Epílogo.

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Ayume Martins.

Há momentos na vida em que tudo faz sentido, como se cada peça, cada detalhe, estivesse exatamente onde deveria estar. Hoje, ao olhar para trás, consigo ver com clareza como o destino nos guiou até aqui. Sinto o vento suave no rosto, o sol aquecendo minha pele, e olho para Luna, agora com 10 anos, correndo pelo jardim de nossa casa, rindo com Matteo. Um sorriso se forma no meu rosto, mas é impossível não me perder em memórias, voltando a um tempo em que tudo isso parecia um sonho distante.

Quando eu era jovem, lá em Heliópolis, eu o vi pela primeira vez. Era um dia comum, o sol escaldante castigava as ruas, e ele estava ali, entre as vielas, a sombra do perigo emanando de sua figura. Ele ainda era apenas um aliado do meu pai, um rosto que eu conhecia de vista, alguém que fazia parte daquele mundo que meu pai comandava com mão de ferro. Lembro-me de como meu coração bateu mais rápido ao vê-lo, um misto de curiosidade e algo que eu ainda não conseguia entender. Eu era apenas uma garota na época, mas algo em mim soube, naquele momento, que nossos destinos estavam entrelaçados.

Mas a vida, sempre cheia de reviravoltas, nos separou por anos. Eu segui meu caminho, me formei em medicina, me afastei daquele mundo do crime que sempre foi parte da minha família. Não sabia o que havia acontecido com ele, mas ele nunca deixou minha mente completamente. Até que um dia, em meio ao caos de um hospital lotado, o reencontrei. Ele estava ferido, vulnerável, e naquele instante, algo renasceu em mim. Foi como se todas as peças que estavam fora do lugar finalmente se encaixassem. Não foi fácil. Meu pai não aprovava o relacionamento. Como poderia? Puma não era apenas um homem qualquer; ele era um dos mais perigosos, envolvido até o pescoço em um mundo que eu tentava desesperadamente deixar para trás.

Mas, contra todas as expectativas, ficamos juntos. Enfrentamos o mundo de frente, e então, a notícia da minha gravidez mudou tudo. Luna foi o nosso elo, o que tornou impossível para meu pai continuar nos afastando. Ela era o futuro, e meu pai, mesmo com todas as suas reservas, não conseguiu resistir àquele pequeno ser que carregava o sangue dele. Eventualmente, ele aceitou. Acho que viu em nós dois algo que ele e minha mãe perderam ao longo dos anos: a capacidade de amar incondicionalmente, apesar de tudo.

Hoje, meus pais vivem viajando pelo mundo, imersos em seus próprios universos. Depois de uma vida inteira no controle, eles finalmente encontraram tempo para si mesmos. Meu pai, sempre tão severo, agora se permite sorrir mais. Minha mãe, tão forte, agora se entrega ao prazer de ver o mundo. Eles deixaram para trás aquele peso que carregaram por tantos anos, e eu estou feliz por eles.

Meus irmãos seguiram caminhos diferentes, mas ambos estão no topo dos seus mundos. Bruno, agora parte da cúpula do PCC, herdou o legado do meu pai. Ele tem a mesma frieza e inteligência que o nosso pai, mas também carrega consigo uma lealdade inabalável à família. Arthur, por outro lado, foi para a Colômbia e herdou o cartel da família da minha mãe. Ele é um líder nato, com uma presença que impõe respeito, mas diferente de Bruno, tem um lado mais impulsivo, mais visceral. Eles são dois lados de uma mesma moeda, cada um representando um pedaço do legado dos nossos pais.

E eu? Eu herdei a bondade da minha mãe, algo que, mesmo em meio a tanto caos, nunca me deixou. Do meu pai, herdei as coisas boas, a determinação, a capacidade de lutar pelo que acredito. E foi isso que me guiou até aqui, ao lado de Puma. Bianca e Breno, nossos amigos de longa data, agora têm uma filha, Ester. Eles vivem felizes, encontraram a paz que tanto buscavam. É bonito ver como a vida seguiu para todos nós, cada um em sua jornada, mas todos conectados por essa história que dividimos.

Puma e eu estamos mais fortes do que nunca. Nossa relação passou por tantas provas, tantas tempestades, mas saímos de todas elas mais unidos. Hoje, enquanto estamos no jardim de casa, comemorando o aniversário de 10 anos de Luna, sinto que alcançamos algo raro, algo precioso. Luna e Matteo estão abraçados, posando para o fotógrafo, e é impossível não me emocionar com a cena. Vejo o futuro neles, a esperança de que tudo o que passamos valeu a pena.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora