12_ Destino

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Três anos atrás...

ㅡ Ta chovendo muito, Isabel, vamos embora logo. ㅡ Olhei pela janela a tempestade que caía lá fora. Estava ventando tanto que a árvore em frente a casa balançava de um lado para o outro. Parecia que a qualquer momento poderia tombar. ㅡ Isabel?? ㅡ Olhei para trás, mas Isa estava ocupada demais dançando alegremente a música que tocava.

Parte dessa alegria devido ao alto consumo de álcool. Ela tinha mesmo exagerado naquela noite. E eu podia dizer que eu tinha avisado, mas quem consegue impedir Isabel de fazer qualquer coisa que ela queira?

ㅡ Se diverte, Elena! ㅡ Ela disse com a voz arrastada. Não é que eu fosse uma careta, eu gosto de festas, gosto de dançar, ouvir música alta e comer comida de festa, mas já estava muito tarde, estava chovendo e relampejando lá fora e não tínhamos o carona. Dariamos sorte se conseguíssemos um Uber, mesmo que caro.

ㅡ Nós temos que ir. ㅡ Resmunguei com ela, mas ela me ignorou.

ㅡ Qualé, mamãe? Deixa sua filha se divertir. ㅡ Um garoto que eu nem conhecia, que Isa tinha feito amizade naquela festa mesmo, disse em tom de sarcasmo.

ㅡ É, mãe! Relaxa! ㅡ Isa resmungou.

Mais trovoadas e mais relâmpagos soaram. Meu coração estava apertado e eu estava com um pressentimento horrível. Nunca devíamos ter ido para aquela festa.

Atualmente...

ㅡ Toma. ㅡ James me estendeu uma garrafa d'água. Estávamos numa sala que ficava praticamente junto do vestiário. Era uma sala que continha camas, mais como macas, para quando algum aluno se machucava em quadra.

Ali não tinha o teto alto e barulhento do ginásio, então eu já não ouvia mais com tanta força o som das gotas de chuva. Isso me acalmou um pouco, mas eu ainda sentia aquela dor no peito e minhas mãos não paravam de tremer.

Bebi um pouco da água e lá fechei a garrafa novamente. James estava em pé encostado na parede, olhando para mim confuso e sem a menor ideia do que fazer.

Ainda estava sem luz, então estava bem escuro ali dentro.

ㅡ Agradeço se não perguntar sobre isso. ㅡ Puxei o ar com o nariz e passei a mão embaixo dos olhos.

ㅡ Não vou. ㅡ Ele cruzou os braços. ㅡ Mas, acha que consegue ir até o carro? Não querendo te apressar nem nada, mas estamos sozinhos no ginásio sem luz e fora do período de aula. Podemos ser suspensos e o seu pai parece ser bem bravo. ㅡ E em meio a minha crise, consegui sorrir.

ㅡ Você tem medo do meu pai? ㅡ Olhei pra ele.

ㅡ Tenho medo de qualquer pai que descubra que fiquei no escuro com a filha dele. ㅡ Sorri de novo e tomei coragem para me levantar da maca e andar com ele de volta para o ginásio. Ainda chovia bastante, mas fazia uns minutos que eu não ouvia trovoadas. ㅡ Ele não sabe que eu te beijei na biblioteca não, né?

Senti a vergonha me tomar quando ele tocou nesse assunto, mas estava escuro o suficiente para ele não perceber.

ㅡ Não. ㅡ Peguei minha bolsa na arquibancada e ele pegou a dele. Fomos para a porta da saída e encaramos a chuva molhar o gramado. Sem as luzes da escola ligadas, estava um breu lá fora. ㅡ Eu preciso mesmo comprar uma sombrinha.

Ouvi James abrir sua mochila, mas não o olhei. Estava muito ocupada encarando o céu para me certificar de que não haviam mais relâmpagos.

Foi quando senti o casaco de James sendo colocado sobre a minha cabeça. Ele pegou a bolsa de minhas mãos, colocou no seu ombro junto da sua, pegou na minha e me puxou com ele.

Atravessamos o gramado da escola em meio a chuva, correndo e tentando não se molhar demais. Chegamos ao estacionamento e ele destrancou o carro, abrindo a porta da frente para mim e correndo para abrir a do motorista e entrar.

Tirei o casaco dele de cima de mim, encontrando aquele verde vívido do casaco do time. A logo da escola estava estampada, assim como o nome dele na parte de trás.

James colocou nossas bolsas no banco de trás e fechou sua porta. Foi só aí que notei o quão molhado ele estava.

ㅡ Você ta parecendo um cachorro que saiu do banho e vai pra tosa. ㅡ Comentei atraindo seu olhar para mim.

ㅡ Da próxima vez eu te empurro numa poça. ㅡ Gargalhei com seu comentário.

James ligou o carro e saiu do estacionamento da escola. Ele dirigiu por Los Angeles enquanto eu olhava tudo pela janela. A cidade era tão bonita... Eu precisava muito tirar um dia para conhecer os pontos turísticos e fotografar tudo como uma tia turista.

ㅡ Você concorda que estamos convivendo juntos demais para pessoas que se conheceram tem poucos dias, não é? ㅡ Quebrei o silêncio que pairava no carro.

ㅡ Destino.

ㅡ Destino? ㅡ Arqueei uma sobrancelha.

ㅡ Você estuda na minha escola, mora na minha frente e agora ta no meu time. Ou foi o destino, ou você é uma psicopata que tá me perseguindo. ㅡ Balancei a cabeça.

ㅡ Se eu fosse uma psicopata e fosse perseguir alguém, escolheria alguém mais interessante. Alguém com passado sombrio, ficha criminal e um sorriso sarcástico. ㅡ James olhou pra mim com a careta mais estranha do mundo e eu ri de novo. ㅡ Que foi? Eu tenho um fraco por mistério.

ㅡ Sei... ㅡ Ele respondeu ainda achando tudo muito estranho. ㅡ Eu pensei que as mexicanas tivessem um fraco só por dinheiro.

ㅡ É o que?

ㅡ Eu assisti Teresa. ㅡ Ele se justificou e eu abri um sorriso incrédulo.

ㅡ Eu não sou fútil. Dinheiro é ótimo, mas não é disso que eu gosto. ㅡ Ajeitei o casaco dele no meu colo.

ㅡ Então, do que você gosta? ㅡ Estreitei os olhos com sua pergunta e tentei pensar em algo que não fosse basquete. Geralmente esse era o meu hobby mais frequente, apesar de não ser algo que eu queira fazer pra sempre.

ㅡ Gosto de dançar. ㅡ Dei com os ombros.

ㅡ Você não tem cara de que dança. ㅡ Fiz uma careta pra ele.

ㅡ Como assim? Eu não danço profissionalmente, mas não acho que eu seja ruim nisso. ㅡ Cruzei os braços.

ㅡ Aposto que danço melhor que você. ㅡ Ele abriu um sorriso provocador e eu percebi que ele estava apenas tentando me irritar, algo que ele fazia com certa frequência.

ㅡ Bom... Acho que temos uma festa sexta-feira a noite. Lá nós vemos isso. ㅡ Sorri convencida e percebi que estávamos na rua de casa.

ㅡ Então, você vai comigo?

ㅡ Acho que vou convencer a Maria a ir, para ir com ela. ㅡ Ele estacionou em frente a minha casa.

ㅡ De qualquer forma, vai comigo. Acha que ela vai com quem? ㅡ Ri dele e peguei minha bolsa no banco de trás. Ainda estava chovendo quando abri a porta, então voltei a colocar o casaco em cima da minha cabeça. ㅡ Algum dia eu te devolvo.

ㅡ Na linguagem das mulheres isso não quer dizer nunca? ㅡ Ele perguntou, mas saí do carro e fechei a porta sem respondê-lo.

Corri até meu portão, abri e corri novamente até a varanda de casa. James já tinha entrado com seu carro em sua casa quando olhei para trás.

Um vento frio bateu em mim e eu logo abri a porta para entrar em casa. Sentir o clima quentinho ali de dentro me fez relaxar na hora.

ㅡ Onde você estava? ㅡ Minha mãe me questionou.

ㅡ De quem é esse casaco? ㅡ Meu pai perguntou.

•••
Continua...

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