Oportunidades

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A volta pra casa foi silenciosa, perguntas demais vagavam pela minha mente, elas pareciam gritar por respostas que eu nem ao menos sabia se algum dia teria. Como é possível que durante todo esse tempo ninguém tenha percebido nada? Será que a Viola sabia de alguma coisa? Ela fazia parte de algum esquema sinistro com o objetivo de deixar minha mãe louca? O Jayden não dizia nada. Na verdade, desde que o doutor confirmou que minha mãe ficaria lúcida, ele parecia tão chocado quanto eu.

A vida me golpeava incessantemente sem dar tempo para que eu ao menos respirasse, mas eu já estava acostumada. Minha vida é assim desde que me entendo por gente, mas para ele tudo isso era novidade e eu me perguntava quando ele perceberia que estava sendo golpeado junto comigo, se cansaria e diria que não vale a pena. Porque eu sabia que não valia. Ele podia ter quem quisesse então porque perder tempo com alguém que só trazia problemas? Ele inspirou profundamente e esperei que ele dissesse “Essa foi a gota d'água! Não aguento mais lidar com seus problemas! Você não vale tudo isso!”, mas ele apenas colocou a mão sob a minha perna oferecendo apoio como se quisesse me lembrar que ele estava ali e a verdade é que eu não sei o que faria se ele não estivesse.

– São boas noticias, certo? – O Jayden perguntou, com um sorriso esperançoso em seu rosto perfeitamente simétrico.

Eu não sabia como responder essa pergunta, ainda estava processando toda a informação que foi jogada sobre mim, então apenas suspirei concordando com a cabeça e voltei a encarar a paisagem que passava pela janela do carro rápido demais para que eu conseguisse focar em qualquer coisa.

– Ainda quer passar no shopping para comprar o celular, ou prefere comprar online? – O Jayden perguntou tentando me fazer pensar em outra coisa.

– Não, vamos comprar o celular. Você ouviu o seu pai, eu preciso arranjar um emprego o mais rápido possível. Não quero ser um peso para ninguém. – Respondi, cruzando os braços na frente do corpo.

– Que peso, Rach? Você pesa menos no orçamento do meu pai do que um tênis meu. – Ele brincou, tentando descontrair, mas eu ainda estava abalada demais para achar graça em qualquer coisa, então suspirei, balançando a cabeça em forma de reprovação.

– Isso não significa que eu não precise de um emprego e sim que você precisa rever seus gastos. Se um tênis seu gera mais gastos do que eu vivendo na sua casa, então seu pai tem razão e você precisa mesmo seguir o meu exemplo. – Afirmei, fazendo um pequeno bico e ele revirou os olhos, mas deu risada.

–  Que alívio, pensei que essa notícia tinha te deixado desnorteada, mas se está me dando bronca então está normal. — Ele brinca e acabo dando risada.

Ele me venceu pelo cansaço, mesmo enxergando nos olhos dele que ele também estava cansado. Ele queria me fazer rir e mesmo sem a menor vontade de comemorar, curvei o canto da boca.

Não demoramos na loja e além do celular o Jayden parecia uma criança toda vez que passava em frente a loja de tacos e pela forma que suas pupilas dilataram quando passamos por lá, dei de ombros e me rendi aquela comida apimentada.

Por sorte o vendedor da loja configurou o telefone para mil explicando todas as funcionalidades de um aparelho topo de linha com a empolgação de quem tinha fechado uma venda que renderia uma boa comissão. A decepção em seus olhos foi visível quando disse que só o usaria para funções básicas e agora enquanto comia aplicava para diversas vagas, sabendo que aceitaria as boas, medianas e até as ruins.

Quando chegamos em casa, tomamos banho e coloquei o Jayden para fazer algumas revisões somente para que ele me desse alguns minutos de paz e silêncio. Eu o amava muito, mas ainda não tinha aprendido onde ficava o botão mudo dele, então lidava como se ele fosse uma criança, dando tarefas para que ele se ocupasse.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora