Medo

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Todos na sala de jantar pareceram se calar. O Jay estava assustado e senti isso pela forma urgente com que ele buscou minha mão por baixo da mesa, a segurando como se isso garantisse minha segurança. O tempo pareceu ter parado por alguns instantes enquanto todos me encaravam. Eles esperavam que eu tremesse de medo? Que eu me escondesse debaixo da mesa e só saísse quando ele estivesse preso? Bem, eu não faria isso. Não sou o tipo de garota que para minha vida quando algo ruim acontece porque a verdade é que elas sempre acontecem, esteja você preparada para elas ou não.

Dei de ombros e bebi da xícara de porcelana a minha frente, distraindo minha mente ao pensar quanto aqueles pratos e talheres deveriam custar e me lembrei que tinha que pedir a matéria que perdi ontem a algum aluno. Ouvi a campainha e todos pularam como se o suspeito estivesse á espreita e fosse invadir a residência dos Park a qualquer momento e dei risada.

– Calma gente, criminosos não usam a campainha. Se ele for mesmo um criminoso vingativo como vocês acreditam que ele é, com certeza vai querer me pegar quando eu estiver sozinha em algum momento de distração. – Expliquei calmamente e todos me encararam como se eu fosse louca.

– Você acha que isso é algum tipo de brincadeira menina? – O senhor Park perguntou, irritado e eu dei de ombros.

– Não. Eu sei o quanto tudo isso é sério. Minha casa foi incendiada e estou de favor na casa de um homem que me odeia e que eu nem sei quando vai se irritar e me dizer para ir embora, mas eu não vou viver minha vida com medo de que tragédia pode acontecer a seguir. Vivi grande parte da minha vida assim e não posso mais fazer isso. – Explico e minha voz falha quando penso no meu passado.

Quando eu era criança, sempre temia o dia seguinte pensando qual seria o próximo problema que minha mãe causaria. Eu não podia voltar a viver assim, mas não queria explicar a todos que me encaravam, pois nem ao menos sei algum deles entenderiam.

– Se ele estiver determinado a vir atrás de mim, não importa o quanto eu me esconda, em algum momento ele me achará, então vou apenas seguir em frente. – Explico e quando ninguém se levanta para atender a porta, encaro a saída pensando se deveria fazer isso, afinal de contas se fosse um doido com uma arma, ao menos ninguém mais seria atingido, como aconteceu no prédio.

A vida de várias pessoas foram prejudicadas porque esse doido queria me afetar e eu não queria que isso acontecesse novamente. Tentei me levantar, mas o Jay me puxou e foi até a porta assumindo uma postura defensiva de quem estava pronto para entrar em uma briga. Me levantei preocupada, indo atrás dele, mas quando ele abriu a porta com tanta força que pude sentir o vento que o movimento gerou, vimos que era apenas o motorista da limousine do pai do Jay que estava segurando alguns pacotes e suspirei, soltando todo o ar em meus pulmões sem perceber que estava segurando o fôlego.

– Suas roupas chegaram. – O Jay explicou quando seus olhos focaram na embalagem e eu concordei, me aproximando do motorista para ajudá-lo ao notar que as embalagens estavam quase caindo.

– Que bom, pensei que teria que ir para a faculdade com suas roupas. – Comentei, aliviada e o Jay estreitou os olhos enquanto eu colocava as embalagens na escada para que eu levasse quando subisse.

Estava bagunçando uma casa que nem era minha e por algum motivo, me sentia à vontade para fazer isso.

– E quem disse que você vai à faculdade? – O Jay perguntou, irritado e eu dei de ombros.

– Eu estou dizendo. Você não ouviu? Talvez precise lavar os ouvidos. – Provoquei e percebi que ele não estava achando a menor graça nas minhas palavras.

– Rachel, você ouviu meu pai ontem, nós não vamos a lugar nenhum até esse cara ser preso. Já está decidido. – O Jay afirmou como se essa fosse sua última palavra e revirei os olhos.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora