Promessas

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Viver sobre as regras de outra pessoa depois de tanto tempo fazendo minhas próprias regras era desafiador e hoje era somente o primeiro dia. É claro que estou grata por não estar dormindo nas ruas, mas estar na casa do Jay onde sei que seu pai me odeia, talvez seja ainda pior. Ele falava de mim como se eu não estivesse ali e tomava decisões sem ao menos me consultar. Afirmava que eu ficaria em casa enquanto eu já me via fugindo pela janela. Por fim desisti de lutar e deixei o pai do Jay pensar que tem algum controle sobre mim, pelo menos por enquanto.

Ter visto minha casa queimada, certamente não foi uma boa forma de começar a semana e quando eu pensei que um problema tinha se resolvido ao conseguir um novo lar para minha mãe, agora era eu que não sabia onde iria morar. O Jay acha que as coisas são fáceis e que o pai dele vai acabar me aceitando aqui, mas sei que sua proteção comigo é somente até que ele consiga provar que não teve nenhum envolvimento com o incêndio no meu prédio. Eu tinha deixado os homens da família Park no escritório e tentei sair dali, mas no meio do caminho, lembrei que deveria contar a Jehan sobre o símbolo da águia no boné.

Esse foi o pior erro que eu poderia ter cometido pois quando voltei, pude ouvir o que a família do Jay realmente pensava de mim e até mesmo o Jehan que eu pensei que estaria ao meu lado, achava que o Jay deveria se afastar de mim. Quis empurrar aquela, gritar o quanto eles são idiotas e dizer que eu jamais terminaria como a minha mãe, mas a verdade é que eu não tinha certeza disso. A fala de Jehan só confirmou algo que eu já havia pesquisado. Tenho grandes possibilidades de ter alzheimer assim como a minha mãe e por mais que o conselho que eles estavam dando para o Jay fosse horrível, eu sabia que eles tinham razão.

Eu mesma não queria deixar o Jay se aproximar de mim, não queria envolver ele nessa teia de problemas que é a minha vida, mas ele era tão persistente e decidido que por um tempo pensei que até a doença temeria chegar até mim tendo ele do lado. Era emocionante ouvir que ele enlouqueceria comigo e saber que eu era amada a esse ponto me fazia sorrir, mas sabia que isso não era justo com ele. O Jay estava levando uma boneca com defeito e eu temia que ele só percebesse isso quando eu começasse a dar problemas.

Agora tudo era fácil. Ainda somos jovens e é impossível notar que estamos muito apaixonados, mas como negar que o futuro é inevitável e que talvez uma vida comigo não seja exatamente um passeio no parque? Corro até o quarto do Jay e me sento na cama sentindo meu coração acelerado. Eu deveria terminar com ele? Me afastar enquanto é tempo? Esquecer todo o caminho que percorremos só porque eu tenho um bilhete premiado que talvez nunca seja sorteado?

Essas perguntas ecoavam pela minha mente e suspirei pesadamente, sentindo vontade de chorar. Sempre fui tão forte, e agora qualquer vento me derrubava. Tenho passado por tantas coisas nos últimos dias que pensei que minhas lágrimas secariam, mas, quando mais uma delas rola, sei que não estou nem perto do meu limite. Quanto mais eu teria que aguentar até o universo resolver me dar uma folga?

Ouço passos no corredor e enxugo o rosto. O Jay entra no quarto e fecho os olhos, tomando uma decisão. Eu precisava terminar com ele, precisava libertar ele da prisão que eu seria um dia, antes mesmo que ele peça para ser liberto. Não podia deixar ele se perder em mim, não podia ser o labirinto do qual ele não sairia. Ou ao menos eu pensei que não poderia, pois antes mesmo que eu abra os olhos e diga que não quero mais nada com ele, seus braços me envolvem. Sua respiração quente se choca com a minha nuca e me sinto segura em seus braços.

– Vai ficar tudo bem. Nós vamos superar isso juntos. Eu te amo, Rach! – O Jay afirma e sorrio em meio às lágrimas esquecendo completamente da decisão que tomei a segundos atrás.

– Eu também te amo! – Confesso, me aninhando em seus braços e decido que vou sim ser egoísta.

Preciso do Jay, mais do que já me permiti precisar de alguém na vida e eu mereço isso depois de tudo que passei. Ele era o meu porto seguro no meio da tempestade que era a minha vida e me seguraria a ele como uma criança segura o seu cobertor.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora