•Capítulo 28•

174 14 2
                                    

Puma.

Sabe, esses últimos cinco anos foram uma montanha-russa que eu jamais esperava pegar. Tudo começou naquele dia na praia com a Ayume, quando ela decidiu que era hora de cortar os laços comigo. Aquilo foi um baque, cara. A gente tinha uma história, muita coisa vivida lado a lado, e de repente, ela queria seguir sozinha. Eu entendi os motivos dela, claro, a vida dela estava tomando outro rumo, e bem, ela sempre foi meio que aquela estrela que não ia se encaixar no meu céu caótico por muito tempo.

Ela seguiu a vida dela, foi fazer medicina, se formou, e eu continuei aqui, tentando manter a cabeça fora d'água, cuidando dos meus negócios e da comunidade aqui na favela. Não é fácil, mano. Todo dia é um teste, uma batalha diferente. Você vive com o peso do mundo nas costas, tentando fazer o certo pelos seus, mas nem sempre as coisas saem como planejado.

Mas então, como se o universo tivesse dessas de brincar com a gente, a Ayume reaparece na minha vida, numa hora que eu mais precisava. Eu tinha levado uns tiros, coisa feia, e estava lá, largado numa mesa de cirurgia. E quem aparece para salvar minha vida? Sim, a Ayume, doutora já, competente pra caramba, a mesma mina que tinha decidido que nosso caminho tinha chegado ao fim naquela praia anos atrás.

Ver ela ali, com aquela concentração, aquela determinação que só ela tem, foi surreal, mano. Ela não hesitou, não deixou nossos problemas passados interferirem. Ela simplesmente fez o que faz de melhor: cuidou de mim, salvou minha vida como se ainda fôssemos aqueles velhos amigos inseparáveis.

Depois disso, as coisas começaram a mudar. Não sei explicar direito, mas era como se tudo que eu tinha guardado, todo aquele sentimento que eu pensei que tinha se perdido na areia daquela praia, começou a voltar. E agora, ela tá aqui, na favela, por circunstâncias que nem eu nem ela poderíamos prever.

A verdade é que esses dias com ela por perto têm sido uma loucura. É estranho, é complicado, mas ao mesmo tempo, é como se não pudesse ser de outro jeito. A Ayume sempre teve esse efeito sobre mim, de trazer um pouco de paz no meio do caos. E agora, ela não está apenas curando minhas feridas físicas; de alguma forma, ela está mexendo com um monte de coisa que eu achei que estava resolvida aqui dentro.

Cinco anos depois, aqui estamos nós. Não sei para onde isso vai dar, não sei se é algo que pode ser resolvido ou se vai abrir mais feridas. Só sei que, de alguma forma, ter a Ayume por perto faz tudo parecer possível, mesmo que o mundo lá fora continue uma bagunça. E isso, isso já vale a pena.

Eu estava lá, sentado na minha base, cuidando dos meus assuntos, quando vi a Ayume se aproximando. O que ela queria agora? Por que diabos ela estava andando pela favela, justo quando eu estava ocupado lidando com os meus problemas? E então, ela veio até mim com um jornal nas mãos, e eu sabia que não ia ser nada bom o que ela tinha pra me mostrar.

— O que você quer, Ayume? — perguntei, tentando manter a voz firme apesar da irritação que crescia dentro de mim.

Ela veio até mim, com o jornal na mão, e jogou na minha frente como se estivesse me culpando por aquela merda toda.

— Olha só isso, Puma! — ela disse, os olhos faiscando de indignação. — Você viu o que esses filhos da puta estão falando sobre mim? Dizem que eu fui sequestrada e estou desaparecida!

Eu olhei para o jornal e vi a manchete. Uma foto dela, uma história inventada sobre o seu suposto sequestro. Aquilo era absurdo, a notícia já estava se espalhando.

— E o que você quer que eu faça? — perguntei, já sentindo a impaciência crescendo dentro de mim.

— Eu quero que você faça alguma coisa! — ela retrucou, com aquele jeito teimoso que sempre teve. — Você me trouxe pra tudo isso, porra! Então faça algo pra me tirar dessa.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora