•Capítulo 21•

206 15 7
                                    

Ayume Martins.

Estava me arrumando para sair com Breno e Bianca, tentando colocar um pouco de normalidade de volta à minha vida depois de tudo o que aconteceu. Enquanto escolhia uma roupa, meu pai me chamou ao seu escritório. A seriedade em sua voz me fez pausar, o batom parando no meio do caminho até os lábios. Deixei o tubo sobre a penteadeira e me dirigi até ele, sentindo uma mistura de antecipação e nervosismo.

Quando entrei, ele estava sentado atrás de sua grande mesa de madeira, os papéis organizados meticulosamente diante dele, mas seu foco era inteiramente em mim. Ele fez um sinal para que eu me sentasse na cadeira à frente dele.

— Ayume, precisamos conversar sobre o Puma. — Ele começou, seus olhos encontrando os meus com uma intensidade que me fez engolir em seco.

— Eu sei, pai... Eu terminei tudo com ele. — Respondi, tentando manter minha voz firme.

— Eu sei, querida. E quero que saiba que você fez o certo. Você é jovem, tem toda uma vida pela frente. Não quero que um dia você tenha que passar pela humilhação de visitar seu marido na cadeia ou algo pior. — As palavras dele eram duras, mas eu sabia que vinham de um lugar de proteção e amor.

Eu respirei fundo, as palavras dele ressoando profundamente dentro de mim. Era o medo dele também, não só o meu, de que a vida que eu escolhesse pudesse me levar por caminhos escuros e difíceis.

— Eu entendo, pai. E eu... — Hesitei, a frustração e a dor borbulhando dentro de mim. — Eu também estava pensando sobre... sobre filhos. Sobre como eu nunca poderia dar um filho ao Puma por ser infértil. Isso também pesou na minha decisão.

— Oh, minha filha. — Meu pai se levantou e veio até mim, envolvendo-me em um abraço caloroso e reconfortante. — Você tem tanto para oferecer, Ayume. Não pense que sua valia está atrelada a isso. E há muitas maneiras de construir uma família, você sabe disso.

As palavras dele eram um bálsamo, mas a dor de saber que algumas portas estavam fechadas para mim era uma realidade difícil de enfrentar. Dentro do abraço de meu pai, permiti-me sentir pequena, permiti-me ser a filha que precisava de consolo.

— Eu sei, pai. Só que às vezes é difícil não pensar sobre isso. Sobre todas as coisas normais que eu talvez nunca vá experimentar. — Confessei, as lágrimas finalmente encontrando seu caminho livre.

— Ayume, o que é normal? Cada um de nós tem desafios, lutas... Sua vida será cheia de experiências extraordinárias, eu prometo. Você vai ver. — Ele se afastou, segurando meus ombros e me dando um sorriso encorajador.

— Obrigada, pai. Eu realmente precisava ouvir isso. — Sorri de volta, sentindo um pouco do peso se levantar.

A tensão no escritório estava em um nível quase palpável quando Bruno entrou abruptamente, claramente agitado e com a raiva estampada no rosto. Ele nem se preocupou em fechar a porta atrás de si, tal era a urgência com que precisava expressar seu descontentamento.

— Isso é um absurdo, pai! — Bruno começou, a voz alta e carregada de acusação. — Você está fazendo exatamente o que o avô fez com a mãe, lembra? Quando ele disse para ela terminar tudo com você porque você não era 'adequado'. E agora está aqui, repetindo a história, dizendo para a Ayume que é o certo abandonar o Puma.

Meu pai tentou interromper, levantando a mão em um gesto de pausa, mas Bruno estava longe de terminar.

— E outra coisa, Ayume, se você vai deixar o Puma, que seja de uma vez. Deixe ele seguir a vida dele, sem esse drama todo, sem fazer ele de idiota esperando por algo que você não vai dar. — A ferocidade em sua voz era algo que eu raramente via em Bruno, o que só servia para destacar a seriedade do que ele sentia.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora