41_ Ciúmes

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( Narrado por James )

ㅡ E então? ㅡ Maria perguntou assim que pisei em casa. Meu pai e a mãe dela também me olharam esperando a resposta, todos com cara de quem estavam na janela espiando a serenata. ㅡ Que ela tenha dito sim, por favor, Deus. ㅡ Maria implorou com as mãos unidas.

ㅡ Ela disse sim. ㅡ Matei a curiosidade deles. Maria comemorou enquanto meu pai e a mãe dela também sorriram com a notícia.

ㅡ Graças a Deus! ㅡ Maria ergueu as mãos. ㅡ Vou ter uma cunhada boa.

ㅡ Fala como se tivesse tido milhares de cunhadas ruins. ㅡ Tirei o meu tênis e me sentei no sofá.

ㅡ Não, mas o tanto de garota insuportável que gosta de você naquela escola... Eu tinha tudo para ter uma cunhada ruim. ㅡ Maria voltou a se sentar, colocando as pernas para cima do sofá.

ㅡ Fico feliz por você, filho. Espero que cuide bem dela. E não a magoe. ㅡ Foram as palavras do meu pai. Que, para mim, soaram quase que como uma ironia.

Eu não respondi. Não disse o que pensei. Não mencionei o fato de que ele não tinha moral alguma para falar sobre isso comigo, apenas concordei com a cabeça. Eu realmente não queria magoa-la.

Elena foi a primeira garota que mexeu comigo de verdade e eu adoro o jeito dela. Gosto de como ela encara todo mundo e não abaixa a cabeça. Gosto de como ela dança bem, joga bem, se diverte me faz sorrir. Se um dia eu a magoasse e isso mudasse algo no jeito dela, acho que nunca me perdoaria.

Quis rir de meu próprio pensamento. Elena parecia tão forte que acho que não se deixaria abalar por minha causa ou por causa de cara algum. E eu adoro isso nela.

Fui dormir naquela noite pensando nos olhos dela. Em como eles brilharam com as lágrimas assim que comecei a falar no idioma dela. Eu nunca entendi o motivo da minha mãe insistir tanto que eu fosse atencioso e atento aos detalhes. Hoje eu entendo.

Ela sabia que um dia eu conheceria alguém como a Elena e que ela mereceria toda a minha atenção. Que alguém como ela não se pode perder por qualquer bobagem.

Quando acordei na manhã seguinte, não levantei da cama de primeira. Minha cabeça estava doendo e eu pensei até que tinha bebido na noite passada.

Eu bebi? Não. Era só estresse. Estresse porque eu tinha um jogo, um jogo em casa e eu não queria perder isso, mas estava indo mal em algumas matérias e era quase certo de não poder jogar. Sem contar que esse era meu último ano e eu precisava ser aprovado por alguma universidade. Se continuasse indo mal nas provas... Não tinha bolsa de basquete que me salvasse.

Encarei a janela que tinha vista para a casa da Elena e senti um medo nascer dentro do meu peito. Aquele velho medo que me impediu de me relacionar sério com alguém por todos esses anos. O medo de ser como meu pai.

ㅡ James, você viu... ㅡ Maria entrou no quarto, mas parou de falar quando me viu. ㅡ Já viu que horas são? Ta fazendo o que na cama?

ㅡ É cedo. ㅡ Resmunguei. ㅡ Mesmo que eu levante agora, ainda vou precisar esperar meia hora até você ficar pronta.

ㅡ Isso não é verdade. ㅡ Ela pegou meu carregador em cima da cômoda. ㅡ Por que ta com essa cara de tristeza profunda?

Olhei para minha irmã e soltei um suspiro involuntário. Maria revirou os olhos e veio até mim, dando um tapa na minha perna para que eu desse espaço para ela se sentar na cama.

ㅡ Olha, eu nunca mais vou repetir isso, então aproveite o momento. ㅡ Ela começou a falar. ㅡ Eu sei que você tem medo de ser como seu pai. Sei que vocês tem até uma relação boa, mas que no fundo você ainda sente a dor da sua mãe pelo que o seu pai fez e eu realmente sinto muito. Só que... O ditado filho de peixe, peixinho é nem sempre é verdade. Se minha mãe der a louca e sair matando pessoas a sangue frio, não significa que eu também vou virar uma assassina. Seu pai cometeu um erro, mas isso não quer dizer que você vai cometer também. Eu percebi em você desde que a Elena apareceu que ela mexe contigo e consigo perceber que você gosta mesmo dela. Não fica achando que vai acabar magoando ela porque... Não vai.

Um silêncio. Suas palavras faziam sentido para mim e eu quis muito acreditar e me sentir um pouco melhor.

ㅡ O que você fez com a minha irmã? ㅡ Foi minha maneira de quebrar o gelo. O que a fez revirar os olhos de novo e se levantar.

ㅡ Cala a boca e levanta, eu não quero me atrasar. ㅡ Ela me jogou o travesseiro e saiu do quarto.

[...]

ㅡ Parece que minha cabeça vai explodir. ㅡ Resmunguei já no carro com Maria, esperando a Elena aparecer.

ㅡ Você vai esquecer dessa dorzinha já já. ㅡ Ela indicou a janela.

Olhei na direção e vi Elena saindo de casa, que estava completamente enfeitada para o Halloween. Foi bem estranho fazer uma serenata com tantos esqueletos me olhando.

Tive certeza que a dor que eu estava sentindo era pelo estresse, pois assim que Elena passou pelo portão e sorriu para mim, eu já não sentia mais nada. Eu só fiz sorrir e admirar o quanto ela estava bonita.

Não sei se ela sabia o quão linda era, mas cara... Era demais. Não foi atoa que virou sensação no colégio no primeiro dia.

ㅡ Sem reclamação de demora da minha parte? ㅡ Ela perguntou desconfiada, logo após se sentar no banco do passageiro ao meu lado.

ㅡ Eu fiquei tanto tempo aqui esperando que até me esqueci. ㅡ Minha resposta a fez rir, colocando a cinto de segurança.

ㅡ Oi, Maria. ㅡ Elena se virou para trás, trazendo seu perfume até meu nariz.

ㅡ Oi Maria não, agora você me chama de cunhada. ㅡ Maria sorriu convencida.

ㅡ Okay, cunhada. ㅡ Elena riu, voltando a se sentar direito em seu banco.

ㅡ Arg... ㅡ Maria suspirou no banco de trás. ㅡ Preciso arrumar um namorado. Eu to cansada de ser a vela de vocês dois.

ㅡ Sabe que o Jamal perguntou de você no sábado? ㅡ Comentei com deboche. Apesar de que Jamal tinha mesmo perguntado dela na festa da Elena.

ㅡ Jamal? ㅡ Elena sorriu. ㅡ Então, vocês dois... ㅡ Ela apontou para Maria.

ㅡ Nós dois o que? Nós dois nada! Eu nunca tive nada com o Jamal. ㅡ Maria negou de imediato.

ㅡ Não, mas ele vive me implorando pra convencer ela a dar uma chance pra ele. ㅡ Virei a rua da escola e entrei no estacionamento.

ㅡ O que? E por que você não dá uma chance pro cara, Maria? Ele é mó gente boa, engraçado e bonitão. ㅡ O comentário de Elena sobre Jamal me fez encara-la com os olhos semicerrados, mas ela apenas riu balançando a mão.

ㅡ Ele é bobão e eu não quero isso. ㅡ Maria mal esperou eu estacionar e já saiu do carro, encerrando o assunto e nos deixando sozinhos.

ㅡ Então o Jamal é gente boa, engraçado e bonitão? ㅡ Olhei para Elena que voltou a rir.

ㅡ Você entendeu o que eu quis dizer. Acho que ele seria ótimo pra Maria. Por que? Ficou ciúmes? ㅡ Ela tirou o cinto de segurança e cruzou os braços para mim, ainda com um sorriso brincalhão nos lábios.

ㅡ Jamais. ㅡ Destranquei o carro, saí, dei a volta e abri a porta para que ela saísse. ㅡ Eu não faço o tipo ciumento.

ㅡ Ah, que bom porque eu tenho um trabalho em dupla com o Nate, sabe? Vai ser na casa dele e... ㅡ Só percebi que eu estava sério quando ela parou de falar e apontou para mim, rindo como se não houvesse amanhã. ㅡ É brincadeira. Você tem ciúmes, sim.

É, descobri que eu tinha mesmo. Só de imaginar ela na casa do Nate...

ㅡ Você é a garota mais linda desse colégio, eu não tenho como não sentir. ㅡ As palavras saíram sem planejamento, pegando tanto ela quanto a mim de surpresa. Elena me encarou com um sorriso e passou meu braço por seu ombro, para entrássemos juntos no colégio.

•••
Continua...

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