Capítulo 30

330 37 15
                                    

• Fernando Zorzanello •

Maiara: Nenê. A primeira palavra que ele disse foi Nenê. — Seus olhos brilharam ao me revelar.

Fernando: Apelido que pertencia ao Baltazar, correto? — Assentiu, com a melancolia assumindo seu rosto e corpo. Sua postura até se retraiu. — Não duvido que você seja uma mãe incrível, mas me alivia muito saber que ele teve o Nero.

Maiara: Tive muita sorte...

Fernando: As coisas são difíceis hoje em dia, não é fácil confiar. Presenciei casos absurdos de maus tratos a bebês e crianças durante um estágio. Foi pesado. Uma parte da população perdeu a humanidade, Maiara, e não julgo alguns casos. Viver numa selva te obriga a ser selvagem, mas algumas coisas são inadmissíveis. Não sei se me fiz compreender.

Maiara: Entendi, sim. A desigualdade tão discrepante tem efeitos colaterais. Não justifica, pelo menos não tudo, mas é um fato — confirmou que entendeu o que eu disse, e foi excitante de alguma maneira.

Fernando: Trabalhando como cuidadora e sendo mãe, te sobrou tempo para seguir os seus sonhos? Me lembro, mesmo depois desses anos, que você queria uma bolsa para estudar Medicina.

Maiara: Não acredito que você se lembra! — Surpreendeu-se.

Nunca me esqueci de nenhum detalhe, foi o que eu pensei.

Fernando: Tenho uma memória boa. — Foi o que respondi.

Maiara não era solteira e namorava outro homem. Meus flertes precisariam esperar que o namorico findasse. E, se dependesse apenas de mim, acabaria mesmo.

Maiara: Guardei dinheiro para poder me manter com o meu filho por um tempo e continuei estudando. Não sei se passo de primeira, mas tenho certeza de que consigo. Quando for o momento, vou cumprir a promessa que fiz para a minha mãe.

Fernando: Os milhões que irá receber não te fizeram mudar de ideia sobre estudar?

Negou com o rosto franzido de leve.

Maiara: Jamais. Primeiro, os milhões nem são meus, são do Felipe.

Fernando: Verdade. Você é responsável por administrar os bens dele. Todavia, oferecer conforto a ele é necessário.

Maiara: Sim, sei disso, mas... não quero que ele tenha uma vida luxuosa.

Fernando: Por quê?

Maiara: Para que não cresça deslumbrado.

Fernando: Entendo sua preocupação, mas tudo depende da criação. Acha que meus amigos não se questionam sobre o porquê eu continuo me matando de trabalhar? Se dependesse deles, eu viveria em viagens, ostentando.

Maiara: Nero me disse que Júlio é centrado, como você.

Fernando: Então você sabia que eu era amigo do filho dele?

Maiara: Sabia. E implorei para que ele não te procurasse. — Corou ao admitir.

Fernando: Espera. — Sentei-me em cima de uma perna para ficarmos de frente um para o outro. — Então você não sabe que ele foi até a minha casa e nós conversamos? 

Maiara deixou os lábios descolarem e seus olhos se abriram mais.

Maiara: Nenê te procurou? Meu Deus! Me conta! — Aqueles olhos brilhantes me deixaram eufórico. Endireitei a postura, ansioso para contar a ela.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora