Conforto

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O silêncio que pairou no ambiente quando aquela acusação foi feita, não demorou a ser quebrado e devo confessar que senti um certo alívio ao ver o desespero no olhar do meu pai. Eu o conhecia bem o suficiente, para entender cada uma de suas reações e aquela certamente era genuína.

– Vocês estão loucos? Por acaso acham que eu faria algo assim? – Ele perguntou, indignado e minha mãe negou com a cabeça, afastando esse pensamento antes de voltar seu olhar para Rachel.

– Não, eu não acho, eu tenho certeza! – A ruiva insistiu e a essa altura, eu já estava tendo que contê-la pois tive a impressão de que se a soltasse, não sobraria muito do meu pai. Ela estava furiosa, seus dentes brancos expostos como de uma onça e certamente ela o atacaria como uma se tivesse a oportunidade. – O senhor sabe quantas vidas colocou em risco por causa do seu capricho? Sabe o que fez com a Senhora Wiston? Você destruiu o único patrimônio de uma pobre viúva! – Ela acusou e ele se apoiou no portal da sala de jantar, negando com a cabeça.

– E por quê você tem tanta certeza de que fui eu? Aquele prédio já estava caindo aos pedaços. – Ele se defendeu e isso só a deixou ainda mais irritada.

– Porque? Por um acaso o senhor se esqueceu que me ameaçou essa tarde? Disse que eu estava brincando com o fogo e que deveria ter cuidado para não me queimar. – Ela conta e ele arregala os olhos engolindo seco.

– Bem, você também me ameaçou! Esqueceu? Você disse que se eu não quisesse ter a minha caneta atravessada na minha garganta deveria guardá-la, então se eu saísse de lá e morresse engasgado com a caneta seria culpa sua? – Ele questionou e ela deu uma risada, carregada de ódio.

– Não, porque não era lá que eu queria mandar você enfiar aquela caneta! – Ela retrucou e pude ver a irritação evidente no olhar antes defensivo do mais velho.

– Tá vendo porque não quero ela com o nosso filho? Olha as coisas que essa menina fala! – Meu pai disse, apontando para a Rachel que não parecia nem um pouco arrependida e minha mãe fechou os olhos massageando as próprias têmporas.

– Se o senhor está espantado com as coisas que eu digo é porque nem imagina as coisas que eu estou pensando de você seu velho rabugento! – Ela diz, decidida e me irrito.

– Chega! Trocar ofensas não vai adiantar nada! – Digo em um tom mais alto e todos me encaram assustados. – Pai, eu preciso que o senhor olhe nos meus olhos e diga que não fez isso. — Exijo, encarando o mais velho e ele suspira se aproximando de mim.

– Eu não fiz isso. Jamais faria algo assim. Eu ofereci sim dinheiro para que ela se afastasse, como fiz com a mulher que levou o Jehan embora, não queria que acontecesse o mesmo com você, mas não iria assim tão longe! – Ele afirmou, sem desviar o olhar e com uma voz firme que ele sempre usava quando fechava um negócio.

Passei alguns segundos o observando e ao buscar uma sentença nos olhos da minha mãe que também parecia estar o analisando, entendi que ela chegou à mesma conclusão que eu e suspirei aliviado.

– Rach, ele está dizendo a verdade! – Concluo e ela nega com a cabeça olhando para cima na tentativa de conter as lágrimas.

– Claro que estou! Eu não faria algo assim, como disse o prédio estava muito velho. – Ele explicou, mas a Rachel o interrompeu.

– Eu sei que foi ele, eu vi o seu capanga lá! – Explico e o mais velho se aproxima, curioso.

– Capanga, do que está falando? – Ele perguntou e a Rachel o encarou, hesitando por um momento antes de relatar.

– Eu vi um homem todo de preto com um boné que tinha o símbolo de uma águia dentro de um losango, ele estava segurando um galão vazio de gasolina. – Ela explicou e depois acusou. – Não duvido nada que esse seja o símbolo da sua empresa! – Ela diz o encarando e ele caminha até a mesa próximo a porta onde deixávamos nossas chaves e carteiras.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora