Alberto está em seu escritório. É sexta-feira. Há quase uma semana se dera o incidente com a tal mulher misteriosa. Havia combinado com Caio que no fim de semana iriam verificar as câmeras, assim que os empregados saírem para a folga. Não sabia como tinha sobrevivido até ali. Não tinha vontade de nada. Nem comer, nem dormir. Estava indo ao trabalho porque ocupar-se do seu ofício o fazia pensar em outra coisa que não fosse Cecília. Ele pega o porta-retratos que está sobre a mesa. Cecília havia escolhido aquela foto. Estava linda. Como ele sentia sua falta!
Os empregados, à excessão de Marta, haviam questionado a ausência de Cecília. Alberto dissera que os dois haviam se desentendido e que ela havia ido para a casa de Elisa. Todos ficaram muito tristes com a notícia. Tentavam a todo custo animar o patrão, que estava visivelmente abatido com a ausência da esposa. Diziam que era coisa de casal, que desentendimentos aconteciam, e que uma hora eles haveriam de fazer as pazes e Cecília estaria de volta. Eles nem sonhavam com a gravidade do ocorrido. Voltar para casa era a parte mais difícil do dia para Alberto. A casa sem Cecília não tinha vida, não tinha alegria, não tinha nada, a não ser um terrível vazio.
Cecília passara uma tarefa para seus alunos. Estavam todos sentados, ocupados com a atividade. Ela senta em sua mesa e seus olhos se enchem de lágrimas, tenta disfarçar, para que as crianças não percebam sua tristeza. Apesar de tentar ao máximo não deixar transparecer sua melancolia, estava despedaçada por dentro, era difícil não deixar exterioriza-se todo o desalento que sentia. Alberto havia tentado falar com ela mais algumas vezes, mas ela não atendera às ligações e bloqueara suas mensagens. Falar com ele sem chorar seria muito difícil. E ela não queria que ele a ouvisse chorar por causa dele enquanto conversassem. Não iria dar a ele esse gosto. "Por que ele fez isso?" Mais uma vez pergunta-se ela. Estava muito abalada. Ele fora o único homem por quem ela havia realmente se apaixonado na vida. Mais do que isso, ela o amava. E ninguém deixa de amar do dia para a noite. O amor por ele, misturado com a descomunal decepção que sentia, a estavam mortificando. Por vezes teve vontade de atender o celular, mas conseguiu conter-se. Ainda não estava preparada para olhar em seus olhos. A imagem daquela mulher, despida, abraçada a ele não saía de seu pensamento. E toda vez que lembrava disso, queria chorar copiosamente. Mas se ela sobreviveu a coisas piores, haveria de sobreviver àquela terrível amargura, pensava ela.
Cecília havia deixado o apartamento de Elisa, havia voltado para seu antigo apartamento. Apesar de ter levado boa parte de seus pertences para a casa de Alberto, ainda havia coisas suas por lá. E, ainda que não tivesse nada, que tudo tivesse ficado na mansão, voltar àquela casa estava fora de cogitação. Imaginava o gosto de vitória que a governanta devia estar sentindo ao ouvir sobre a traição de Alberto. Marta sempre a detestara.
O tempo para os dois parecia arrastar-se. Cada minuto afastados um do outro lhes doía na alma. Lembravam de tudo o que passaram para ficarem juntos, e, de repente, tudo desmoronou assim, como um castelo de cartas, era lamentável. Ainda não tinham comunicado o ocorrido a suas respectivas famílias. Nem sabiam direito o que diriam. Como explicar? "Tanto amor jogado no lixo", pensava Cecília. Apenas Caio e Elisa sabiam do que havia acontecido.
Chega a hora do almoço, Elisa vai até a sala de Cecília esperar por ela, como de costume. As duas saem juntas, conversando. O semblante de Cecília parece bastante triste. Não há como ser diferente. O olhar, da mesma forma, aparenta tristeza. O sorriso, quase sempre habitual, não aparecia. As duas estavam sérias. Caminhavam lado a lado, conversando, mas não estavam sorridentes como costumavam ser.
Ao longe, sem ser notado, Alberto as observa de dentro do seu carro. A falta que sentia de Cecília chegava a doer. Ainda não havia chorado nem demonstrado toda sua dor, mas naquele momento, ao vê-la novamente, após dias separados, sentiu as lágrimas escorrerem por sua face. Até então havia estado anestesiado, ver Cecília longe do seu alcance, longe do seu toque e da sua proteção, despeçava-lhe o coração. Saber que aquele desgraçado do Nathan estava na rua e ela estava distante de sua proteção, causava-lhe demasiado temor. Ele escuta o telefone tocar. Tenta se recompor rapidamente antes de atendê-lo.
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Casal Por Contrato
ParanormalCecília Petri, uma doce e amável professora do ensino fundamental, se vê repentinamente em apuros financeiros. Ela contrata Alberto Callegari, um conhecido e competente advogado para lhe ajudar a encontrar uma solução. Ele a surpreende com um inusit...