IRMÃ

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MINHO

Nem tudo eram flores e maravilhas.

A sexta-feira chegou e com ela, o jantar com a família do meu pai.

Não era que eu não gostasse deles, pois os havia conhecido na semana passada, só que ainda me sentia estranho no mesmo lugar que eles.

Porém, não tinha como evitar aquele encontro. Na manhã, antes de ir para a aula, meu pai já estava me mandando mensagem, querendo confirmar a minha presença e deixando bem claro que não aceitava um não.

Sem escolhas, me preparei mentalmente o dia todo para essa noite, ignorando durante cada hora dessa sexta- feira, minha mãe me ligando. Eu não queria atendê-la, mas também não tinha coragem de simplesmente bloqueá-la.

Ela provavelmente havia notado que minha mensalidade estava pago e que o apartamento que alugava estava no nome do meu pai agora, e deveria estar surtando com esses últimos acontecimentos.

Para esta noite, havia desligado o telefone, porque realmente não queria ser incomodado por ela.

Olhei para a sacola em minha mão e me perguntei o que estava fazendo da minha vida. Eu, geralmente, não era assim.

No caminho até a casa do meu pai, havia passado na frente de uma loja de brinquedos e ao invés de seguir o caminho, sem me importar com aquele estabelecimento, fiz o retorno mais próximo e estacionei em frente a ele.

Acabei comprando uma boneca Barbie para Ariane, uma bem diferente das que ela tinha na sua coleção. Essa era de uma nova coleção chamada Barbie Fashionista, negra e com cadeira de rodas.

Esperava que ela gostasse.

-Você chegou -Lee disse, ao abrir a porta gigante da sua casa. - Como está, filho?

Sem que eu esperasse, ele me puxou para um abraço, que acabou ficando todo desajeitado, porque não soube como reagir ao afeto. Não podia reclamar que meu pai não estava tentando passar uma borracha em tudo o que havia acontecido com a gente no passado, assim como não podia mentir que não era estranho ter a ele me chamando de filho, quando não ouvia isso há um bom tempo.

-Bem - respondi, assim que ele me soltou.- E você?

-Achei que não viria, mas você está aqui - constatou. -Estou feliz com isso.

Ariane surgiu no topo da escada e desceu os degraus correndo.

-Meu Deus, filha! -Meu pai exclamou e em seguida, usou suas mãos para sinalizar: Já falei para você tomar cuidado nas escadas.

-Eu sei me cuidar, pai -ela sinalizou com suas mãos e me olhou, ou melhor, olhou diretamente para a sacola em minha mão. — Isso é um presente?

Sorri para ela e assenti.

Meu pai a cutucou, para chamar sua atenção, e disse:

-O que já falei sobre ficar cuidando o que as pessoas trazem para a nossa casa? Nem sempre é um presente.

Ari fez um beicinho fofo com os lábios. - Mas o Minho disse que é.

Antes que ela tivesse uma crise de choro - porque eu nunca entendia como uma criança podia chorar do nada por absolutamente qualquer coisa -, balancei a sacola na sua frente.

Ela a segurou  quase que imediatamente.

-É para você.

Ariane não escondeu o sorriso e me olhou com os olhos cheios de agradecimento.

Ela foi para o meio da sala, enquanto eu entrava na casa. A primeira coisa que senti foi o cheiro gostoso que vinha da cozinha, tinha um aroma tão familiar, que mesmo não sentindo há muitos anos, consegui reconhecer.

𝐎 𝐒𝐈𝐋𝐄𝐍𝐂𝐈𝐎 𝐃𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora