Capítulo 27

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• Fernando Zorzanello •

Minha pergunta fez os olhos da advogada saltarem. Disfarçando, empurrou a mecha de cabelo que antes caía em sua testa, para trás. Maiara se mexeu desconfortável na cadeira e passou as mãos no cabelo, sem se voltar para mim.

Por que ficaram ansiosas?

Isis: Qual a relevância de saber sobre o pai biológico? O que realmente importa era a relação paternal do Nero com o filho da minha cliente.

Fernando: Totalmente relevante, Isis. Entender as circunstâncias familiares é essencial. O pai biológico pode ser uma pessoa mal intencionada e causar prejuízos ao acordo que pretendo fazer.

Maiara: O pai não precisa de dinheiro... — Maiara sussurrou.

Arqueei as sobrancelhas surpreso. Adorei ter aqueles olhos profundos direcionados a mim outra vez.

Fernando: Quem é? No que trabalha?

Maiara: Eu não preciso dizer — respondeu como se eu fosse um imbecil. Eu estava sendo educado e não entendia a recusa. Não tinha culpa alguma se ela escolheu mal o pai do filho dela.

Maiara apoiou suas mãos sobre a mesa por poucos segundos e foi tempo suficiente para eu notar que elas tremiam. Ficar apavorada por ser questionada da paternidade me fazia pensar que ela nem mesmo sabia quem era o pai. Aline insistiu em afirmar que Maiara se prostituía e, ao descobrir que se tratava da minha Maitê, torcia para que não fosse verdade.

Fernando: Não tenho a intenção de ser ofensivo, mas preciso confirmar algo que me foi informado. — Os olhos se expandiram. — A senhorita, além de cuidadora, é trabalhadora do sexo?

Os lábios se entreabriram, o espanto em seu rosto foi um espelho que refletia a sua verdade.

Maiara: Meu Deus! — Girou o tronco para a sua advogada, sentada ao seu lado. — Aquela menina não pode dizer que maltratei o pai dela, não tem nada para falar do meu trabalho, e então tenta me colocar como uma prostituta pra eu parecer uma grande golpista?

Isis: Isso foi longe demais, Fernando — Isis se direcionou para mim, mas eu insistia em observar Maiara. Uma lágrima escorreu do seu olho direito e ela se apressou em secar. Seus lábios curvados para baixo, tristes, tremeram.

Eu costumava ficar feliz ao ver a parte contrária chorar, presenciei tal fato tantas vezes, mas tudo que conseguia sentir era pena. Agonia também, pois não queria que ela chorasse por um questionamento meu.

Natália: Isis, estamos apenas eu, Fernando, a senhora e a sua cliente para que as coisas se esclareçam. Como sabe, estamos fazendo o nosso trabalho. Parte deste trabalho é preencher as lacunas e clarear as circunstâncias — pontuou a minha parceira.

Isis: Se Vossas Senhorias acreditam que o testamento será anulado, todo esse questionamento doloroso é desnecessário. Eu e minha cliente não temos interesse em prosseguir. — E mais uma vez Maiara não parecia concordar com a sua advogada.

Debater com Isis apenas me faria perder tempo, ignorei a forma irônica que se referiu a mim e à Natália e deixei que minha atenção se direcionasse apenas a Maiara. Além de gostar de olhar para ela, pretendia convencê-la do meu ponto.

Fernando: Maiara, tenho uma proposta de acordo que pode te interessar para evitarmos uma peleja judicial. — Sua resposta foi um meneio afirmativo. — A Balta Indústrias está sob o comando de Júlio há muitos anos. A relação de afeto poderia estar balançada, mas eles ainda são os verdadeiros filhos do Nero.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora