•Capítulo 26•

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Ayume Martins.

Acordei com um desconforto terrível, o pé latejando sob as ataduras, lembrando-me da violência da noite anterior. Tudo ainda parecia um borrão — os tiros, o desespero, a corrida frenética pelas ruas escuras, e, claro, Puma me puxando para a segurança, mesmo enquanto sangrava por causa das balas que tinha levado. Ainda tentando processar tudo, notei que estava em um quarto que não reconhecia, uma espécie de refúgio improvisado.

Enquanto tentava me sentar, a porta se abriu bruscamente. Puma entrou, cambaleante, o rosto marcado por uma expressão sombria e dolorosa, as marcas da cirurgia de emergência para a retirada das balas ainda frescas e vermelhas.

— Você precisa ficar aqui, — ele disse com uma voz fria e cortante, fechando a porta atrás de si com um baque surdo.

— O quê? Por quanto tempo? — Minha voz saiu mais aguda do que eu pretendia, traída pela onda de pânico que senti. — Puma, eu tenho uma vida, sou médica. Não posso simplesmente desaparecer!

— Não temos escolha! — Sua voz era um rosnado, e ele parecia lutar para manter a postura, apoiando-se na parede mais próxima. — Se a polícia começar a te interrogar, eles vão me encontrar. Você entende isso, não é?

— Mas eu não vou dizer nada, — insisti, a raiva começando a ferver dentro de mim. — Por que você acha que eu te entregaria depois de tudo?

— Não é sobre o que você diria ou não, — Puma respondeu, a frustração evidente em seu tom. — É sobre não dar a eles a chance de fazer as perguntas. Você sabe como isso funciona!

Começamos a discutir, vozes elevadas em um espaço tão confinado. Eu estava furiosa, não só pela situação, mas pela audácia dele de pensar que poderia controlar minha vida dessa maneira.

— Eu tenho pacientes que dependem de mim, — continuei, as palavras saindo em um jorro. — Não posso simplesmente desaparecer. Minha ausência vai levantar mais suspeitas do que qualquer coisa que eu pudesse dizer!

— E minha vida? — ele rebateu, e pela primeira vez notei o verdadeiro cansaço em seus olhos. — Se eu for pego, isso é o fim. Para mim não tem saída fácil, não tenho um hospital para voltar, só isso aqui.

Houve um momento de silêncio, onde o peso de suas palavras se assentou entre nós. Puma passou as mãos pelos cabelos, uma mistura de exaustão e dor em cada movimento.

— Olha, eu não quero te colocar nisso, nunca quis, — ele disse mais calmamente. — Mas agora você está, e precisamos pensar em tudo com cuidado.

Senti a tensão no ar, densa e pesada. Apesar da minha raiva, um traço de simpatia por ele surgiu involuntariamente. Ele não tinha escolhido ser baleado ou fugir do hospital logo após uma cirurgia.

— Tudo bem, — eu finalmente murmurei, o fogo da minha raiva se transformando em resignação. — Mas por favor, me diga que há um plano para eu sair disso sem prejudicar minha carreira... minha vida.

— Temos um plano, — ele assegurou, seus olhos encontrando os meus. — Só preciso de um pouco de tempo para organizar tudo. Prometo que isso não vai durar mais do que o necessário.

Ele jogou um iPhone de última geração na minha direção. Agarrei-o no ar, ainda aturdida, e encarei o aparelho, percebendo que não era o meu. Era mais novo, brilhante, intacto, mas completamente estranho nas minhas mãos.

— E o meu celular? — perguntei, a irritação clara na minha voz.

— Quebrou. — Puma respondeu com uma frieza que só fez minha irritação crescer. Ele evitava meu olhar, focando em qualquer coisa no ambiente, menos em mim.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora