CAPÍTULO 82 - Epifania

205 13 0
                                    

- Separados, Cecília? - Lucas pergunta à irmã, ao telefone, com perplexidade. - E você não nos disse nada?

- Eu precisava de um tempo para assimilar tudo o que aconteceu... - Cecília explica ao irmão. Lucas havia telefonado para convidar Cecília e Alberto para um almoço em família. A irmã não teve alternativa a não ser contar-lhe o que estava acontecendo entre ela e o marido.

- Mas... O que aconteceu, minha irmã? Você e Alberto são o casal mais admirável que eu conheço! Como isso foi acontecer?

- Eu nem sei como começar... - lastima Cecília. - Tem tanta coisa que você não sabe...

- Então é hora de você me contar - conclui Lucas. - Vamos , Cecília, me fala tudo. O que é que eu não sei?

- Tudo começou quando a Laura adoeceu...

- A Laura? Como assim? - indaga Lucas, atordoado. - O que a Laura tem a ver com tudo isso?

- O plano de saúde havia se negado a cobrir a cirurgia dela, e o tempo era nosso inimigo. Então, tomei uma decisão talvez insensata. Mas no momento, foi a única solução que me ocorreu...

- Cecília! O que foi que você fez, pelo amor de Deus! - exclama o irmão, aturdido.

- Eu procurei um agiota - confessa ela.

***

Mário chega em um shopping center bastante popular na cidade. Iria almoçar e depois resolver algumas pendências. Não voltaria mais ao trabalho naquele dia. Ele almoça sozinho, está entretido com seu celular. De repente, ele vê dois meninos brincando ali perto e reconhece os filhos de sua prima Karen. Ele fica olhando os dois brincando, animados. Lembra-se de sua infância. Como não tivera irmãos, Alberto e Karen era o mais próximo que tivera disso. Eram bastante próximos na infância, até pelo fato de sua mãe jamais ter se casado, o tio Antônio, pai de Karen e Alberto, cuidava e dava assistência à sua irmã, mãe de Mário, sempre que ela precisava. Tornou-se uma espécie de pai para ela. Ao longo da vida, Mário acabou por desenvolver uma enorme antipatia pelo tio e seus filhos. Ele sentia como se fosse uma espécie de esmola que ele e a mãe estivessem recebendo do tio Antônio. Acabou por afastar-se da família.

Por alguns instantes, sorriu aos ver os meninos brincando. "Como estavam crescidos!" Pensou. A última vez que estivera com os familiares fora por ocasião do noivado do primo. Os dois saíram aos murros, pareciam dois adolescentes. Mário lembra-se do baita porre que tomara. Acabou nem sendo convidado para o casamento. Na verdade, não fazia a mínima questão de ir. Karen ainda estava lá na praça de alimentação. Parecia não tê-lo visto. Também, por alguns instantes, sentiu saudades de sua infância na companhia dos primos. Sentiu saudades de quando era livre de recalques e sentimentos de inferioridade, tudo o que ele queria era encontrar os primos no fim de semana. Nas férias, sempre viajavam juntos. Naquele momento, Mário percebeu que tivera uma infância feliz e jamais se dera conta. Deixara que o pedantismo, a mágoa e o sentimento de rejeição tomassem conta dele. Apesar de não ter vivido uma infância abastada, a mãe e também o pai biológico, com quem nunca quisera aproximação, não lhe deixaram faltar nada.

***

- Como é que é, Alberto? Vocês transaram no sábado e depois a Cecília te deu o toco? - pergunta Caio, embasbacado. Os dois estavam almoçando em um restaurante nas proximidades do escritório.

- É isso - confirma o sócio.

- Eu não estou acreditando, cara!

- Imagina eu! Quebrei a cara, lindamente! - confessa Alberto.

- E você ligou pra ela? - questiona Caio.

- Pra ela não me atender? Pra eu ficar ainda mais frustrado? De jeito nenhum! - diz Alberto. - Eu estou me sentindo, sei lá, usado!

Casal Por Contrato Onde histórias criam vida. Descubra agora