Lúcida

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Era cansativo estar no meu lugar, tendo que lutar diariamente contra as dificuldades que apareciam e eu me perguntava quando teria um momento de descanso. Minha vida era como estar perdida em um mar agitado após uma tempestade que parecia nunca passar e apesar de ser uma lutadora, eu estava cada vez mais cansada.

– Qual o problema com ela? – Perguntei, sentindo a ansiedade revirar meu estômago como quem revira um closet bagunçado.

– O médico não me falou. Só disse que tentou contato com você e como não conseguiu, ligou para mim. – Jehan explicou e suspirei abaixando a cabeça.

– É, eu ainda estou sem celular. – Contei, suspirando pois a verdade é que nem ao menos sabia quando compraria outro, afinal de contas minha conta estava zerada.

– Podemos sair para comprar um hoje. – O Jay sugeriu acomodando uma das sobrinhas que se aproximou, em seu colo.

– Acho que vou ter que esperar mais um pouco. – Afirmei e o Jay me encarou, confuso.

– Por quê? Você precisa de um telefone, todo mundo precisa hoje em dia. – Jay retrucou e suspirei dando de ombros.

– Porque as coisas não caem simplesmente do céu Jay, preciso arranjar um novo emprego para ter dinheiro e comprar um novo. – Explico e ele estala os lábios contrariado.

– Que besteira Rachel, eu compro pra você. É só um celular! – Ele desdenhou e neguei com a cabeça.

– Não Jay, já estou abusando demais da boa vontade do seu pai. – Explico e o mais velho que estava descascando uma laranja para a neta concordou com a cabeça.

– Ela tem razão Jay, dinheiro não cai do céu. Todos nessa casa precisam trabalhar e você deveria seguir o exemplo da Rachel! – O mais velho disse, mas suspirou dando de ombros e logo continuou. – No entanto, até mesmo para conseguir se candidatar a boas vagas você precisará de um celular então, podem ir ao shopping comprar ou peçam pela internet! – O pai do Jay sugeriu e o encarei, surpresa.

– Bem, obrigada! Assim que conseguir um emprego eu prometo pagar tudo. – Afirmei e ele negou com a cabeça, entregando a laranja cortada para a neta que logo estava se lambuzando com a fruta.

– Tomem café rápido pois vamos até a delegacia, de lá deixo vocês na universidade e só mais tarde você vai poder ir a clínica Rachel. – O senhor Park disse e notei que a agenda de hoje já estava lotada, quis retrucar, mas sabia que não poderia escapar de prestar depoimento mais uma vez.

Não queria reviver aqueles momentos de terror, mas quanto antes descobrisse as motivações do Kennie, melhor.
– Nesse caso, essas mocinhas comportadas ficaram com a vovó enquanto o papai vai até a delegacia com o vovô – Jehan explicou para as meninas e a mãe do Jay bateu palmas de tanta alegria.

Terminamos de comer e eu sempre ficava confusa ao ver tantas opções, mas principalmente por notar que eles comiam arroz até mesmo no café da manhã. Tinham tantas opções de comidas diferentes e eu estranhei quando percebi que estava sorrindo durante toda a refeição. Era uma sensação estranha estar inserida em uma família de uma hora para outra, principalmente quando eu sabia o que eles pensavam de mim. Eu era a caridade deles, a mulher que provavelmente ficaria louca e arruinaria a vida do Jay e apesar de tentar não me lembrar disso, quando o nome da minha mãe era citado isso era inevitável.

Quando chegamos a delegacia, o homem que já vi na casa dos Park e que se chamava Walter já estava nos esperando. Foi difícil reviver todos aqueles momentos, mas o Jay não soltou minha mão nem por um momento e quando tentaram nos separar para recolher nossos depoimentos, todos os homens da família me defenderam e sorri notando o quão protetores eles eram. O Kennie estava preso, mas ainda não tinha dito nada que não sabíamos. Ele afirmou que sua motivação era porque perdeu o emprego e achou que se me sequestrasse conseguiria um bom dinheiro, mas isso não fazia o menor sentido.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora