CONFORTO

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MINHO

-Meu próximo jogo é na terça, você vai, né? -busquei a confirmação de hyunjin, levando um pouco do macarrão que fiz de última hora à boca.

Até que havia ficado gostoso para alguém que mal sabia fritar um ovo direito.

Ele assentiu, e não escondi o meu sorriso por ter conseguido o seu sim com mais facilidade dessa vez.

-Sua mãe vai estar?

Estremeci com sua pergunta.

Dificilmente eu pensava naquela mulher, nas raras vezes em que acontecia, era quando perguntavam sobre ela. Achava difícil julie aparecer, depois do vexame que havia causado no último jogo.

Ela deveria estar furiosa com tudo saindo do seu controle, e mesmo que estivesse mais tranquila longe dela, seu silêncio ainda era um pouco perturbador para mim.

Provavelmente não respondi sua dúvida, bebendo um gole de suco.

-Por que continua no time se não gosta?

Alguém estava muito curioso hoje. Tudo bem, eu gostava dessa versão.

-Quem disse que eu não gosto? Meu único problema é com minha mãe, que sempre foi uma vadia obcecada por ganhar. -Não tive problemas em ofendê- la. -Ela sempre quis ser jogadora de vôlei profissional, mas nunca teve êxito na carreira e acabou jogando todos os seus sonhos frustrados em mim. Acontece que durante todos esses anos, o esporte esteve comigo, sabe? Ele e eu criamos uma conexão, apesar de não querer trabalhar com isso no futuro.

-Conexão? -Pareceu não entender.

-Imagine como um escape, por mais irônico que seja eu ter um refúgio onde era mais cobrado.

-Acho que consigo entender -sinalizou, enquanto mastigava sua comida.-Por que não convida seu pai para o jogo?

-Por que eu convidaria?

Ele deu de ombros.

- Disse que ainda fica desconfortável perto dele, e isso deve se dar devido ao tempo que estão longe um do outro. Criar relações é importante, sabia? E se quiser que ele seja mais próximo de você, é bom deixá-lo entrar.

Sorri de lado.

-Não conhecia esse seu lado conselheiro, gostei.

Ele devolveu o sorriso, um pouco envergonhado.

-A verdade é que não sei se preciso de um pai - admiti e ao perceber que estava sendo hipócrita, consertei: Digo, além do dinheiro dele, sabe? Tirando essa parte financeira, que sempre tive que depender deles, sempre estive sozinho. Talvez tenha sido isso que me fez tão amargurado com a vida.

Ri baixinho do meu próprio histórico, comendo mais do meu macarrão.

-Não sente falta? Sabe... se eu pudesse ter meu pai de volta, não tenho dúvidas de que o escolheria, ao invés da minha voz.

Sua confissão me deixou um pouquinho surpreso, porque sabia o quanto a mudez afetava o hyunjin de hoje. Ele parecia odiá-la, mas o amor pelo seu pai era muito maior, e era isso que ele me mostrava agora.

-Como foi o acidente ? Eu só sei que sofreu um, por causa de chan. -Preferi não responder à sua pergunta, pois não sabia a resposta.

Sua feição mudou com o meu questionamento para uma mais triste, e eu tratei de complementar:

- Não precisa me falar se não quiser.

-Não é nada tão misterioso assim, mas é uma lembrança que eu gostaria de esquecer -admitiu, desviando os olhos para o prato quase vazio na sua frente. -Eu tinha nove anos, e era aniversário do meu amigo, era de noite, e meu pai foi me buscar com Seungmin. Na volta começou a chover muito, e ele parou no acostamento para esperar a chuva acalmar. Meu pai sempre foi cauteloso, sabe? -hyunjin parecia um pouco perdido nas lembranças. - Quando o tempo acalmou, nós voltamos a andar, e um bêbado acabou vindo em nossa direção, nos derrubando para fora da estrada. Eu estava sem cinto e acabei atravessando o vidro, fiquei preso entre os cacos, enquanto meu pai... Eu nem consigo me lembrar o que aconteceu com ele, porque fui levado para o hospital desacordado.

𝐎 𝐒𝐈𝐋𝐄𝐍𝐂𝐈𝐎 𝐃𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora