Prêmio

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Fiquei alguns segundos encarando a porta do banheiro fechada depois que o Jay saiu da banheira me deixando ali sozinha. Ele não quis ouvir minhas explicações e a verdade é que eu nem sabia se havia uma. Como eu iria dizer para ele que tinha medo de que ele desistisse ou se cansasse de mim? Como poderia demonstrar o quão dependente dele eu me tornei em tão pouco tempo sem parecer ridícula?

Sempre fui forte, decidida e às vezes até destrutiva, uma Dinamite, como o Jay gostava de me chamar. Por isso, para mim era muito difícil baixar a guarda, mostrar minhas inseguranças e medos sem temer que elas sejam usadas contra mim no futuro. Se tinha algo que eu tinha agredindo sobre relacionamentos observando os parceiros da minha mãe, é que os homens odiavam ver uma mulher chorando e vulnerável.

Eles ignoravam, olhavam para o outro lado e às vezes até aumentavam o barulho da TV para não ouvir as reclamações de uma mulher. Então como eu poderia me expor dessa forma, permitindo que o Jay estivesse por perto enquanto eu estaria enfrentando a fase mais difícil da minha vida?

É claro que eu esperava pelo melhor. Um mundo perfeito, onde a minha mãe teria uma recuperação rápida e seríamos nós duas contra o mundo para sempre. Mas ela tinha ficado tempo demais presa naquela clínica por minha causa e agora que sairia eu sabia que seria difícil sobrepor todo o rancor que ela tem de mim. Nós éramos duas pessoas que foram marcadas pelo passado e algumas dessas marcas jamais se apagarão, elas nos acompanharão até o túmulo e por mais assustador que isso possa parecer, isso também nos fortalecia.

Tive que pensar muito antes de sair daquela banheira. Me enrolei em uma toalha e usei um secador para secar meu cabelo enquanto eu me olhava no espelho. Eu não sabia se estava orgulhosa de mim mesma por ter chegado até aqui, ou assustada com as tempestades que viriam, mas sabia que eu estava pronta para cada uma delas.

Fui até o quarto e o Jay já estava deitado na cama, com as luzes apagadas e o rosto coberto, como quem dizia que não estava para conversa, mas eu o faria falar, nem que fosse para gritar comigo. Mesmo sem saber me expressar e odiar demonstrar sentimentos, eu sabia que se existia alguém a quem eu não podia perder era ele, então mesmo que eu tivesse que abrir mão dos meus medos, por ele eu faria isso.

Me vesti com uma camisa dele que mais parecia um vestido em mim, pois apesar dele ter comprado roupas para mim, eu adorava usar as roupas dele e me deitei na cama em seguida. Preparei todo um discurso, com uma lista lógica de todos os motivos pelos quais não deveríamos apressar as coisas e suspirei antes de me virar, o abraçando por trás. Pude perceber sua surpresa pela forma que seus músculos se contraíram e eu apoiei meu queixo no ombro dele.

— Eu só não quero trazer você para o olho desse furacão onde me encontro. Tento sair dele desde que nasci, mas o vento sempre me arrasta de volta e eu não desejo isso para ninguém. — Confessei e percebi que era bem mais fácil para mim dizer as coisas no escuro e por isso continuei. — Eu vivo com medo de tudo. Cresci com medo de perder a minha mãe, depois tive medo que ela se perdesse de si mesma. Depois tive medo de amar alguém como ela amou e sofrer daquela forma. — Minha voz falhou e senti minha garganta querendo se fechar. — E agora, eu vivo combo medo de você se cansar de mim. De perceber que eu não valho todo esse esforço e me deixar! — Eu falo e quando eu ia continuar ele me interrompe, se virando e descobrindo a cabeça.

— Mas você vale! O que mais eu preciso fazer para você perceber que amar você vale qualquer coisa para mim? — Ele perguntou e a forma que seus olhos cor de mel pareciam decididos ao dizer isso fazia com que eu me desmanchasse.

— Eu só não quero ir rápido demais e acabar perdendo você porque a verdade é que eu não sei se eu aguentaria Jay. Eu sou louca por você e agora eu entendo porque eu tinha medo de deixar você se aproximar, é porque eu sabia que você era o único capaz de me fazer enlouquecer e agora eu não sei o que faria sem você! – Explico e ele me beija, antes mesmo que eu termine a frase.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora