Capítulo 16

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• Maiara Pereira •

Semanas depois

Antes que eu tivesse alta do hospital, após fazer todos os exames necessários e restaurar a minha saúde, as autoridades policiais exigiram que eu ficasse sob proteção. As buscas na casa em que fui mantida em cárcere e toda a investigação os levava a crer que o ataque contra mim teria sido feito para atingir o meu chefe.

Não conseguia me alegrar pela gravidez, embora meus tios, meus amigos e o Nenê estivessem extasiados, infinitamente mais felizes do que eu. Algo inexplicável acontecia dentro de mim. Não me interessei por saber qual o gênero e nem sequer pensei em nomes, tudo aquilo era irrelevante. Eu aprenderia a amar o que nascesse.

Procurava fingir que estava tudo bem, forçava sorrisos para não preocupar as pessoas, mas a verdade é que, por dentro, eu estava em frangalhos.

Seguindo a recomendação das autoridades, passei a morar no trabalho. Quis voltar a trabalhar assim que minhas mãos cicatrizaram. Tive muita sorte de não as ter quebrado. Me incomodava que a enfermeira do meu chefe tivesse que cuidar de mim. Me machucavam os olhares desdenhosos da Isabel, como se eu estivesse me aproveitando.

Me perturbava que o Nenê estivesse cuidando de mim, invertendo os papéis. Me atormentava que minha tia deixasse sua mercearia nas mãos da funcionária para ficar comigo por um período do dia. Me agoniava que os meus amigos saíssem do trabalho para me visitar diariamente, preocupados.

Voltar a trabalhar me fazia deixar de ser um fardo e aliviava um pouco a minha consciência.

Antes de saber que eu estava grávida, não sentia nenhum sintoma, apenas achava que eu havia engordado. Depois que tive consciência, todos os sintomas chegaram com força: muita sensibilidade nos seios, náuseas, fadiga, sono durante o dia, desejos estranhos e inchaço. A barriga que antes passava despercebida como apenas uma barriga mais saliente, começou a ficar pontuda e perceptível. 

Sempre sonhei em ter um filho. Costumava imaginar que, quando acontecesse, iria amá-lo desde o momento em que descobrisse a gravidez, mas nada estava sendo como idealizei. Olhava para a minha barriga enquanto uma complexa mistura de sentimentos me inundava, sendo o desespero o mais proeminente entre eles, de longe.

Costumava subir as escadas correndo, mas agora subia mais devagar, apoiando a mão no corrimão. Medo de cair? Talvez fosse. Também parei de me alimentar mal, pois passei muito tempo sendo negligente por não saber que estava grávida. Mesmo não tendo a felicidade que gostaria ao saber da gravidez, eu carregava um filho na barriga, e pelo menos disso eu tinha que cuidar, para que não nascesse doente por minha culpa.

Caminhei pela porta entreaberta do escritório do Nenê, com as suas medicações em mãos, e ele abriu um largo sorriso ao me ver. Todos pareciam estar felizes, menos eu, de fato.

Nero: Me dê aqui esses comprimidos, agora não posso negar nada que você deseja — declarou, estendendo a palma da mão. Coloquei sobre ela os remédios e lhe entreguei o copo d'água em seguida. — Mai, falei com uma velha amiga e ela vai te levar ao centro para comprar roupas novas para você e para o bebê, por minha conta.

O pensamento de ter que sair de casa me arrepiou dos pés à cabeça. O meu novo quarto na casa do meu chefe era o meu abrigo, onde eu me sentia segura. Toda vez que eu precisava ir ao médico ficava tonta de nervosismo. Suportava apenas por ser uma necessidade.

Compras não eram uma necessidade, não ainda.

Maiara: Nenê, prefiro não i...

Nero: Lucas vai levar vocês, com dois seguranças — interrompeu-me.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora