•Capítulo 24•

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Ayume Martins.

Amanheceu mais um dia de rotina para mim. Levantei-me cedo, seguindo o ritual matinal que preparava meu corpo e mente para as longas horas de trabalho que estavam por vir. Após um breve café e uma revisão dos casos que esperavam por mim, saí de casa em direção ao hospital, tentando sintonizar minha mente com o podcast de medicina que costumava me acompanhar nos trajetos.

Assim que cheguei ao estacionamento do hospital, percebi imediatamente que o dia não seria comum. O som de sirenes preenchia o ar, uma cacofonia que prenunciava a urgência do momento. Corações precisavam de ajuda, e eu estava ali para atender ao chamado. Rapidamente, peguei meus pertences e apressei o passo em direção à entrada, onde a real dimensão do caos se revelou. Ambulâncias chegavam uma após a outra, depositando mais vidas nas mãos da equipe médica já sobrecarregada.

Mal cruzei as portas automáticas do hospital, uma enfermeira, reconhecendo-me, veio ao meu encontro com um semblante de urgência que raramente presenciava.

— Dra. Ayume, precisamos de você imediatamente na sala de cirurgia de emergência. Temos um caso de múltiplos ferimentos por arma de fogo com hemorragia massiva e o paciente agora está entrando em parada cardíaca! — informou ela, praticamente me puxando pelo corredor.

Minhas pernas se moveram quase por instinto, enquanto minha mente tentava se ajustar à gravidade da situação descrita. Nós corremos pelos corredores, cada curva e cada porta um borrão ao meu redor. Ao chegar à sala de cirurgia, o caos estava estampado nos rostos de todos. A equipe trabalhava freneticamente, cercando a mesa de cirurgia onde o paciente já estava sendo atendido.

Coloquei rapidamente o avental e as luvas esterilizadas enquanto me aproximava, e foi então que ouvi a máquina do ECG emitindo o som terrível que nenhum médico queria ouvir: o longo e contínuo bip da asistolia.

— Iniciando compressões! — gritei, assumindo a posição ao lado do paciente para começar as manobras de ressuscitação cardiopulmonar. Meus braços trabalhavam automaticamente, empurrando firmemente contra o peito do paciente, contando cada compressão em um ritmo que marcava a diferença entre a vida e a morte.

Foi então que, durante a troca de turnos nas compressões, tive a chance de ver o rosto do paciente pela primeira vez. Meu coração parou por um breve segundo, minha respiração trancou em minha garganta. Era Puma, alguém com quem minha vida tinha se entrelaçado de maneiras que nunca tinha previsto. Cada compressão agora carregava um peso adicional, a urgência não apenas profissional, mas profundamente pessoal.

— Preparar adrenalina! — comandei, minha voz firme, tentando esconder qualquer tremor emocional que pudesse trair minha perturbação interna. A equipe respondeu prontamente, com a enfermeira passando-me o medicamento, que injetei diretamente na linha IV.

As compressões continuaram, cada segundo se estendendo eternamente enquanto lutávamos pela vida de Puma. Após o que pareceram horas, mas na realidade foram apenas alguns minutos críticos, um milagre em forma de um batimento cardíaco fraco e irregular apareceu no monitor.

— Ele está voltando. Vamos estabilizá-lo. Preciso de sangue aqui agora e preparem-se para uma cirurgia exploratória, temos que encontrar e controlar a fonte dessa hemorragia. — Minhas ordens fluíam com a autoridade da experiência, cada palavra focada em aproveitar a segunda chance que Puma acabara de ganhar.

O ritmo na sala de cirurgia era frenético, mas controlado. A equipe respondia com precisão a cada uma das minhas instruções enquanto preparávamos Puma para a cirurgia exploratória. As enfermeiras e técnicos corriam para trazer mais unidades de sangue e equipamentos necessários, enquanto os anestesistas trabalhavam para manter Puma estabilizado sob condições extremamente voláteis.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora