Aquele pequeno mundo de ilusão se desfez como um castelo de cartas diante dos meus olhos com apenas uma frase. Eu pude ver a lucidez deixando seus olhos e conforme sua pupila dilatava, deixando seus olhos negros um calafrio subiu pela minha espinha fazendo meus cabelos se arrepiarem e não tive tempo nem ao menos de me levantar de seu colo. A mais velha pegou meu pescoço em suas mãos e o aperto era tão doloroso que voltei a ser uma criança assustada por alguns instantes.
– Então foi para isso que você me deixou aqui? – Minha mãe perguntou com a voz fria e o ar sumiu dos meus pulmões completamente. – Para arranjar namorados e ser feliz enquanto eu apodreço aqui? – Ela pergunta e quando o Jay se aproxima me puxando para si de forma protetora, começo a tossir buscando por ar.
– Vem Rach, melhor sairmos daqui! – O Jay diz com a voz calma, mas já estou em pedaços, o medo me domina e eu não consigo ao menos me mexer.
– Vai! Volta para Nova York e cometa os mesmos erros que eu! Pode deixar que eu guardo a sua vaga aqui porque quando ele te trocar pela sua filha você vai entender minha loucura. Vai embora! Sai daqui sua ingrata! Você arruinou minha vida! Maldita seja a hora que eu te coloquei no mundo! – Ela gritou e jogou a cadeira onde estava sentada contra a parede fazendo com que ela se despedaçasse pelo chão.
As mãos do Jay me guiaram para fora dali e mesmo depois de sair do quarto podíamos ouvir seus gritos me acusando de coisas que eu nunca fiz. Toda vez que eu a via, prometia que seria a última vez, mas nunca era, eu sempre voltava como uma forma de me punir por ter a deixado para trás, mesmo sabendo que não havia outro jeito. O choro faz com que eu me encolha e minhas pernas falham enquanto eu deslizo até o chão encostada na parede e o Jay tenta me pegar, mas eu nego com a cabeça.
Precisava sentir essa dor, precisava me lembrar daquelas palavras, daqueles gritos, para poder justificar minha ausência, mesmo sabendo que isso não funcionaria e que os sons perturbadores que ela emitia me assombrariam em meus piores pesadelos. Quando chego ao meu limite, cubro meus ouvidos. Não aguentava mais ouvir as mesmas coisas de sempre. Ela me acusava de roubar a atenção dos homens que ela namorava, mas eu era apenas uma criança. Ela nunca aceitou que eles me dessem uma boneca, ou que se preocupassem comigo. Ela nunca aceitou quando ouvia deles que ela precisava ser uma mãe melhor e todas as vezes que eles terminavam com ela, minha mãe me culpava.
Eu era culpada por nascer, por brincar de boneca enquanto ela chorava por alguém que eu nem me lembrava o nome e principalmente por não ser igual a ela. Minha mãe queria que eu trabalhasse no mesmo lugar e morasse no mesmo acampamento de trailers que vivíamos antes e sempre que eu falava que meu sonho era outro, ela me acusava de tentar ser melhor do que ela. Esse nunca foi meu objetivo, apenas não queria repetir seus erros e ouvir que em breve eu estaria onde ela está me desestabilizou completamente.
O Jay me pegou em seus braços e quando percebeu que eu não conseguia andar, me carregou para fora, até o jardim. Escondi meu rosto em seu peito, tentando me esconder do mundo e quando ele percebeu que minhas mãos estavam trêmulas, seus lábios beijaram cada um de meus dedos e a palma de cada uma das minhas mãos. Seus abraços eram tão macios e calorosos que eu me perguntava se merecia me abrigar neles. O Jay não precisava estar passando por nada disso, ainda assim, não sei se conseguiria passar por todas essas dificuldades sem ele do lado. Dizem que quanto mais velha, mais sábias ficamos, mas no momento eu me sentia uma tola por ainda acreditar, mesmo que por um momento que eu poderia ter algum momento de paz com a minha mãe.
Foi ela que me ensinou a viver em guerra, mas nos braços do Jay eu encontrava toda a paz que precisava e temia estar viciada a essa sensação. O quê eu faria se ele mudasse de ideia? O que eu faria se ele não estivesse fazendo tudo que fez por mim? Ele tem sido tão bom e compreensivo, será que eu mereço? Minha cabeça está lutando com o meu coração e só dessa vez eu torcia para que meu coração ganhasse, para que ele abrisse as portas e deixasse o Jay se esconder do mundo no meu peito, assim como eu estava fazendo agora.
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Brincando com Fogo
FanfictionAo perceber que seria reprovado na Universidade e correndo o risco de ser expulso de casa Jay Park precisa fazer de tudo para tirar boas notas, o problema é que a única pessoa que pode ajudá-lo é a menina que ele odeia com quem tem praticado bullyin...