ㅡ Congelei o cérebro.
Espera, eu disse isso alto? É, pela risada que James estava dando, eu realmente disse isso alto. O que há comigo que acabo agindo sem filtros perto dele? Falo cada bobeira que jamais falaria perto de outras pessoas...
ㅡ Faz tempo que não ouço isso. ㅡ Ele seguiu caminhando ao meu lado pela calçada suja de areia.
Fazia uns cinco ou seis minutos que estávamos caminhando em frente a praia. Ele comprou o sorvete que pedi e estava tomando um que acho ser de menta ou algo assim.
ㅡ O que você costuma fazer aos domingos? ㅡ Tentei mudar de assunto pelo constrangimento.
ㅡ Nada.
ㅡ Nada? Você fica o dia inteiro atoa? ㅡ Fingi julga-lo. Eu também fazia o tipo de pessoa que, se deixar, passa o dia fazendo vários nadas.
ㅡ Domingos não são pra isso? ㅡ Ele deu com os ombros.
ㅡ Acho que você tem razão. ㅡ Assenti e tomei mais um pouco do sorvete, antes que derretesse na casquinha e sujasse minhas mãos.
O clima era quente, com sol e sem nuvens, apesar de nem no verão estarmos. Haviam banhistas na praia, assim como algumas crianças correndo e brincando com bolas de plástico. A brisa que vinha do mar estava bagunçando nossos cabelos, o que, pra mim, era uma merda. Para James... Ele parecia até o Encantado de Shrek com suas madeixas esvoaçantes.
ㅡ Nós não estamos no outono? ㅡ Fiz outra pergunta aleatória.
ㅡ Sim. ㅡ Ele levou o sorvete até a boca. ㅡ Por que?
ㅡ Não parece. Tem feito muito calor. ㅡ Mordi a casquinha do sorvete. ㅡ Quero usar minhas roupas de outono. E enfeitar a casa com tons terrosos.
ㅡ Gosta do Halloween? ㅡ Foi a vez dele de perguntar.
ㅡ Gosto da maioria dos feriados, mas vai ser a primeira vez que experimentarei o Halloween dos Estados Unidos. Você sai para pedir doces como nos filmes? ㅡ Lhe dei um empurrão de leve com o ombro.
ㅡ Não, só as crianças recebem doces. Se eu bater na casa de alguém pedindo doce, eles chamam a polícia. ㅡ Ri e senti o sorvete derreter e sujar meus dedos.
ㅡ Droga... ㅡ Segurei o sorvete com a outra mão e balancei a mão suja na tentativa de limpa-la.
James, surpreendendo-me, pegou um lenço em seu bolso e limpou meus dedos.
ㅡ Você anda com lenços? ㅡ O encarei com um olhar suspeito.
ㅡ Como vou te explicar isso... ㅡ Ele correu até a lixeira e jogou o lenço, logo depois voltamos a caminhar na calçada. ㅡ Minha mãe me criou dizendo que eu devia ser um cavalheiro. Que eu devia abrir portas, ser atento a detalhes e... Carregar algum lenço sempre que fosse sair com alguma garota. Ela dizia que garotas sempre precisam, seja pra limpar maquiagem que borrou, sorvete derretido... ㅡ Ele indicou minha mãe.
Isso explica muito.
ㅡ Sua mãe devia ter sido uma mulher incrível. ㅡ Terminei o sorvete.
ㅡ Ela era. ㅡ Ele também terminou o sorvete dele. ㅡ Merecia mais do que teve. ㅡ O tom dele mudou e eu soube que estava se referindo a traição de seu pai.
Mordi o lábio inferior observando sua expressão de tristeza e saudade misturadas. Ele parecia perdido em seus pensamentos e eu quis muito que ele me contasse tudo o que estava pensando, seja lá qual for a lembrança.
ㅡ Vocês eram muito próximos? ㅡ O encorajei a falar.
James abriu um curto sorriso e concordou com a cabeça.
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Coração em Jogo
RomancePuerto Vallarta, México, era o seu lar desde criança. Elena Flores tinha uma vida simples, morando com seus pais, indo a escola e fazendo parte do time de basquete. Porém, tudo muda quando sua família ganha na loteria e decidi se mudar para Los Ange...