamos hoje?

Beijá-lo, tocá-lo, senti-lo, foi apenas mais uma forma de confirmar o que eu sentia. O tremor que senti dos pés à cabeça ao encontrá-lo naquela reunião foi diferente de todas as reações que meu corpo sofreu, durante toda a minha vida.

Como seguiríamos depois de tantos desencontros?

Maiara: Sua mãe já sabe...?

Fernando: Combinei com o motorista de trazê-la amanhã pela manhã, mas não, ainda não sabe.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora