Chances

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Sempre soube que se me envolvesse com o Jay, um de nós sairia ferido, mas nunca passou pela minha cabeça que seria ele. De todos os motivos pelo qual eu imaginei que ele faltou a revisão, eu jamais poderia imaginar que seria justamente porque ele estava tentando me resgatar e isso me deixava em dívida com ele. Uma dívida que eu não queria ter.

– Professor, eu sempre fui uma aluna exemplar, a única que participa de todos seus projetos e inclusive já fui voluntária das suas pesquisas. Sabe quantas horas eu tive que ficar rodando pelo campus atrás de alunos interessados em responder seu questionário? – Questionei e ele nem ao menos me encarava.

– Senhorita Jennings, creio que a minha resposta tenha sido clara. Não vou dar outra chance para o Senhor Park. Ele teve a oportunidade de fazer a revisão como todos os outros alunos e se eu abrir exceção para ele, terei que fazer o mesmo com outros alunos. – O mais velho explicou, enquanto tentava sem sucesso morder um sanduíche.

– Senhor Ridley, eu entendo seu posicionamento e acredite em mim, se não fossem as circunstâncias que o fizeram perder a aula, eu seria a primeira a torcer para que ele fosse reprovado. – Afirmo e ele bufa irritado por não conseguir comer.

– Senhorita Jennings não me importa se ele estava tentando te ajudar ou apagando o fogo de um orfanato em chamas. As regras da universidade são claras e não vou quebrá-las só porque você é muito insistente. – Ele explica, revirando os olhos.

– O senhor me acha insistente? Deveria agradecer por ser eu e não o Jay. Aquele garoto é insuportável, insistente e vai te deixar louco! – Afirmo e suspiro pois sabia o quão convincente o Jay conseguia ser.

– Se ele é assim, então cadê ele? Ele deveria ter vindo falar comigo e não mandar a namorada. – O mais velho retruca e abaixo a cabeça ao lembrar do rosto do Jay coberto por lágrimas.

Mesmo indo atrás dele, isso não foi suficiente para que ele me ouvisse e nunca me senti tão culpada em toda a minha vida.

– Acontece que ele não veio por minha culpa e está bem chateado, então eu imaginei que deveria ser eu a falar com o senhor. - Explico e ele nega com a cabeça, irredutível.

– Senhorita Jennings, pela última vez, não me importo nem um pouco com o seu namoro. Essa era a única chance dele e ele estragou tudo. – Ele afirma, sem deixar brecha para discussão, embrulha o sanduíche em suas mãos e levanta da mesa saindo dali.

Eu pensava em várias formas de convencê-lo e sei que se fosse para mim, talvez eu conseguisse falar com a diretora, mas a Senhora Clark já demonstrou que ajudar o Jay não é uma prioridade para ela e eu entendo isso. Ele passou tempo demais deixando os estudos de lado e agora sua imagem estava manchada perante os professores.

– Senhor Ridley, não há nada que possamos fazer? Que tal se eu organizar a sala antes de cada aula? – Sugiro, e ele continua andando. – E se eu fizer os slides das suas aulas? O senhor está sempre reclamando do projetor. – Insisto e ele se vira, irritado.

– A Senhorita pensa que pode me comprar? Que tipo de professor acha que eu sou? – Ele questiona, a pele avermelhada em seu rosto pálido que contrastava com seus fios grisalhos.

– Não! Jamais! Não se trata de comprar, eu apenas pensei que se o senhor estivesse um pouco menos atarefado, teria tempo para relaxar e pensaria em uma forma de ajudar o Jay. – Argumento, com um sorriso angelical em meu rosto que não combina em nada com minha personalidade naturalmente explosiva.

Ele suspira e parece ponderar por um momento, levando a mão surpreendentemente bem cuidada a sua testa.

– Acho que eu poderia pensar sobre isso se não tivesse sido escolhido para organizar o baile de caridade que a universidade vai realizar daqui a duas semanas. – Ele suspira e tira da pasta que carregava um envelope pesado. – Tenho que ligar para muitas instituições, possíveis doadores, a imprensa. Organizar a decoração, criar um comitê, convencer um dos músicos da universidade a se apresentar sem ganhar nada em troca. É realmente muito trabalho, sabe? – Ele explica, erguendo as sobrancelhas e eu sabia que aquilo me deixaria atarefada até mesmo nos fins de semana.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora