Capítulo 15

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• Maiara Pereira •

Tentei abrir os olhos, mas uma luz forte os fez arder. Segundos depois de estar de volta ao meu corpo fraco, me lembrei do que havia acontecido comigo. Forcei meus olhos a se abrirem, ainda que eles queimassem, e mesmo com a visão turva, notei uma janela de vidro cheia de grades.

Eu estava no chão, e não havia uma só parte do meu corpo que não doesse. Tentei mover as pernas e senti uma fisgada ardente em uma delas. Com os braços tremendo e músculos latejando, consegui me apoiar para ficar sentada.

Dor, muita dor.

Minha visão ficou mais nítida, mas eu precisava fechar os olhos a cada pontada que sentia na cabeça, a dor latejante quase era capaz de cegar. Meus cotovelos ardidos deviam estar em carne viva depois de terem se chocado contra o asfalto.

Olhei ao redor da sala, com o meu coração enlouquecendo dentro da minha caixa torácica. O lugar era horrível: as paredes acinzentadas em uma grande imundice, a janela cercada de grades, a porta de ferro oxidado. Era óbvio que eu estava muito ferrada.

Apoiei as mãos no chão para me levantar e uma forte tontura fez meu cérebro chacoalhar. Caí em direção à parede, batendo a cabeça no concreto. Nem se eu quisesse conseguiria segurar as minhas lágrimas. Levei minhas mãos sujas a boca para não fazer qualquer barulho, deixando-as encharcadas das lágrimas que escorriam.

Eu me engasguei ao ver uma corrente velha no canto da sala, sentindo aquele cheiro de mofo que exalava das paredes carregadas de bolor. Desesperada, tentei me levantar outra vez, mas desta vez apoiei as mãos nas paredes.

O quarto imundo, fétido e macabro girava diante dos meus olhos, e precisei forçar meu corpo contra a parede para não cair outra vez. Mordi os lábios tão forte, para não fazer nenhum barulho, que o inconfundível gosto ferruginoso se apossou do meu paladar.

Quando minha visão ficou um pouco mais estática, enxerguei uma porta de madeira velha com a pintura verde descascada ao meu lado, sem trinco. Pensei que conseguiria chegar até ela se me arrastasse pela parede, mas senti meu estômago se contorcer e me curvei, vomitando até as tripas.

Expeli apenas água, mas o meu estômago insistia em expulsar algo a mais, mesmo estando vazio. Joguei a cabeça para trás, respirando fundo. Recuei dois passos ao me desequilibrar e apoiei outra vez na parede, tentando alcançar a porta de madeira.

Algo no meu interior gritava que eu deveria tentar sair daquele lugar o mais rápido que conseguisse. Não havia boas intenções em quem me levou para aquele cativeiro. Fechei os olhos e pedi para Deus me dar forças. Ele não podia me abandonar. Quando abri os olhos outra vez, consegui caminhar até a porta de madeira.

Vomitei de novo, saliva pura misturada ao suco gástrico, o que deixou um gosto amargo como o fel, quando abri aquela porta. Uma privada baixa, toda cheia de merda seca, uma pia manchada de sangue fresco, em um banheiro pequeno tão sujo que parecia só ter sido limpo há muitos anos.

Ergui os olhos, tentando segurar a ânsia de vômito, e acima da pia do banheiro havia uma pequena janela quadrada. Ripas de madeira pareciam estar pregadas do lado de fora. Se eu estivesse magra como estava cinco meses atrás, não duvidava que eu conseguiria atravessar aquela pequena janela, mas com o meu corpo mais rechonchudo, tive as minhas dúvidas.

Precisava tentar, não poderia continuar esperando quem me raptou aparecer para terminar o serviço. Um nó se instalou na minha garganta com a hipótese de terem violado o meu corpo. Minhas partes íntimas não doíam e nem ardiam, apenas todo o resto do meu corpo.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora