47_ Grande Família

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A cada dia que se passava eu me sentia mais pressionada. Nunca pensei que meu último ano na escola seria desse jeito. Nos últimos dois anos eu passei cada dia desejando que o tempo passasse logo e eu pudesse me formar e ir para alguma faculdade aleatória que eu conseguisse passar. Na minha cabeça, as pessoas na universidade estão ocupadas demais com suas vidas para notar que eu era a excluída esquisita.

Só que agora... As coisas mudaram drasticamente. Eu já não desejo me formar assim tão rápido. Eu tenho gostado tanto da escola e das coisas que tenho vivido lá que já não existe esse desespero em mim de me formar logo.

Os jogos, as festas, os trabalhos em grupo, as coisas que tenho vivido com o pessoal... Nada disso eu quero que acabe.

Percebi que o tempo estava passando rápido quando fui buscar meus pais no aeroporto. Caramba, um mês! O Halloween e o dia de los Muertos já é essa semana, o Natal já é daqui a umas semanas, ano novo e logo depois meus últimos meses na escola.

Meus pensamentos tristonhos foram interrompidos pelos meus pais que apareceram no aeroporto. Eles estavam mais bronzeados e com o semblante mais leve que já vi no rosto deles.

ㅡ Elena... ㅡ Eles me abraçaram. ㅡ Como você está, querida? Por que essas olheiras? Você ficou maratonando coisas de madrugada de novo? ㅡ Minha mãe analisou o meu rosto e focou os olhos bem embaixo dos meus.

ㅡ Provas, eu estudei até tarde. ㅡ O que não era mentira. Tivemos muitas provas nas últimas semanas e eu optei por estudar a noite porque estava ocupada demais treinando ou passando tempo com o James durante o resto do dia.

ㅡ Estudando sozinha? ㅡ Meu pai me analisou com aquele olhar desconfiado.

ㅡ Sim, pai. ㅡ Ri os ajudando a puxar as malas. ㅡ Como foi a viagem?

Nós seguimos para fora do aeroporto, onde o motorista já esperava por nós. Ele abriu a porta do carro para entrarmos e logo já estavam voltando em direção a nossa casa.

ㅡ O que você fez com a nossa casa, Elena? ㅡ Foi a primeira coisa que saiu da boca da minha mãe quando o motorista entrou pelo portão e pudemos ver a minha decoração de Halloween.

ㅡ O Halloween é essa semana. Mas, relaxa, também comprei decoração para o Dia de los Muertos. Assim que o Halloween acabar troco tudo. ㅡ Saí do carro e esperei minha mãe sair para fechar a porta.

ㅡ Que bom, porque nossa família está vindo aí e a sua abuela leva muito a sério o dia de los Muertos. ㅡ Minha mãe saiu do carro, mas eu estava ocupada demais chocada com a nova informação para fechar a porta.

ㅡ Nossa família está vindo? A família toda?

ㅡ Sim, não te contei? Eu jurei que tinha mandado uma mensagem avisando. ㅡ Ela entrou em casa e eu fechei a porta do carro. A segui esperando que ela citasse quem viria, o que ela começou a fazer logo após largar a bolsa no sofá. ㅡ Vai vir minha mãe, minha irmã, seu primo, meu irmão e a esposa dele. Isso só da minha parte, porque alguns parentes do seu pai também vai vir.

ㅡ Meu Deus... ㅡ Me apoiei no sofá. Eu não tinha nada contra minha família, amava cada um deles, mas eu gostava de me preparar mentalmente para recebê-los. Pensa num povo bagunceiro, escandaloso e barraqueiro. Essa era minha família. Sem contar que a família da minha mãe e a do meu pai não se dava tão bem, então sempre rolava umas discussões idiotas. ㅡ Quando eles chegam?

ㅡ Hoje. ㅡ Um segundo depois da resposta da minha mãe eu já estava na escada correndo para o meu quarto.

Se a família do meu pai viria, significa que as minhas primas gêmeas de seis anos também viriam, e elas são daquele tipo de criança que mexe em tudo! Da última vez que elas no visitaram, ainda lá no México, elas acharam minha bolsa de maquiagem e simplesmente usaram tudo! Ou melhor, estragaram tudo!

Passei cerca de uma hora no meu quarto guardando e escondendo tudo que elas pudessem achar atraente e pegar para destroçar.

Ouvi a campainha tocar e corri para a janela para ver se eram eles. Um alívio tomou conta de mim quando vi que era James.

Tranquei a porta do meu quarto e desci até o andar debaixo. A porta da sala já estava aberta quando cheguei. Fui até a porta e vi que a empregada tinha ido abrir o portão para ele, então apenas me sentei no primeiro degrau da varanda e esperei ele vir até mim.

ㅡ Obrigado. ㅡ Ele disse à Ambar, que voltou para dentro da casa. ㅡ Toma. ㅡ Ele jogou um saco plástico no meu colo e se sentou ao meu lado.

ㅡ O que é isso? ㅡ Olhei dentro e vi uma porção de doces diferentes, como pirulitos, balas e chocolates. ㅡ Você assaltou um depósito de doces?

ㅡ Minha madrasta está organizando os doces para o Halloween. Pras crianças que batem na porta pedindo. Ela comprou demais e deu um pouco pra Maria e pra mim. ㅡ Peguei um dos pirulitos e abri a embalagem. ㅡ A Maria está enfurnada no quarto comendo tudo.

ㅡ E você trouxe o seu pra mim. ㅡ Tirei o pirulito da boca e sorri pra ele. ㅡ Obrigada, eu adoro essas besteiras.

ㅡ Os seus pais já chegaram?

ㅡ Já e o resto da minha família também está chegando. Eles vem passar o dia de los muertos.

ㅡ Sério? A sua família se reúne? ㅡ Ri de sua pergunta. ㅡ A minha nem olha na cara uma da outra. Eles não se gostam muito.

ㅡ E se eu disser que a família é igual? A minha família por parte de mãe não se dá com a minha família por parte de pai. E mesmo assim estão todos vindo prá cá. ㅡ Apoiei minha cabeça no ombro dele. ㅡ Eles sempre discutem. Não quer me levar pra sair hoje, não? ㅡ Voltei a olha-lo. ㅡ Só pra me tirar de casa.

ㅡ Na verdade tem uma festa de Halloween essa noite e eu vim te chamar para ir.

ㅡ Eu aceito, aceito, aceito. Já tenho até fantasia. ㅡ Sorri empolgada.

ㅡ Eu ainda não sei do que vou vestido. ㅡ Ele encarou o portão da minha casa.

ㅡ Vai de jogador de basquete. ㅡ James olhou para mim com uma careta e eu comecei a rir.

ㅡ Acho que sua família chegou. ㅡ Olhei na direção do portão e vi um grupo de pessoas. É, eles tinham chegado.

Estava prestes a me levantar, mas a empregada apareceu antes e foi até o portão para abrir. Logo entrou a minha avó, minha tia por parte de mãe, meu primo, filho adotivo dela, meu tio por parte de mãe e a esposa dele. Juntamente estava meu avô por partes de pai, meu tio e as filhas gêmeas dele, minha tia por parte de pai e meu outro tio solteirão.

ㅡ É, eu acho que vou pra minha casa. ㅡ James ameaçou ir embora, mas eu segurei seu braço.

ㅡ Pelo amor de Deus, fica aqui. ㅡ Abri um sorriso para recebê-los.

ㅡ Elena! ㅡ Cada um veio até mim e me deu um abraço. Quando estava na penúltima pessoa, meus braços já estavam doendo.

ㅡ Meus pais estão lá dentro, pode entrar. ㅡ Falei isso ao final de cada abraço para todo mundo ir entrando.

Eles também cumprimentaram James sem nem saber quem era.

Todos foram entrando até a última pessoa sobrar, Juan, o meu primo adotivo. Minha tia tinha adotado ele já com uns quinze anos, então não crescemos juntos nem nada. Tudo o que eu sabia sobre ele era o fato de dar em cima de qualquer garota que ele visse na frente.

ㅡ Quanto tempo, Elena. ㅡ Ele sorriu cruzando os braços. Juan era bonito, então na maior parte das vezes que ele dá em cima de alguém, essa pessoa sempre fica com ele, o que resultou num cara extremamente convencido.  ㅡ Você está linda. ㅡ Ele me olhou dos pés a cabeça.

ㅡ Oi, Juan. ㅡ Apertei os olhos por causa da claridade do sol.

ㅡ Eu não ganho abraço? ㅡ Ele abriu os braços com um sorriso ladino.

ㅡ Quer um abraço meu? ㅡ James o encarou dando um passo a frente.

•••
Continua...

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