Capítulo 17

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• Maiara Pereira •

Dias depois

Não me lembrava da última vez que havia passado tanta maquiagem. Era para ser só um corretivo nas olheiras por conta da insônia, mas então passei um pó, um blush e um batom! Nem de batom eu era fã. Penteei a sobrancelhas com máscara incolor e passei também uma máscara de cílios.

O conjunto glamoroso que Isis me obrigou a comprar? Esse mesmo que vesti.

Depois de decidir que viria conversar com o Fernando, não consegui dormir uma única noite inteira de sono. Portanto, resolvi vir o quanto antes, não era saudável perder noites de sono, ainda mais na minha condição. Incapaz de respirar de maneira natural, puxava o ar a plenos pulmões e expirava pela boca.

Isis pesquisou o endereço de onde ele trabalhava e cada vez que eu olhava no mapa do GPS que indicava que estávamos chegando mais próximo, me agoniava com maior intensidade. Levei as mãos à barriga de maneira protetora, temendo que o bebê dentro de mim estivesse sentindo o mesmo que eu.

Pavor.

Notando o meu nervosismo, Isis, com os seus lindos cabelos encaracolados e pele branca como neve, segurou minha mão, que estava fria a ponto de parecer uma pedra de gelo. Não disse nada, não precisava, por ser mulher me entendia apenas com o olhar.

O que eu diria?

"Oi. Então, lembra de mim? Engravidei naquela noite."

Não, próxima.

"O que vou falar agora vai te chocar, acredite, nem eu mesma acreditei, mas estou grávida."

Também não.

"Fernando, estou grávida e o último cara com quem transei foi você."

Oh, Deus, não.

"Estou grávida e você é o pai, Fernando. Não quero dinheiro, só preciso que você saiba."

Terrível!

Nenhuma maneira que eu pensava parecia ser um bom jeito de revelar. Balançava a perna de forma nervosa, sentada no banco do carona, ao lado de Lucas, o motorista que tentava ser antipático comigo, mas até ele parecia estar com pena de mim.

Quando adentramos no estacionamento subterrâneo do enorme prédio da Zor Associados, eu tive certeza de que seria julgada como alguém que tentou dar o golpe da barriga. Não queria nada, nem pensão, só queria ter a minha consciência tranquila de não ter privado o meu bebê de ter um pai.

Não pude conhecer o meu. Por mais que eu soubesse que ele foi um infame, conhecia na alma a dor de ser uma criança com pai desconhecido. A ausência paterna é algo que deixa marcas profundas para o resto da vida, e eu não queria que meu filho ou filha tivesse que conviver com isso.

Isis passou o braço por meus ombros quando saímos do carro. Deixei que ela me guiasse assim que entramos pela porta deslizante automática. Eram tantos espaços que eu não fazia ideia de para onde ir.

Queria fazer xixi, outra vez, mesmo que eu tivesse acabado de passar em uma loja de conveniência para a décima urina do dia. Estar grávida fazia a minha bexiga enlouquecer, mas o meu nervosismo só intensificava as coisas.

Foco, Maiara, foco.

Voltei a mim quando paramos em um enorme balcão de madeira e mármore, que mais parecia o de um hotel de luxo do que de uma firma de advocacia. Uma moça nos recebeu com simpatia. Percebendo que eu havia perdido a fala, Isis tomou a frente da situação.

Isis: Bom dia. Meu nome é Isis Trancoso e sou advogada. Essa é a minha cliente, Maiara Pereira, e gostaríamos de agendar uma reunião com o Fernando Zorzanello.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora