• Maiara Pereira •
Nos hospedamos em um hotel próximo ao edifício Zor para aguardar uma ligação. Sendo bem sincera comigo mesma, nunca havia segurado um celular de maneira tão firme e por tanto tempo. Perdi as contas de quantas vezes conferi se ainda tinha bateria. Dormi com o celular bem ao lado do travesseiro e no volume máximo, a cada notificação o meu coração disparava.
Durante o café da manhã farto do hotel, eu não tive nenhuma fome. Peguei algumas frutas e elas permaneceram intocadas no meu prato, enquanto eu observava Isis comer. Percebendo a minha apreensão, estendeu a mão sobre a mesa para tocar a minha.
Isis: Maiara, se ele não ligar, posso enviar uma notificação extrajudicial.
Maiara: Como seria isso?
Isis: Explicando de forma simples, para você entender, iremos notificá-lo de que, se não houver um acordo amigável, ingressaremos com uma ação de reconhecimento de paternidade. O fato de você ter trabalhado na casa dele e ter ido à festa já são evidências que apoiam a nossa reivindicação. Se a paternidade for contestada, faremos um DNA.
A última coisa que passava pela minha cabeça era entrar em uma briga judicial com o Fernando.
Não se obriga um pai a ser pai. Um homem é pai quando ele quer ser. Quando não quer, se torna apenas um peso morto, um simples doador de esperma, um depósito bancário feito com desgosto e insatisfação.
Maiara: Prefiro não fazer nada disso. Vamos lá outra vez, antes de ir embora?
Isis se remexeu desconfortavelmente na cadeira.
Isis: Falar com aquelas antipáticas? Posso perder meu réu primário se elas forem mal-educadas com você.
Maiara: O que elas pensam sobre mim é indiferente, Isis. Elas não me importam.
Isis: Não quer mesmo ligar para a avó? — Neguei. — Por quê? Perdão se estou sendo invasiva.
Maiara: Posso te contar, se você me contar do passado do Nero. Como a esposa morreu? Por que os filhos são afastados? Quem foi a namorada que ele teve? — As pupilas dela se dilataram. — Me importo com ele. Queria poder ajudá-lo mais.
Isis: Nero se importa com você também.
Maiara: E então?
Isis: Maiara, não é da minha alçada falar do passado do meu cliente.
Maiara: Mas me responda uma coisa... a relação de vocês é apenas profissional?
Retraiu-se na cadeira.
Isis: Hoje em dia? Sim. Mas prefiro não comentar nada além disso.
Maiara: Desculpa, não quis ser intrometida.
Isis: Fique tranquila. O nosso foco agora precisa ser você.
Buscar judicialmente um reconhecimento de paternidade estava fora de cogitação. Apenas reafirmaria tudo que insisto em negar. Aos olhos de todos, até mesmo da Filomena, não passaria de uma golpista de quinta. Minha mãe não gostaria que eu fosse vista assim. Eu não queria ser vista assim.
A empregada que engravidou do filho da patroa para ter uma abastada pensão. Seria fácil acreditar nessa versão, bem fácil.
Engoli dois pedacinhos de maçã e uma uva. Se eu forçasse qualquer coisa a mais, vomitaria de nervosismo. Com uma produção parecida com a do dia anterior, exceto pelo perfume que esqueci de trazer na bolsa de mão, embarquei no blindado do Lucas de volta ao prédio da Zor.
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A parte que me faltava
FanficMaiara Pereira é uma jovem modesta e previsível, com o sonho de passar no vestibular para medicina, até que sua patroa a convidou para uma festa de boas vindas e exigiu sua presença na noite que mudou sua vida completamente. Fernando Zorzanello é a...