OBRIGADO

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MINHO

Aurora foi responsável por dirigir no caminho de volta até Seul. Meu pai insistiu em ficar ao meu lado no banco de trás, segurando a minha mão, enquanto eu tinha uma crise existencial do meu papel como filho.

A viagem até a casa deles foi em um completo silêncio, apenas comigo tentando controlar as minhas lágrimas, para poder chorar sozinho no meu apartamento mais tarde.

Estava segurando isso há muito tempo.

As palavras da minha mãe ressoavam em minha cabeça, não diminuindo a tristeza que eu sentia. Por que ela havia dito aquilo? Por que estava magoada comigo, quando fez da minha vida um inferno? Por que eu me sentia a pior pessoa do mundo por estar aqui com meu pai, e não a consolando?

- Filho, chegamos. - Lee apertou minha mão, e eu prestei atenção ao redor de nós.

-Por que estamos na sua casa? Achei que vocês me largariam no apartamento.

Aurora se virou para nós e tocou meu joelho.

-Não vamos deixar você sozinho essa noite -informou ela. - Vou fazer um chá para você se acalmar um pouquinho, ok?

A lembrança de quando minha mãe a chamava de inúmeras palavras feias, inclusive de bruxa, veio à minha cabeça, e foi o suficiente para um soluço sair da minha boca, ao mesmo tempo que eu deixava as lágrimas caírem pelo meu rosto, sem controle algum para interrompê-las.

Aurora estava longe de ser uma bruxa.

Meu pai me abraçou forte, e eu caí com a cabeça em seu ombro, sendo muito bem amparado por ele.

-Vamos para dentro e lá conversamos com chá e pipoca. Você deve estar com fome. -Eu neguei.

Tudo o que eu não sentia era fome nesse momento.

Meu pai abriu a porta do carro, e eu saí ainda abraçado a ele. Caminhamos juntos até estarmos dentro da sua casa, em frente ao seu grande e confortável sofá. Ouvi o som da porta sendo fechada, da chave do carro sendo largada em algum lugar sólido e de passos se afastando, enquanto era sentado no sofá com meu pai, ainda em meio às lágrimas.

-Tem segurado essa dor por muito tempo, querido -Ele alisou os fios do meu cabelo e deitou minha cabeça em seu ombro.- Quer conversar?

Não consegui responder, porque era impossível formular uma frase no estado em que eu estava. Afundei meu rosto em seu peito e me encolhi no sofá, sentindo minha cabeça pesar com tantos pensamentos e perguntas, que só me deixavam pior.

Por que ela tinha que aparecer e estragar tudo?

Por que eu ainda derramava lágrimas por aquela mulher?

E por que ainda me importava?

Quando fechei aquela porta de hotel há dois meses em Paris, pensei que estava me livrando de tudo, e aquilo durou por um pouco mais de um mês inteiro, mas estava cobrando o preço agora, com aquele embate curto e tenso que tivemos.

Ela me queria de volta, e eu podia me ajoelhar aqui mesmo nessa sala, prometendo que voltaria, se ela fosse uma mãe de verdade para mim.

Quem trocou suas fraldas?

Quem cuidou de você por todo esse tempo?

Quem deu comida para você?

Quem o educou?

Quem trabalhou a noite toda para poder dar uma boa vida para você?

Suas perguntas vinham com mais questionamentos na minha cabeça e só serviam para me deixar pior.

𝐎 𝐒𝐈𝐋𝐄𝐍𝐂𝐈𝐎 𝐃𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora