Tentativas

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As memórias voltam de uma vez só, me atingindo e deixando meus joelhos fracos. Ele suspira, seus dedos trilham um carinho reconfortante no meio das minhas costas, para baixo e para cima delicadamente. Nós discutimos naquela noite e eu duvidei de seu sentimento que já não parecia tão improvável enquanto ele me abraçava em meio aquela nevasca.

– Então você lembra. – Ele afirma, surpreso, sem romper nosso contato e eu apenas assinto com a cabeça. – Tudo que eu disse é verdade. Eu realmente sinto tudo isso por você. – Ele continua e me encolho, escondendo o nariz gelado em seu ombro.

– Eu acredito. – Afirmo e ele parece surpreso, então explico. – Acredito que você ache que está apaixonado por mim porque eu estou te ajudando e porque pode ser confuso quando temos que nos beijar e ficar juntos o tempo inteiro. – Tento justificar e ele nega com a cabeça.

Agradeço mentalmente por não estarmos nos encarando, seus olhos perdidos sempre me confundem e não há espaço para dúvidas nessa conversa.

– Não Rach, eu sei o que estou sentindo. Sei o que sempre senti. – Ele explica e afasta nossos rostos para encarar meus olhos, mas nossos corpos permanecem colados como se fossem imãs se atraindo.

– Mas sua forma de demonstrar isso me afasta e eu não consigo achar nenhuma forma de confiar em você o suficiente pra conseguir retribuir. – Explico e meu corpo estremece.

O frio lá fora era vencido aos poucos, mas a sensação de ansiedade que essa conversa causa traz o inverno para o meu estômago e tento não ser hipnotizada pelos olhos de Jay que pareciam estar cheios de esperança.

– Você podia ao menos me deixar tentar. Eu sei que fui um babaca com você durante anos, mas você tem que admitir que também não é uma pessoa fácil. – Ele argumenta e eu nego com a cabeça.

– Justamente, como podemos sequer pensar em sentimentos quando não conseguimos conviver um dia sem discussões? Somos como fogo e gasolina Jay, uma combinação explosiva que pode destruir tudo que estamos construindo. – Explico e meus olhos se enchem d’água. – Precisamos um do outro e isso está claro. Nem sei o que teria acontecido comigo se você não tivesse chegado para me ajudar. Mas sei que não fomos feito um para o outro e eu prefiro ter você como amigo do que investir em um possível relacionamento que está destinado a fracassar. – Gesticulo, me afastando e conforme meu rosto começa a arder meu corpo se aquece. – Eu quero te ajudar, quero que se forme e viva sua vida e quero ser sua amiga se você quiser, mas pra isso você precisa entender que isso que você está sentindo agora é passageiro. Daqui a pouco você vai estar de saco cheio de mim. – Dou uma risada nervosa, mas ele não retribui.

– Como você pode ter tanta certeza que é passageiro? – Sua voz falha e seus olhos amendoados se enchem d’água partindo meu coração. – Como pode invalidar meus sentimentos quando eu enfrentei uma nevasca pra estar com você? Como você pode ser tão teimosa Rachel? – Ele questiona e tenta se afastar, caminhando até a porta.

– Onde você pensa que vai? – Questiono puxando seu braço e ele suspira.

– Bem está claro que eu vim aqui a toa pois a garota por quem eu enfrento uma nevasca está me dizendo que eu tenho que esquecer meus sentimentos. – Ele resmunga e enxuga uma lágrima antes que ela role por seu rosto.

– Não! Não estou te mandando embora Jay, só quero que você perceba que ninguém se apaixona assim. Você nem me conhece direito. Até o mês passado tudo que eu sabia sobre você, era o quanto eu queria que você rolasse escada abaixo toda vez que nossos caminhos se cruzavam. – Dou risada por lembrar quantas vezes desejei isso. – Você está confuso porque é a primeira vez que você está em um relacionamento, mesmo que seja de mentira. Na primeira garota que você ficar quando isso acabar você volta ao normal! – Afirmo e ele concorda com a cabeça, mas posso vê-lo travando a mandíbula.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora