Ego

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Eu não podia explicar algo que ia além da minha própria compreensão. Por mais que parte de mim quisesse tentar, eu sabia que não podia correr riscos. Minha cabeça estava lutando contra o meu coração, mas eu prometi nunca deixar minhas emoções ganharem e eu não quebraria minha própria regra por ele.

– Porque jamais dariamos certo. – Explico e ela nega com a cabeça.

– Não acho que seja simples assim. Não é fácil resistir ao Jay e eu sei bem disso, então acho que tem algum outro motivo por trás de tudo isso. – Ela afirma e eu desvio o olhar.

Ela estava certa, tinha um motivo, mas eu não iria falar sobre isso com ela.

– Claro que tem um motivo. Eu não suporto aquele garoto. Ele me irrita, me atrapalha e me deixa louca de uma forma que eu nunca estive antes. – Afirmo, exasperada e ela ergue uma sobrancelha.

– Se nunca se sentiu assim antes, como sabe que isso não é amor? – Ela pergunta e pela segunda vez no dia, não tenho uma resposta.

Depois de comermos eu lavo a louça, ainda tentando entender as atitudes do Jay, enquanto a Lexie resmungava sobre o Jimin. Voltamos para o sofá e só percebi que não me livraria dela tão fácil quando depois de tentar fazer uma lista dos motivos pelos quais ela estava certa e o Jimin errado, que estava vazia, ela finalmente adormeceu.

Acabei deixando ela dormir na cama comigo e percebi que ela realmente tinha se tornado minha primeira amiga. No fim das contas a visita da Lexie foi boa para que eu não me sentisse sozinha e depois dela ter falado tanto, eu estava cansada e adormeci. Não tenho o costume de sonhar, mas os pesadelos me visitavam vez ou outra.

Dessa vez eu estava trancada no antigo trailer em que vivia com minha mãe. Um dos namorados dela tinha me trancado lá para que eu não visse o escândalo que minha mãe estava fazendo por ciúmes, mas eu ainda podia ouvir os gritos dela, por mais que eu tapasse os ouvidos.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu gritava em desespero. – Mamãe! – Eu chamava sem sucesso e o desespero me fazia perder o ar.

Quando acordo, a Lexie está me sacudindo, assustada e ao ver seus olhos castanhos no meio daquele quarto escuro desabo em um choro que evito diariamente. Esse é um lado do meu passado que tento não revisitar. São lembranças que tento reprimir a todo momento, mas que ainda me afetam.

Eu assistia minha mãe morrendo de amor diariamente. Se entregando a paixões passageiras que levavam partes dela que eu nunca mereci. Sempre sonhei em receber dela um por cento do amor que era dedicado aqueles homens que a tratavam como lixo. Eu prometi a mim mesma que nunca me apaixonaria daquela forma, pois não havia nada que eu abominava mais do que abrir mão de mim mesma por alguém e acho que é isso que me faz correr do Jay.
O medo de enlouquecer de tanto amor. De transbordar esse sentimento e deixar que ele me consuma de tal maneira que eu não consiga achar o caminho de volta. De me perder na dança das labaredas que incendiavam meu corpo e coração quando ele estava por perto. O Jay é tudo do que eu prometi correr. É a personalização de todos os meus medos e ao mesmo tempo é o único que já me fez sentir segura.

Para mim o amor sempre foi como uma prisão. Um jogo de azar em que você entrava em um labirinto com os olhos vendados e entregava a alguém uma faca esperando que ela não te apunhalasse. Sempre encarei qualquer pessoa que se aproximasse como um inimigo e consegui manter meu coração intacto, até agora.

A falta de ar faz com que minha garganta se feche e a Lexie me encarava com os olhos arregalados, visivelmente desesperada.  – Rachel? O que está acontecendo? O quê eu faço? Vou ligar pro Jay! – Ela afirmou tentando levantar da cama e eu a puxei de volta, negando com a cabeça.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora