•Capitulo 17•

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Ayume Martins.

Descendo as escadas ao lado de Puma, senti o silêncio pesado da casa envolver-nos como uma capa. Era um daqueles momentos em que o mundo parecia suspender o fôlego, ciente da gravidade do que estava por vir. Cada passo que dávamos era um eco solitário na escadaria ampla, e apesar de Puma estar ao meu lado, uma sensação de isolamento começava a crescer dentro de mim, a realidade do que eu estava prestes a enfrentar tornando-se cada vez mais palpável.

Chegamos à garagem, onde o ar era levemente mais frio, cheio do cheiro de metal e borracha. Puma abriu a porta do carro para mim com um gesto gentil, suas mãos firmes porém trêmulas. Era claro que, apesar de sua aparência calma, a tensão também o afetava.

— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Puma perguntou pela última vez, a preocupação evidente em seu olhar.

— Eu preciso fazer isso. Não apenas pelo papai, mas por todos nós. — Respondi, tentando infundir minha voz com mais confiança do que realmente sentia. — Vai dar tudo certo, Puma.

Ele assentiu, ainda não totalmente convencido, mas respeitou minha decisão. Com um último aperto de mão, que serviu como um silencioso voto de confiança, entrei no carro.

O caminho até o QG foi silencioso. As ruas ainda estavam despertas sob o fraco brilho, e a favela parecia estranhamente pacífica, um contraste agudo com a tormenta de emoções que eu estava sentindo. Ao chegarmos, Breno e Astro já estavam nos esperando, ambos com expressões sérias e determinadas.

— Está pronta? — Breno perguntou assim que me aproximei, sua voz baixa e estável.

— O mais pronta que posso estar. — Respondi, tentando sorrir, mas era um sorriso fraco, nervoso.

— Vamos repassar o plano mais uma vez. — Astro interveio, puxando um pequeno mapa do bolso. Ele o desdobrou sobre o capô de um dos carros e começou a apontar para diferentes seções da planta da prisão. — Você entra sozinha, passa pela segurança e vai direto para a área de visitação. Lembre-se, cada palavra, cada gesto pode ser observado. Fique calma, faça parecer uma visita normal.

— Eu vou lembrar. — Assenti, memorizando cada detalhe que Astro descrevia.

— Breno vai estar com você até o portão. Depois disso, você estará por sua conta, mas lembre-se que estamos apenas a um telefonema de distância. — Astro adicionou, seu olhar firme me transmitindo uma mistura de cautela e encorajamento.

— Certo. E eu passo as mensagens codificadas que Jefinho preparou. — Confirmei, repassando mentalmente as frases que deveria usar, as quais carregavam significados ocultos essenciais para o plano.

— Exatamente. — Breno disse, olhando diretamente nos meus olhos. — Ayume, sei que isso é muito, mas confiamos em você. Você é parte crucial de tudo isso.

O peso de suas palavras recaiu sobre mim como uma manta pesada, mas também reconfortante. Eu sabia o que precisava ser feito, e apesar do medo que se entrelaçava com minha determinação, estava pronta para enfrentar essa prova.

Com um último olhar de encorajamento de ambos, entrei no carro com Breno, e seguimos para a prisão. O trajeto foi um misto de silêncio e discussões finais sobre o plano, cada um de nós perdido em nossos próprios pensamentos sobre o que estava por vir.

Ao chegarmos ao portão da prisão, meu coração começou a bater mais rápido, a realidade do momento finalmente se estabelecendo. Breno me deu um aceno de cabeça, um último gesto de apoio, antes de eu sair do carro e caminhar sozinha para enfrentar o que esperava por mim do outro lado daqueles muros frios e imponentes.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora