Snow on the beach

47 5 10
                                    


Andando pelas ruas daquele bairro desconhecido, até mesmo os cachorros que passavam por mim pareciam desviar o olhar. Mesmo eles percebiam que eu era uma intrusa neste lugar e me evitavam. O vestido leve que eu estava usando fez com que o frio do amanhecer trouxesse um arrepio à minha pele. Me encolho e dobro em outra esquina, sem me lembrar da direção que a Rosita disse que o ponto de ônibus ficava.

Estava tão desesperada em sair daquela casa, que mal conseguia ouvir o que ela dizia. Estava sufocada e senti que não poderia respirar mais um minuto na presença do Jay. Como alguém pode ser tão detestável a ponto de ser insalubre ficar em sua presença? Ele me irrita, tira meu fôlego e transforma todas as minhas certezas em dúvidas. Sempre fui uma pessoa decidida. Que sabe o que quer e luta por isso, mas com ele por perto eu me transformava em outra pessoa. Uma pessoa que eu não admiro.

Esfrego meus braços esperando que a leve fricção seja suficiente para me aquecer, mas não é. Sair de lá sem nenhuma preparação e sem dinheiro para voltar, não foi minha decisão mais inteligente. Onde eu estava com a cabeça para vir a um lugar como esse? Será que esqueci todos os ensinamentos da minha mãe? Ela sempre me avisou que meninos como os que vivem nesse bairro apenas se divertem com meninas como eu e por não ter me lembrado disso antes, agora tenho que enfrentar as consequências.

Parando para analisar, não sei porque fiquei com tanta raiva assim. Claro que o Jay tem um talento natural para me irritar, mas talvez o fato dele estar certo seja o que mais me incomodou. Estou mentindo para o Jiyong e sinceramente não me sinto confortável com isso. Desde o começo pensei que se esse fosse apenas um pequeno empurrãozinho para que eu pudesse ficar com aquele que poderia ser o amor da minha vida, isso não seria um problema. Mas aparentemente era, eu tinha sido julgada e condenada no tribunal da minha própria mente e agora não tinha ninguém para me salvar de mim mesma.

Vez ou outra eu me pegava olhando para trás, imaginando que o Jay viria atrás de mim. Inicialmente essa ideia me irritou, mas quando vi um homem estranho me encarando e tive que desviar meu caminho, percebi que estava realmente perdida. A cada carro que eu via ao longe, rezava para que fosse alguém conhecido, mas não era e até minhas lágrimas já tinham secado.

Não sei se foram as voltas que dei, ou o frio que castigava minha pele já que o sol parece ter se escondido, mas me peguei desejando voltar à mansão, mesmo sem ter ideia do caminho. Carregando essa mala velha e pesada, tudo era mais cansativo e logo meus pés estavam doendo, já que eu saí quase correndo de lá.

É impressionante a facilidade com que meus sentimentos mudam. Saí de lá desejando nunca mais voltar e agora só queria que alguém me encontrasse. Ouvi o barulho de um carro se aproximando, mas já tinha perdido a esperança. Todo carro que passava nunca era o dele, então nem ao menos olhei para trás. Continuei meu caminho, cabisbaixa relembrando os acontecimentos do feriado. Tão distraída, que quando uma voz chamou meu nome, eu apenas gritei,

- Rachel,graças a Deus! - A voz masculina afetada suspirou. O alívio evidente em sua voz.

-Porque demorou tanto? Pensei que ia ser sequestrada nesse bairro chique! - Resmunguei, me virando e quando vi o Jiyong saindo do carro parecendo aflito, meu coração quase parou.

- Desculpa, eu vim o mais rápido que pude. Você estava em um caminho tão errado, que eu te procurei em todas as direções contrárias. - Ele afirmou, um sorriso nervoso em seu rosto.

- Não, eu que peço desculpas. Pensei que era o idiota do Jay. - Afirmei e franzi os lábios.

O que estava acontecendo comigo? Eu queria que fosse o Jay? Estou decepcionada por ser o Jiyong? Minha cabeça parecia sondar meu coração e os dois não pareciam chegar à uma conclusão.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora