•Capítulo 30•

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Ayume Martins.

Pela janela, vi que estava de noite. O brilho prateado da lua banhava o ambiente, criando um cenário quase poético, embora meu coração estivesse carregado de medo e incertezas. Mexia no colar que o Puma tinha me dado há alguns anos atrás, um símbolo de tempos mais fáceis e menos tumultuados. A cada toque no pingente, sentia uma onda de nostalgia misturada com tristeza. Estava perdida em pensamentos quando escutei uma batida na porta.

Levantei-me, sentindo o coração acelerar. Fiquei parada, tentando decifrar quem poderia ser. Então, reconheci a voz inconfundível.

— Ayume, sou eu, o Puma. Abre a porta.

Respirei fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções. Caminhei até a porta e a abri lentamente. Lá estava ele, todo encapuzado, vestido como um atirador de elite, com um fuzil pendurado no ombro. A visão dele assim, tão armado e pronto para a guerra, me fez tremer por dentro.

Fechei a porta atrás dele e me sentei de volta na cama, exausta e sem palavras. Puma tirou a balaclava, revelando seu rosto. Seus olhos imediatamente se fixaram no meu braço enfaixado.

— O que aconteceu com o seu braço? — perguntou ele, a voz carregada de preocupação.

Falei friamente, tentando esconder a montanha-russa de emoções que sentia por dentro.

— Me cortei quando caí tentando fugir dos tiros — respondi, sem olhar diretamente para ele.

Puma se aproximou e, inesperadamente, abraçou minha cabeça, segurando-me com firmeza, mas com uma gentileza que não esperava.

— Me desculpa, Ayume. Me desculpa por tudo isso — disse ele, a voz rouca de emoção.

Eu fiquei imóvel por um momento, sentindo o calor de seu abraço. As memórias dos momentos que passamos juntos começaram a invadir minha mente, e por um breve instante, me permiti relaxar, mesmo que um pouco. Mas logo a realidade da situação me puxou de volta.

— Não adianta pedir desculpas agora, Puma. Minha vida virou um inferno — falei, minha voz tremendo de frustração.

Ele se afastou um pouco, ainda segurando meu rosto com as mãos.

— Eu sei, eu sei... mas eu estou aqui agora. Vou te tirar dessa, prometo — disse ele, com uma determinação que quase me fez acreditar.

Eu queria acreditar, mas estava tão cansada, tão esgotada emocionalmente, que tudo parecia um sonho distante. Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas sentindo a presença um do outro.

— Eles estão atrás de você, não é? — perguntei finalmente, quebrando o silêncio.

Puma assentiu.

— Sim, estão. A favela está em guerra. O Bope veio com tudo dessa vez. Mas eu não vou deixar eles te encontrarem. Vou te proteger — afirmou ele, a voz firme.

— E como você vai fazer isso? — perguntei, sem esconder meu ceticismo.

Ele se levantou, andando pelo pequeno quarto, claramente pensando em um plano.

— Tenho alguns contatos que podem nos ajudar. Mas precisamos ser rápidos. Não podemos ficar aqui por muito tempo — disse ele, voltando a olhar para mim.

A ideia de fugir de novo me cansava, mas não via outra saída. Eu queria minha vida de volta, queria minha liberdade.

— Tá bom, mas o que você tem em mente? — perguntei, tentando encontrar um fio de esperança em suas palavras.

— Primeiro, precisamos sair daqui sem chamar atenção. Depois, vou te levar para um lugar seguro onde você pode esperar enquanto resolvo tudo isso — disse ele, aproximando-se novamente.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora