Coração em Jogo

08_ Jantar em família

ㅡ Isso é difamação! Me fala quem foi que eu processo. Processo todos eles! Até essa tal de Aula. ㅡ Minha mãe virou a esquina para nossa rua.

ㅡ Não, mãe. Relaxa. ㅡ Ri de seu nervosismo. ㅡ É só fofoca. Com o tempo isso passa. Adolescente é assim mesmo. Vai ver por isso eu optava por não ter vida social.

Minha mãe entrou pelo portão com o carro e estacionou na garagem. Saí do carro sentindo minhas pernas doerem e fiz uma careta ajeitando a mochila em minhas costas.

ㅡ Por que está assim? Foi atropelada?

ㅡ Eu fiz o teste para entrar no time de basquete hoje. ㅡ Segui com ela até a porta.

ㅡ E entrou?

ㅡ Entrei. ㅡ Sorri para ela.

ㅡ Ah, minha filha! ㅡ Ela me abraçou tão forte que tirou meus pés do chão. ㅡ Por que não contou antes?

ㅡ Ai, aconteceu tanta coisa hoje que eu acabei esquecendo. É difícil te passar o relatório do que rola todo dia. ㅡ Ela riu abrindo a porta. Minha mãe adorava uma fofoca e quase morria quando eu não contava as coisas que aconteciam comigo.

Minha mãe entrou já chamando por meu pai, que estava em seu escritório. Depois de dar a notícia de que eu tinha entrado para o time e meu pai fazer uma dancinha comemorativa, minha mãe deu a ideia de sairmos para comemorar.

Na hora eu quis recusar, porque tudo o que eu queria era tomar um banho e ficar na cama para descansar, mas eles estavam tão animados que eu não consegui dizer não.

Subi para tomar um banho. Lavei o cabelo, finalizei e fiz uma maquiagem leve, porque era a única que eu sabia fazer. Vesti um vestido que minha mãe tinha comprado no dia em que chegamos e logo estávamos a caminho de um restaurante para jantarmos.

Ainda era estranho pra mim. Eu não tinha me acostumado com toda essa mudança. Ir a um restaurante chique num carro chique e sem se preocupar se a conta vai ser cara era algo que meus pais já haviam se acostumado, mas para mim ainda parecia um sonho muito louco.

ㅡ Família Flores. Reserva para às 20h. ㅡ Meu pai falou com o homem de terno escuro que logo sorriu educadamente para nós após ler algo no enorme livro posicionado numa espécie de púlpito que estava em sua frente.

ㅡ Por aqui. ㅡ O homem seguiu para dentro do restaurante e nós fomos atrás dele. O lugar era grande e muito bonito. Paredes com textura, luzes amareladas, música calma de fundo, cheiro de lugar limpo e comida boa e pessoas muito bem arrumadas sentadas nas mesas.

Ele nos levou até uma mesa vazia e deixou o cardápio sobre a mesa junto a carta dos vinhos.

ㅡ Elena? ㅡ Ouvi uma voz familiar e olhei para trás, encontrando Maria sentada numa mesa maior com um homem, uma mulher e... James.

ㅡ Conhece ela? ㅡ Minha mãe perguntou e a essa altura todos da mesa estavam nos olhando.

ㅡ Sim, do colégio. ㅡ Assenti.

ㅡ Ela é a Elena que eu falei. A família dela se mudou pra frente da nossa casa. ㅡ Maria explicou para o casal sentado com ela. James também estava olhando para mim e foi uma coisa muito esquisita vê-lo tão arrumado de roupas sociais.

ㅡ Oh... ㅡ O homem se levantou e veio até meu pai com a mão estendida e um sorriso no rosto. ㅡ James Cole. ㅡ O homem se apresentou fazendo minhas sobrancelhas franzirem. ㅡ Essa é a minha esposa, Maya, minha filha Maria e meu filho James Cole Junior. ㅡ James pareceu incomodado ao ser apresentado como Junior e eu mordi o lábio para conter a risada. ㅡ A Maria nos disse sobre os novos vizinhos, mas estivemos tão ocupados que nem nos apresentamos.