•Capítulo 25•

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Ayume Martins.

A manhã seguinte amanheceu com a luz suave do sol filtrando através das cortinas, prometendo mais um dia agitado, mas começou de uma forma inesperadamente doce. Acordei ao som suave da porta do quarto se abrindo e, ao abrir os olhos, vi o Reizinho, sorrindo com uma bandeja de café da manhã nas mãos. Ele havia preparado um café robusto e trouxe torradas com geléia, frutas frescas cortadas e um pequeno vaso com uma única flor, um toque delicado que me fez sorrir apesar do cansaço.

— Bom dia, doutora. Achei que precisaria de um reforço antes do plantão. — Sua voz estava alegre, embora seus olhos traíssem o cansaço de quem também havia acordado cedo para preparar a surpresa.

Agradeci, tocada pelo gesto, e comecei a saborear o café, sentindo o aroma forte despertar meus sentidos, aliviando um pouco da tensão acumulada nos últimos dias. Entre goles e mordidas nas torradas, conversamos um pouco sobre planos triviais para o fim de semana, um contraste bem-vindo com a gravidade dos meus dias no hospital.

Após o café, levantei-me, energizada pelo carinho e pela cafeína, e segui para o banheiro. O ritual do banho matinal funcionou como um momento de transição, lavando as preocupações da noite anterior e me preparando mentalmente para o dia à frente. Deixei que a água quente massageasse meus músculos tensos, e com cada minuto sob o jato, sentia-me mais pronta para enfrentar o que quer que o dia trouxesse.

Depois do banho, vesti-me cuidadosamente para o dia no hospital. Optei por uma roupa confortável, mas profissional: calça de tecido leve e uma blusa de manga longa, complementada por um jaleco impecavelmente limpo e pressionado. Verifiquei minha bolsa para ter certeza de que tinha todos os instrumentos necessários — estetoscópio, prancheta, canetas, e meu tablet para acessar prontuários eletrônicos e pesquisas recentes.

Antes de sair, dei uma última olhada no espelho, ajeitando o cabelo em um coque alto e seguro. Aplicando uma camada leve de maquiagem para disfarçar o cansaço evidente sob meus olhos, respirei fundo, buscando na minha imagem refletida a força necessária para enfrentar os desafios do hospital.

Saindo de casa, senti o ar fresco da manhã, um breve alívio antes de entrar no ambiente fechado e muitas vezes sufocante do hospital. O trajeto até lá foi tranquilo, uma rotina que eu já conhecia bem, mas minha mente estava longe de tranquila. Pensamentos sobre Puma, sobre nossos encontros recentes no hospital, e sobre o complexo entrelaçamento de nossas vidas me acompanhavam, ressoando como uma melodia silenciosa e persistente que me fazia questionar constantemente as escolhas que havia feito.

Ao chegar no hospital, cumprimentei alguns colegas no caminho para o vestiário, onde troquei de sapatos e me preparei para o plantão.

Assim que cheguei ao hospital, meu primeiro destino foi o quarto do Puma para realizar o acompanhamento pós-operatório diário. Apesar dos muitos outros compromissos que demandavam minha atenção, a situação de Puma exigia uma verificação constante, dado o seu estado crítico e o complexo contexto de seu caso.

Ao abrir a porta do quarto, percebi imediatamente que ele estava acordado, sentado na cama e olhando fixamente para a porta. Parecia estar esperando por algo ou alguém, talvez antecipando minha visita. Seu olhar era intenso e carregava uma frieza que me era estranhamente familiar, um resquício dos dias tumultuados de nosso passado, marcados por intensidade emocional e decisões difíceis.

— Bom dia, Hugo. — Cumprimentei, mantendo minha voz neutra e profissional, apesar do desconforto que sentia com a intensidade do seu olhar.

Ele não respondeu de imediato, continuando a me encarar com uma indiferença que beirava o desprezo. Sua expressão era inescrutável, fechada, deixando pouco espaço para qualquer leitura clara de seus pensamentos ou sentimentos. Após um breve momento, ele finalmente respondeu, sua voz baixa e um tanto quanto áspera.

Lance BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora