52_ Invocação do mal

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Depois de James tomar um banho, trocar de roupa e se vestir como uma pessoa normal, pegou roupas para o Jamal e parou na porta de seu quarto, olhando para mim.

ㅡ Que foi? ㅡ Pendi a cabeça para o lado, deixando o celular cair no colo.

ㅡ Vai se fantasiar de que amanhã? ㅡ Ele se aproximou.

ㅡ Não posso contar, é uma surpresa. ㅡ Abri um sorriso convencido. ㅡ Mas, não crie expectativas. Não é nada inovador. Só... Tem um bom significado para mim. ㅡ Me levantei para ficar a sua altura.

ㅡ Não preciso criar expectativas. Você sempre me surpreende, independente de como esteja. ㅡ Suas palavras me fizeram abrir um sorriso sincero.

ㅡ Não acho que vou estar bonita amanhã, mas obrigada. ㅡ Voltei a olhar em seus olhos. ㅡ E você? Do que vai se vestir?

ㅡ Também não posso dizer. E, para falar a verdade, estava morrendo de medo de você remexer em tudo aqui enquanto eu tomava banho e encontrar a minha fantasia.

ㅡ Ah, não acredito que perdi a oportunidade de remexer em tudo aqui! ㅡ Resmunguei. ㅡ O que será que eu encontraria? ㅡ Arqueei uma sobrancelha para ele.

ㅡ Nada além de muitas fotos sua que usei para fazer simpatia pra você gostar de mim. ㅡ Sua resposta me fez gargalhar de novo. ㅡ Eu te amo, sabia?

Meu peito se aqueceu de tal maneira que eu senti que poderia derreter bem ali na frente dele. James despertava em mim coisas que eu nunca havia sentido e parecia curar coisas ruins que antes eu sentia o tempo todo.

Era confortável estar com ele. Extremamente seguro e confortável.

ㅡ Eu também te amo.

[...]

Eram quase quatro da manhã e ninguém havia dormido ainda. Digo, ninguém estava no meu quarto.

Minha família já não fazia mais escândalo na sala, então supus que estavam todos dormindo. Mas, no meu quarto, a bagunça estava armada.

Aila, Maria e Flora tomaram banho no meu banheiro e vestiram minhas roupas. Cada uma roubou um pijama que eu nem sabia da existência, provavelmente minha mãe comprou e colocou lá.

Jamal também tomou banho no meu banheiro e teve a audácia e de sair de lá com o cabelo molhado, dizendo que amou usar shampoo de rico.

Nós assistimos filmes de terror, para entrar no clima do Halloween, eles assaltaram a geladeira, depois os garotos começaram a jogar algo no celular enquanto as meninas procuravam inspirações de fantasia no Pinterest.

ㅡ E se eu só jogar um lençol em cima de mim com dois buracos pros olhos? ㅡ Flora perguntou já cansada de procurar uma fantasia.

Haviam quatro colchões no chão. Apenas Jamal e James estavam sentados neles, com as costas apoiadas nas paredes e com a cara enfiada no celular. As meninas estavam sentadas na cama comigo.

ㅡ Se eu for de líder de torcida, vai parecer falta de criatividade? ㅡ Aila perguntou.

Elas continuaram conversando sobre isso e eu olhei para a janela. Não foi a primeira vez que olhei para a janela naquela noite. Não foi a primeira vez que notei que estava chovendo. Não foi a primeira vez que notei as trovoadas e os relâmpagos. Nem os raios barulhentos. Mas, caramba, só agora eu tinha notado que estava chovendo com raios e trovoadas e eu não tinha ficado com medo! Eu não tinha me apavorado e nem lembrado daquele dia!

Outro raio caiu por perto. Alto suficiente para as meninas se assustarem e Jamal jogar o celular longe.

James olhou para mim parecendo preocupado, mas eu sorri para ele. Um sorriso que dizia que eu estava bem. Não sei como, mas estava.

ㅡ Vamos ver outro filme? A gente só viu o um, vamos ver o dois. ㅡ Flora pediu já ligando a televisão e colocando Invocação do mal 2 para passar.

ㅡ Eu já volto. ㅡ Me levantei da cama e saí do quarto tentando não parecer desesperada.

Fui até a janela do corredor e encarei a chuva que caía lá fora. As ondas que quebravam na praia ao longe, as casas enfeitadas para o Halloween, os raios que cortavam o céu... Aquilo não me dava medo, me causava admiração. Eu achei uma vista magicamente bonita!

Precisei sair correndo do quarto para ter certeza que eu estava bem, não só porque estava cercada de gente, mas que estava realmente bem.

ㅡ Elena? ㅡ James apareceu em meio ao corredor escuro.

ㅡ Desgraça, que susto! ㅡ Resmunguei.

ㅡ Desculpa. ㅡ Ele riu. ㅡ Eu vim ver se você estava bem.

ㅡ Eu estou bem. E isso é muito esquisito! Eu estou bem! Ta tipo... Caindo o mundo lá fora e eu não estou com medo. Eu... Eu estou lembrando da Isa, óbvio, mas isso não me apavora. Caramba, eu tomaria banho nessa chuva, mas não superei tanto assim. ㅡ James riu e se aproximou de mim. Ele me abraçou por trás e nós olhamos para a janela.

ㅡ Significa muito pra mim estar com você em momentos assim. ㅡ Ele beijou o meu ombro. ㅡ Obrigado.

Eu não consegui respondê-lo, estava ocupada demais com os olhos fechados, ouvindo a chuva e sentindo a melhor sensação do mundo nos braços dele.

A chuva diminuiu. Um som estranho vindo do quarto atrás de nós me fez abrir os olhos.

ㅡ Isso é... ㅡ James olhou na direção da porta.

ㅡ Ai, é a minha avó! ㅡ Meu rosto se enrugou numa careta. Minha avó estava gemendo dentro do quarto. ㅡ E o meu avô? ㅡ Arregalei os olhos. ㅡ Ai, que nojo, vamos sair daqui.

ㅡ A gente sempre passa por isso. Lembra do cinema? ㅡ James riu enquanto voltávamos para o quarto.

ㅡ Meu Deus, sim! ㅡ Ri abrindo a porta do meu quarto, dando de cara com todos olhando para nós, com o filme pausado na tela.

ㅡ Até que enfim! ㅡ Maria reclamou.

ㅡ Desculpa. ㅡ Ergui as palmas das mãos.

Flora soltou o filme e nós começamos a prestar atenção. Eu me ajeitei em minha cama, me cobri com a coberta e olhei para a tela da televisão. Estava me sentindo tão bem que desejei que o filme durasse muito.

Porém, não durou. Quando acordei, já era meio dia.

Deixei o meu celular na mesa de cabeceira e olhei em volta. Jamal estava caído no chão. Maria estava dormindo em um dos colchões, Flora também e Aila estava toda coberta feito um casulo. James não estava no quarto.

Cocei os olhos os sentindo pesados. Dormir quase seis da manhã não deve ser saudável pra ninguém.

Me levantei da cama e fui até a janela. Já não estava mais chovendo, estava apenas dublado, um clima bem melancólico, na verdade. Perfeito para o Halloween.

Desviei do Jamal jogado no chão e dos colchões e saí do quarto. Passei pelo corredor e desci até a cozinha, onde minha família já estava almoçando. James estava no meio. Simplesmente.

ㅡ Bom dia, filha. ㅡ Minha mãe sorriu após colocar uma travessa de macarronada sobre a mesa. Tinha tanta comida naquela mesa, mas eu conhecia minha família o suficiente para saber que aquilo não seria suficiente.

ㅡ Já está bem a vontade? ㅡ Encarei James.

ㅡ Claro. ㅡ Ele sorriu. ㅡ Servida? ㅡ Ri balançando a cabeça.

•••
Continua...

Coração em Jogo Onde histórias criam vida. Descubra agora