30_ Desabafo

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Annyeong!
Antes do capítulo gostaria de explicar o motivo por eu ter sumido daqui por quase duas semanas. Acontece que, para quem não sabe, eu faço aulas de dança num estúdio aqui da minha cidade, faço ballet e Hip-hop. E acontece que nesse último fim de semana ( dia 5 e 6 ) aconteceu o espetáculo do meio do ano. O que significa que nas últimas semanas eu tive aula quase todos os dias. Eu também fiquei doente e estou com o siso nascendo, então aconteceu tudo de uma vez. Eu preferi tirar esse tempo sem escrever, porque achei que escrever enquanto tudo isso acontecia me faria escrever de qualquer jeito e não seriam bons capítulos, então dei essa pausa.

Enfim, o espetáculo passou, deu tudo certo e vou voltar a postar regularmente agora, se Deus quiser. Se alguém tiver curiosidade de ver como foi, postei storys e deixei destacado no meu perfil nos destaques " dance ". Até breve!

•••

A vista do letreiro de Hollywood era tão bonita quanto imaginei. Não sou muito de admirar vistas. Admito que as vezes eu queria ser como essas meninas conceituais que meditam, fazem yôga, sentam ao ar livre e só respiram e ficam assim por horas, mas eu não aguento nem dez minutos sem fazer nada.

Se me mostrar um pôr de sol lindo, eu vou admirar por exatos três segundos e vou fazer outra coisa.

ㅡ Você ficou quieta o caminho inteiro. ㅡ James voltou a falar e eu olhei para ele.

Pensando bem... Isso também acontece com relação a pessoas. Talvez o problema seja eu. Talvez seja o medo de me apegar e ter que me despedir, mas eu nunca mantenho uma relação muito longa com as pessoas. Esse era um dos fortes motivos por eu não ter amigos em Puerto Vallarta. Eu me afasto das pessoas.

Por isso era tão estranho eu estar sentindo que estava me apegando a James. Eu já estava com medo da despedida, sendo que normalmente eu só me afastaria dele antes de me apegar demais.

ㅡ Você ta bem? ㅡ Ele perguntou novamente e só aí percebi que não o tinha respondido.

ㅡ Estou. Só preciso de umas sessões de terapia. ㅡ Voltei a encarar a vista. Estávamos sentados bem embaixo do letreiro e a brisa que batia em nós era tão gostosa que eu me permiti fechar os olhos.

ㅡ Por qual motivo? Vai, desabafa. Finge que sou um terapeuta. ㅡ Abri os olhos para encara-lo com uma careta e percebi que ele havia ajeitado a postura e estava se fazendo de sério.

ㅡ Não vou desabafar com você. Eu já fiz isso uma vez e não sei se quero que você saiba mais sobre mim. ㅡ Encolhi minhas pernas e as abracei, apoiando o queixo no joelho.

ㅡ Então vamos combinar assim. Eu falo algo de mim e você fala de você. Assim você não vai estar " desabafando " sozinha. ㅡ Observei seu rosto após ouvir o que ele tinha sugerido e bufei.

ㅡ Ta bom. ㅡ Concordei com a cabeça. ㅡ Você primeiro.

ㅡ Ta, deixa eu pensar em algo profundo. ㅡ Ele ficou uns segundos em silêncio. ㅡ Tenho medo de ser igual ao meu pai.

ㅡ Como assim?

ㅡ Você sabe que meu pai traiu minha mãe com a mãe da Maria. E por mais que ele tenha se arrependido e feito a minha mãe feliz enquanto ela estava aqui, tenho medo de me relacionar e ser igual a ele. Eu vi o quanto a minha mãe sofreu e não gostaria de causar isso em ninguém. ㅡ Aquele momento foi como se James tivesse tirado uma camada dele na minha frente. O jeito brincalhão foi deixado de lado e ele disse algo com uma sinceridade tão nítida em seu rosto que me senti ainda mais próxima dele.

ㅡ Babaquice não é uma coisa hereditária. ㅡ Ele franziu as sobrancelhas pra mim e eu ri. ㅡ Desculpa, as vezes eu sou insensível. Eu só quis dizer que... Por mais que seu pai tenha sido um babaca no passado, isso não quer dizer que você também vai ser.

ㅡ Eu sei disso. ㅡ Ele abaixou o olhar. ㅡ Mas ainda tenho esse medo. ㅡ Ele voltou a me olhar. ㅡ Sua vez.

ㅡ Bom... ㅡ Suspirei. ㅡ Lembra que eu falei que eu tinha medo de viver a minha vida? Isso se aplica a muito mais do que apenas não ir na piscina, ou não sair mais, ou ter medo do novo. ㅡ Encarei Los Angeles. ㅡ Eu não tinha amigos em Puerto Vallarta porque me afasto das pessoas. Não sei se fico com medo delas não gostarem de mim, ou se só não quero ter que me despedir de novo, mas eu nunca mantenho uma relação por muito tempo.

ㅡ Você perdeu alguem, né?

Sua pergunta fez lágrimas ameaçarem inundar meus olhos, então olhei para o alto e respirei fundo tentando impedir.

ㅡ Sim. Isabel. ㅡ Encarei o céu. ㅡ Era minha melhor amiga, quase como uma irmã. Crescemos juntas e tem pouco mais de um ano que ela morreu. Desde então não me sinto preparada para passar pelo luto de novo.

ㅡ Eu sinto muito. Perder alguém não é nada fácil.

ㅡ Me desculpa, James. Você perdeu sua mãe e eu aqui falando das minhas perdas. ㅡ Balancei a cabeça e joguei meu cabelo para minhas costas.

ㅡ O que? Não tem que pedir desculpas por isso. A minha dor não diminui a sua e eu realmente sinto muito pelo que você passou. ㅡ Encarei seus olhos.

Não tive coragem de contar tudo. Não consegui olhar pra ele e dizer que, por mais que eu tenha dificuldade de manter relações com as pessoas, não penso em me afastar dele. Na verdade, tenho medo é de me apegar demais.

Como chegamos a isso? Como James passou do idiota que me beijou no primeiro dia de aula e que faz de tudo pra me irritar para alguém que não quero me apegar? Para alguém que não me imagino me afastando?

Estávamos nos encarando. Nenhuma palavra era dita e isso acelerou o meu coração. Desviei o olhar sentindo a vergonha avermelhar o meu rosto.

ㅡ Meus pais estão indo viajar. ㅡ Falei qualquer coisa só para cortar o clima. ㅡ Vão para a segunda lua de mel e vão ficar fora um mês.

ㅡ Você vai com eles?

ㅡ Não. ㅡ Voltei a olha-lo. ㅡ Eles estavam esperando eu completar 18 anos para ficar sozinha e eles irem curtir em Paris, ou no Caribe, ainda não decidiram.

ㅡ Espera, hoje é seu aniversário? ㅡ Ele arregalou os olhos.

ㅡ Não, é no sábado. No dia do jogo. Eles vão no domingo. ㅡ Suspirei. Eu ia sentir tanta falta deles. Não sou de demonstrar sentimento aos meus pais, mas eu sentia e muito.  ㅡ Dezoito... Na minha cabeça, quando eu fizesse 18 e me formasse na escola, poderia finalmente ir pra faculdade e trabalhar para ajudar meus pais. Eu não tinha ideia de como a minha vida mudaria. Eu ainda vou pra faculdade no ano que vem, mas meus pais não vão me deixar trabalhar até eu terminar meus estudos. E também não precisamos mais nos matar de trabalhar.

James não disse nada. Olhei para a cara dele e o vi parecendo pensativo com algo.

Estalei os dedos na frente de seu rosto.

ㅡ Ta com a cabeça na lua? ㅡ Ele me olhou.

ㅡ Não, eu só estava pensando numas coisas que eu preciso resolver pro jogo. Você falou em jogo e lembrei de das coisas que preciso fazer. ㅡ James passou as mãos na cabeça puxando os cabelos para trás. ㅡ Acho melhor irmos, se não vamos atrasar pro treino.

ㅡ Se precisar de ajuda com alguma coisa... ㅡ Me levantei junto com ele. ㅡ Eu estou disponível.

ㅡ Valeu. ㅡ Ele sorriu ladino. ㅡ Vamos? Você não vai querer se atrasar pra surra que vou te dar no treino de hoje.

ㅡ Ah, meu Deus! Você nunca me dará uma surra em esporte algum, Júnior. ㅡ Ri descendo o morrinho e voltando com ele até o carro.

ㅡ Me afronta, vai. No dia do jogo te deixo no banco. ㅡ Ele destrancou o carro enquanto eu atravessava a rua.

ㅡ Se quiser perder a partida. ㅡ Sorri dando com os ombros.

James sorriu pra mim, mas seu sorriso durou pouco, pois em questão de segundos ele me puxou para ele, impedindo que eu fosse atropelada por uma moto que passou rápido perto de mim.

Com o movimento, James me colocou contra o carro e me protegeu com seu corpo, enquanto a moto passava.

Ele encarou o cara da moto já longe com uma expressão séria. Eu não olhei na mesma direção, pois estava muito ocupada olhando pra ele e sem conseguir respirar direito devido seu corpo tão perto do meu.

•••
Continua...

Coração em Jogo Onde histórias criam vida. Descubra agora