Mário e Alberto seguem em direção ao local informado por Milena. Era distante, fora da cidade, em uma região de chácaras. Fazia tempo que ambos não passavam tanto tempo juntos. Alberto estava devastado. "O que eles estavam fazendo com Cecília? O que estavam dizendo a ela?" Perguntava-se ele. Às vezes perdia-se em seus pensamentos, às vezes falava algo em voz alta. Mário pôde perceber um sentimento genuíno do primo por sua esposa. "Tudo isso não pode ser fingimento!" Pensava ele. "Alberto ama essa moça de verdade!"
- Puta merda! Quanto tempo ainda falta, Mário? - pergunta Alberto, sem ter noção de quanto tempo já se passara e também sem prestar atenção no navegador do painel do carro, que mostrava o percurso feito pelo carro.
- Não muito. Uns dez minutos - responde Mário. - Não posso te falar pra ficar calmo, eu sei, mas tenta segurar a onda! Só mais dez minutos!
Os celulares não pegavam bem, mas o celular de Mário começa a tocar. É Vitória, a delegada. Como ele está dirigindo, Mário atende a ligação no viva-voz.
- Fala, delegada! - diz ele.
- Aonde você está, Mário? - pergunta ela.
- Eu é que pergunto, aonde você está, Vitória? Cadê a porcaria da polícia? Faz uma vida que eu avisei do sequestro da Cecília! - aborrece-se ele.
- Me fala que você não está indo pro local do cativeiro, Mário! Que merda! Eu falei pra você ir acompanhado da polícia! Custa fazer o que eu te disse pra fazer, caramba! - reclama a moça.
- Você só pode estar de brincadeira! Vocês ainda nem pegaram a estrada e eu já estou chegando lá no local, cacete! - retruca Mário.
- Mário, me diz que você não está levando o esposo dela junto! - questiona Vitória.
- Ele está comigo, sim! Você queria que eu fizesse o quê? Que ficasse esperando? Quando saímos da escola de onde ela foi levada, a polícia não tinha nem conseguido dar com as caras, imagina fora da cidade! Aqueles dois não estão de brincadeira, caralho! A esposa dele está nas mãos de dois psicopatas! - diz Mário para a delegada.
- Olha, Mário, me escuta! Eu entendo! É seu primo, é sua família. Ambos estão bastante comovidos. Por isso mesmo talvez vocês dois não consigam lidar da melhor forma com a situação - explica Vitória, tentando ponderar as palavras, vendo que Mário estava irredutível. - Não adianta fazer justiça com as próprias mãos! Aí vocês é que vão ter problemas com a justiça!
- Justiça? Que justiça? E essa porra de país lá tem justiça? - retruca Mário.
- Pelo menos dá pra vocês dois esperarem do lado de fora até a polícia chegar? Há uma equipe se deslocando até o local, infelizmente existe uma certa burocracia a ser cumprida, mas já estamos a caminho - insiste a delegada.
- Eu não sei, Vitória, não sei se posso te prometer isso. Depende do que a gente vai encontrar por lá - diz Mário.
Alberto está perplexo com aquele diálogo. Mário mostrava-se verdadeiramente preocupado com a vida de Cecília. Mas o que seria esse colóquio que acabara de ouvir? Que loucura era aquela? Mário e a delegada conversavam como se fossem próximos! Que diabos era tudo aquilo? Um dia o cara era amante da desequilibrada da Milena, no outro é amigo da delegada de polícia? O que estava acontecendo? Questionava-se ele.
- Olha, delegada, a ligação está péssima! Eu vou desligar! - diz Mário, encerrando o contato.
- Mário, vem cá, que história é essa? Você tá pegando a delegada? É isso, cara? - Alberto dispara contra o primo.
- Quê? Tá maluco, Alberto? - responde Mário, surpreso.
- Eu te conheço, cara! A minha vida toda! Você tava pegando a bandida, agora tá pegando a policial? - insiste o primo. - Que porra é essa? E a tua mulher, Mário?
- Primeiro, eu não estou pegando delegada nenhuma! Segundo, eu não tenho mais mulher, eu me separei.
- Se separou por causa da maldita da Milena ou por causa da delegada? - questiona.
- Mas que ideia desvairada é essa, Alberto de achar que eu e a Vitória... Quer dizer, que eu e a delegada... Olha, eu já disse que não estou pegando a delegada, caralho! Nem se eu quisesse! Ela me socaria a cara me chutaria as bolas!
- Conversa fiada! Eu conheço a delegada, já estive com ela algumas vezes. Ela é metade do teu tamanho! Não tem essa de socar tua cara, não! Não vem com essa! Essa conversa aí de vocês dois é de quem tem proximidade um com o outro - Alberto estava achando tudo muito estranho. Mário, de repente, do nada, apareceu para ajudá-lo? Tinha que ter alguma coisa por trás daquilo tudo. Mário não era um cara altruísta. Não conseguia confiar completamente no primo.
- Não vem com essa, você, Alberto! Você me aponta como testemunha e provável cúmplice da Milena, mete a minha vida em enrascada, a polícia fica na minha cola, eu tenho que ir prestar depoimento na delegacia, e depois fica aí achando tudo estranho??? Você meteu a minha reputação nessa lama toda e vem com essa alucinação de que eu tô pegando a delegada??? Ora, faça-me o favor!
- Que porra de reputação, o quê? Você lá tem reputação, Mário? Deixa de palhaçada! Você foi parar na delegacia porque tava metido com a bandida da Milena! Se não tivesse teu dedo nessa história, não teria sido intimado a prestar depoimento! - retruca Alberto, aborrecido.
- Olha, Alberto, chega! Chega de bate-boca! A delegada me pediu para ser informante. É isso. Pediu que eu ficasse em contato com a Milena pra ver se ela abria o jogo comigo - explica Mário. - Satisfeito? Aí a Milena foi e mordeu a isca. Me contou pra onde estava levando a Cecília e me pediu que a encontrasse lá, porque ela acha que eu estou do lado dela nessa. Creio que ela não vai fazer nada com a Cecília até que eu chegue lá.
Alberto fica desnorteado. Todo esse tempo e o primo o estava ajudando em segredo? Era mesmo o seu primo Mário quem estava dizendo aquilo? Não podia acreditar.
- Eu estou vendo a sua aflição e seu desespero. Estou vendo que você realmente tem sentimentos pela sua mulher. Então talvez eu estivesse errado em achar que esse seu casamento fosse uma grande encenação - confessa Mário.
- Olha, depois conversamos a esse respeito - retruca Alberto, sem graça. Afinal de contas, o casamento era, sim, de fachada no início. - Uma conversa entre homens adultos, que não vão começar a se estapear, de preferência. Agora tenho que tirar a Cecília das mãos daqueles dois. Eu nem sei se deveria te contar, mas ela está grávida - confessa ele. - As vidas da minha mulher e do meu filho estão nas garras desses desgraçados.
- Grávida??? - exclama Mário. - Puta merda, Alberto! Se a Milena sonhar uma coisa dessas...
- Dirige, Mário! Só dirige! Precisamos chegar lá o mais rápido possível! - pede o primo.
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Casal Por Contrato
ParanormalCecília Petri, uma doce e amável professora do ensino fundamental, se vê repentinamente em apuros financeiros. Ela contrata Alberto Callegari, um conhecido e competente advogado para lhe ajudar a encontrar uma solução. Ele a surpreende com um inusit...