Capítulo 11

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• Filomena Zorzanello •

Esgotei-me por um dia e uma noite inteira pensando no que fazer para recuperar a minha querida Maiara, mas acabei voltando para a escolha mais óbvia: falar com a tia dela. Não era apenas por egoísmo que queria tê-la de volta, para conversar coisas banais, tomar um chá em um fim de tarde, sentir-me cuidada e amada; não era. Maiara tinha sonhos maiores do que apenas morar em uma cidade do interior.

Minha Maiara seria médica, me encheria ainda mais de orgulho.

"Lembra-se de alguma moça de vestido de renda cor de rosa na minha festa?"

Meu filho era teimoso e astucioso, como o pai. Não tinha ideia se havia conseguido convencê-lo de que não conhecia a "moça do vestido de renda cor de rosa", mas, se ele desconfiasse que menti, começaria a conversar comigo e a me analisar a partir daquele momento. Percebi isso quando ele começou a correr os olhos pelas minhas feições ao fazer as perguntas.

Minha filha de consideração não conhecia o Fernando. O meu rapaz antissocial usava aparelho freio de burro e os muitos anos que passou fora de casa o transformaram por completo. Mas se, de acordo com ele, ela mentiu sobre o nome, ele devia ter mentido o dele também.

Balancei a cabeça, perturbada com o pensamento de que meu filho seduziu a Maiara. Se alguém pudesse sair machucado da história era ela. Eu conhecia meu próprio filho, o coração de pedra.

Apenas não fazia sentido em meus pensamentos que Maiara tivesse feito algo de forma intencional. Ela fugiu por medo e me disse palavras ferinas por medo também, sentimento que eu não gostaria que estivesse em seu coração.

Entrei no quarto que ela antes compartilhava com Nete, que se assustou ao me ver de maneira tão repentina. Respeitava a área reservada aos funcionários e em nenhuma hipótese pisava lá sem aviso. Deixava que tivessem sua privacidade, mas o assunto era importante e não queria que houvesse chance de Fernando escutá-lo.

Filomena: Descobri ontem o motivo pelo qual Maiara fugiu. Ela se relacionou com o meu filho. — Nete levou as mãos a boca. — Você a ajudou fugir?

Sua feição se tornou triste em poucos segundos.

Nete: Mas o que queria que eu fizesse, senhora Filomena?

Filomena: Desse a ela um conselho maduro! Ela precisava apenas conversar comigo!

Se levantou e cruzou os braços embaixo dos seios.

Nete: Me desculpe a pergunta, mas a senhora ia ficar do lado de quem?

Filomena: Nete, não existem lados para escolher.

Nete: Existem, sim. O seu filho a machucou. — Arregalei os olhos impactada por aquela informação, mas logo ela tratou de se explicar: — É... não ele, em si, mas o amigo dele humilhou a Maiara e ele não a defendeu.

Sentei-me na cama de solteiro, que antes era da minha menina, e exigi que Nete me contasse tudo o que sabia. Ouvi com atenção e Diego acabava de entrar na minha lista de pessoas para nunca mais convidar. Sentia vontade de bater na cara daquele garoto apossado de imbecilidade.

Nete também estava preocupada por não ter conseguido contato telefônico com a Maiara, mas a tranquilizei ao informar que conversamos pelo celular da tia dela. Dei-me por satisfeita, pois sabia de tudo, apenas confirmei o que já sentia no coração: ela era boa, tão boa que não queria encarar a ideia de me decepcionar.

Maitê e... Felipe, Nete me contou os nomes. Seria até engraçado se não fosse trágico.

Estava decepcionada, sim, mas com o Fernando. Saiu de casa contrariado, de cara feia, e achou oportuno usar a Maiara para esfriar sua cabeça? Não era mais fácil mirar em mulheres libertinas como ele, disponíveis para transas casuais?

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora