Só voltei a sala depois de estar aparentemente apresentável. Porém, a vergonha pela cena que vivi a uns minutos atrás estava me perseguindo como uma sombra e fez queimar o meu rosto quando desci as escadas e encontrei James com meus pais.
ㅡ Você ta bem? ㅡ Meu pai me questionou assim que me sentei no sofá ao lado de James. Provavelmente por causa da minha cara de vergonha. Cara de quem queria ter dormido um pouco mais ou simplesmente não ter descido as escadas feito uma louca de cabelos pro alto e sem escovar os dentes.
ㅡ Estou. ㅡ Puxei uma das xícaras de café que estava na mesa e dei um longo gole, sem me perguntar quem era o dono daquele café.
ㅡ Bom... ㅡ Minha mãe voltou a falar, tentando fingir que nada aconteceu. ㅡ Nós chamamos o James aqui para conversarmos sobre o que vai acontecer agora que vamos viajar.
ㅡ E o que vai acontecer? ㅡ Arqueei uma sobrancelha.
ㅡ O James vai ficar encarregado de nos contar qualquer coisa que acontecer com você. Se se machucar, sofrer um acidente, quebrar uma parte do corpo jogando basquete, incendiar a casa... Coisas que você não nos diria. ㅡ Ela sorriu.
ㅡ Ta brincando comigo, né? O James vai, tipo, tomar conta de mim? E me caguetar pra vocês sempre que eu fizer alguma merda?
ㅡ É. ㅡ Meu pai assentiu.
ㅡ Não é no sentido de você fazer alguma coisa errada e eu ser um x9. É só para o caso de você estar precisando de alguma ajuda e for orgulhosa demais para pedir, achando que está incomodando ou atrapalhando a viagem deles. Se você resolver experimentar maconha, já é diferente. ㅡ James explicou, mas sua frase irônica ao final fez meus pais o encararem. ㅡ É brincadeira.
ㅡ Ta, eu entendi. ㅡ Concordei com a cabeça. ㅡ Mas, por que o James?
ㅡ Porque você conta tudo pra ele. ㅡ Minha mãe deu com os ombros.
ㅡ Quem disse isso? ㅡ Franzi as sobrancelhas.
ㅡ É o que parece. Enfim, era sobre isso que estávamos falando. Se você não fosse orgulhosa e nos contasse as coisas, não precisaríamos fazer isso. ㅡ Minha mãe encarou James. ㅡ Acredita que teve uma vez que nós deixamos ela na casa da minha mãe para irmos a um velório em outra cidade, ela caiu na escola e não contou para ninguém? Nem para a avó?
ㅡ Sério? Que absurdo! ㅡ Foi o que James respondeu, com uma incrível cara falsa de preocupação.
ㅡ Não, é? ㅡ Minha mãe entrou na onda dele. ㅡ Por isso queremos nos conte tudo.
Minha mãe seguiu contando situações em que coisas aconteceram comigo e eu não contei. E, para minha defesa, não é que eu seja uma pessoa que esconde as coisas dos pais, acontece que todas essas situações que ela citou, aconteceram num momento que eu sabia que não era a hora.
Como eu ia preocupar minha mãe que já estava sofrendo num velório?
O dia em que eu voltei da escola com um olho roxo porque me meti numa briga com um garoto, foi o dia que meu pai conseguiu juntar as economias pra ir jantar com a minha mãe, para comemorar o aniversário de casamento. Eu lá vou estragar o clima mostrando meu olho saindo pra fora.
Eu estava tentando ignorar a conversa até minha mãe olhar para o relógio e dizer que precisava ir.
ㅡ Não podemos nos atrasar. ㅡ Ela se levantou e chamou por uma das empregadas para guardar a bandeja de café.
Admito que me sinto uma esnobe por não saber o nome de nossas empregadas, mas eram tantas e foram contratadas todas de uma vez. Acho que nesse tempo que ficarei sem meus pais, vou ter tempo de conhecer pelo menos essa, pois meus pais só deixaram ela aqui durante o tempo em que vão estar fora, pois é a única que conhecem e confiam por enquanto.
A mulher levou a bandeja de de volta para a cozinha e meus pais se aproximaram da porta com suas malas. James e eu seguimos na direção deles e ali eu já estava sentindo um aperto no coração. Nunca fiquei tanto tempo longe deles e muito menos a tantos quilômetros de distância.
ㅡ E para onde vocês vão? ㅡ Perguntei pois, da última vez que falaram, nem o destino tinham decidido ainda.
ㅡ Havaí. ㅡ Os dois responderam juntos com um sorriso que quase fez o aperto no meu peito diminuir.
ㅡ Querem que eu deixe vocês no aeroporto? ㅡ James perguntou.
ㅡ Bom... O nosso motorista ia nos levar, mas se você faz questão, a gente economiza gasolina. ㅡ Meu pai sorriu mostrando os dentes.
ㅡ Espírito de pobre não larga a gente. ㅡ Ri balançando a cabeça.
Nós saímos de nossa casa e esperamos na calçada, até James pegar o seu carro em sua casa e parar na nossa frente. Ele desceu do carro, pegou as malas dos meus pais e colocou no porta malas. Ele também abriu a porta para mim e para minha mãe e ela assentiu com aquele olhar de quem dizia: que cavalheiro.
Eu fiz uma careta querendo dizer que era falsidade dele, mas eu sabia que não era. James abria portas para entrar e sair do carro e carregava minha bolsa quando via que estava pesado. Como eu já disse: ele era detalhista.
James dirigiu até o aeroporto, que chegou mais rápido do que eu queria. No caminho, ele e meu pai foram conversando sobre a Eurocopa. Eu não acompanho muito futebol, por isso nem me meti no assunto.
Nós saímos do carro e James foi estacionar. Meus pais passaram por toda burocracia de malas e passagens, até que seu vôo foi anunciado e eles precisaram ir. Dei um abraço apertado em cada um e sorri os vendo partir. Sorri porque eles mereciam tanto aquilo. Só Deus sabe as dificuldades que eles já passaram. Estarem indo tirar férias no Havaí é mais do que merecido.
ㅡ Eles já foram? ㅡ James apareceu ao meu lado e eu abaixei o olhar. ㅡ Achar vaga em aeroporto é uma merda.
ㅡ Ta tudo bem. ㅡ Sorri para ele, mas meus olhos estavam lacrimejando.
ㅡ Ei, o que foi? ㅡ James tocou meu queixo e me fez encara-lo.
ㅡ Nada, eu só estou feliz. Feliz que eles estão finalmente vivendo a vida. ㅡ Uma lágrima escorreu em meio ao sorriso. Lágrimas que James logo secou.
ㅡ Eu te entendo. ㅡ James me abraçou. ㅡ Mas, não chora. O que posso fazer pra te distrair? ㅡ Ele olhou para mim, ainda com os braços ao meu redor.
ㅡ Eu adoraria um sorvete de baunilha com muita calda de caramelo. ㅡ Ele riu assim que me ouviu.
ㅡ Tem uma sorveteria ótima perto da praia. A gente pode dar uma passadinha lá antes de eu te levar pra casa. ㅡ Ele tocou a palma da mão na minha bochecha e eu sorri.
ㅡ Se você pagar, tudo bem, porque eu de rica só tenho os pais. ㅡ James riu novamente e nós saímos do aeroporto.
•••
Continua...
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Coração em Jogo
RomancePuerto Vallarta, México, era o seu lar desde criança. Elena Flores tinha uma vida simples, morando com seus pais, indo a escola e fazendo parte do time de basquete. Porém, tudo muda quando sua família ganha na loteria e decidi se mudar para Los Ange...