Capítulo 44

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• Fernando Zorzanello •

Cinco anos depois

Felipe: Pai, está a fim de um méqui? — Felipe perguntou do banco de trás.

Fernando: Sua mãe encomendou uma tábua de frios pra hoje, vão entregar daqui a pouco. — Ele franziu a boca, deixando claro que aquele não era o seu desejo.

Felipe: A minha avó também vai lá pra casa?

Fernando: Hoje não, por quê?

Felipe: Posso ficar na casa dela esse fim de semana?

Meu filho, assim como eu, tinha uma inclinação às ciências humanas e não estava com notas muito boas em matemática. Ele teria prova na segunda-feira e precisava garantir que ele estudasse.

Fernando: E a prova?

Felipe: Já estudei. — Foi firme em sua confirmação. Nem mesmo meu filho escapava das análises do seu pai.

Fernando: Domingo à noite precisa revisar o conteúdo. Então o motorista precisa te trazer após o almoço.

Felipe: Fechou. Posso ir, então?

Fernando: Sim, filho. Vamos buscar a sua mãe primeiro e passamos no drive-thru pra pegar teu lanche.

Felipe: Valeu, pai.

Fernando: Tem roupas suas na casa da sua avó? Ou quer passar em casa?

Felipe: Ih, pai, várias.

Fernando: Leve o Big com você. — Me referi ao nosso cachorro, que adotamos antes de nos mudarmos.

Felipe: Sim, senão ele morre de saudade.

Em breve lhe presentearia com outro cachorro. Meu filho tinha o sonho de ter um Golden, assim como eu tinha, mas Maiara era contra o comércio de animais. Me tornei avesso à ideia também e havia desistido de comprar até um amigo de confiança, que tinha um casal da raça, nos oferecer de presente um filhote.

Felipe ficaria bem. A verdade era que eu não precisava me preocupar. Minha mãe era a melhor avó do mundo para o meu filho, não só em termos de afeto, mas também nas conversas que eles tinham. Mesmo sendo apegado a nós, vez ou outra gostava de passar o final de semana na casa dela.

Os finais de semana em que o nosso filho estava fora eram bem aproveitados. Dispensávamos os funcionários e apreciávamos a nossa própria companhia das mais inusitadas maneiras.

A fase favorita da faculdade para a minha mulher estava sendo o internato, e seu rodízio atual era na psiquiatria. Durante o revezamento de especialidades ela tinha a oportunidade de vivenciar a medicina de maneira mais clara, adquirindo experiência em cada uma das áreas para descobrir por qual caminho gostaria de seguir.

A vaga em frente ao hospital, onde eu gostava de estacionar, estava vazia, então entrei nela e enviei uma mensagem de texto avisando que cheguei. Minutos depois, lá estava ela. Sempre trocava de roupa e aparecia na porta sem o jaleco, com os cabelos soltos.

Abaixei o vidro e recebi o seu sorriso assim que me notou. Atravessou a rua com atenção e, ao entrar no carro, antes mesmo de cumprimentar seu marido, virou-se no banco para dar um beijo no filho, que desafivelou o cinto para alcançá-la.

Maiara: Como foi na escola hoje, filho?

Felipe: Foi bom, mãe, como sempre — respondeu, afivelando o cinto.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora