Marcas da Noite

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Termino meu banho e visto um pijama confortável, aproveitando a sensação suave do tecido contra minha pele limpa. O alívio do calor e da água quente me faz sentir renovado. Deixo meu quarto com a intenção de beber um copo de água na cozinha, mas ao passar pelo quarto do Ran, noto uma luz fraca vindo do banheiro dele.

A porta do quarto está entreaberta, e eu a empurro suavemente. Entro e vejo Ran deitado na cama, com a toalha ainda enrolada em volta da cintura. A luz do banheiro projeta uma suave luminosidade na penumbra do quarto, destacando sua figura descansada. Parece que ele não conseguiu resistir ao cansaço e adormeceu antes mesmo de se vestir.

Me aproximo silenciosamente, observando sua respiração tranquila e o semblante sereno. O rosto dele, normalmente cheio de vida e energia, agora está calmo, e percebo o quanto a noite foi exaustiva para ele. O cabelo ainda úmido forma cachos suaves sobre o travesseiro, um contraste com a imagem glamourosa que ele mantém durante a noite.

Observo as pernas do Ran com preocupação. As marcas deixadas pelo espartilho da bota são visíveis, pequenas linhas vermelhas que contrastam com a pele pálida do Ran. Eu sei o quanto Ran se dedica ao seu trabalho na boate, usando aquelas botas apertadas para criar a imagem perfeita que encanta os clientes todas as noites. No entanto, ver as marcas físicas da dedicação do Ran também me faz lembrar da importância de cuidar de si mesmo.

Com cuidado, apago a luz do banheiro para não perturbá-lo. O quarto mergulha em uma penumbra acolhedora, e a tranquilidade do momento é quase tangível. Pego uma coberta leve e a coloco sobre ele, garantindo que esteja confortável e aquecido.

Ao vê-lo assim, vulnerável e sereno, sinto uma onda de carinho e proteção. É um lembrete de que, apesar das aparências e das personas que assumimos, somos apenas humanos, buscando momentos de paz e descanso onde podemos encontrar.

Com um último olhar terno, saio do quarto, deixando a porta entreaberta para que ele possa descansar sem interrupções. A noite ainda tem um silêncio reconfortante, e sei que, amanhã, enfrentaremos juntos um novo dia, renovados e prontos para o que vier.

Saio do quarto do Ran com cuidado para não acordá-lo. A casa está quieta, banhada apenas pela luz suave que vem do meu quarto no corredor. Caminho até a cozinha, guiado pela familiaridade dos móveis e pela rotina silenciosa da madrugada. Ao entrar na cozinha, acendo a luz e me dirijo à geladeira, sentindo a necessidade simples de um copo d'água para refrescar a garganta.

Enquanto abro a porta da geladeira, meu olhar é capturado instantaneamente por um emaranhado de fotos coloridas. São momentos congelados no tempo, instantâneos de nossas vidas compartilhadas ao longo dos anos. Um sorriso espontâneo se abre em meus lábios ao observar aquelas imagens que contam histórias de risos, aventuras e momentos de conexão profunda entre eu e Ran.

Cada foto na porta da geladeira é um lembrete vívido de nossa jornada como irmãos, desde os dias de infância até os desafios superados juntos na vida adulta. Seguro um copo de água com gratidão, me lembrando das inúmeras vezes em que esses momentos foram nosso porto seguro, nossas memórias compartilhadas que moldaram quem somos hoje.

Enquanto bebo a água fresca, sinto um calor reconfortante no peito, uma profunda apreciação pela sorte de ter um irmão como Ran ao meu lado. As fotos na geladeira não são apenas lembranças, são testemunhos tangíveis de um amor e uma conexão que transcende o tempo e as circunstâncias.

Com um último olhar afetuoso para as fotos, fecho a porta da geladeira e retorno ao corredor, levando comigo a certeza de que esses momentos continuarão a iluminar nossas vidas, sempre que precisarmos de um lembrete do que é verdadeiramente importante.

Entro silenciosamente no meu quarto depois de apreciar as fotos na geladeira. O ambiente está imerso em uma suave luz azul emitida pelos LEDs ao redor do teto, criando uma atmosfera calmante e acolhedora. No centro do teto, um projetor de estrelas espalha galáxias e constelações, transformando meu quarto em um universo particular.

Me deito na cama, deixando que meus pensamentos vagueiem enquanto observo as estrelas artificiais brilharem acima de mim. Cada ponto luminoso me transporta para além das preocupações do dia-a-dia, me lembrando da vastidão do cosmos e da pequenez de nossas vidas diante dele.

A luz suave e a quietude do quarto proporcionam um refúgio tranquilo, um lugar onde posso relaxar completamente. Respiro profundamente, me sentindo grato pelo conforto e pela segurança deste espaço que chamo de lar. As estrelas projetadas dançam suavemente conforme o projetor gira lentamente, criando um espetáculo hipnótico que me ajuda a desacelerar e a encontrar paz interior.

Mas então no meio de toda essa quietude e calmaria, penso em Ran e no tanto que eu odeio o seu trabalho. Eu sei que ele ama isso, que se sente poderoso e desejado no palco, mas não posso evitar o aperto no peito ao vê-lo se expondo dessa maneira.

Ran sempre foi destemido, desde os tempos de escola quando desafiava as normas e vivia à margem do convencional. Ele sempre seguiu seu próprio caminho, e agora não é diferente.

Mas agora, seu caminho o levou a este palco, onde ele se apresenta para uma plateia que o aplaude por sua sensualidade. É um trabalho como qualquer outro, eu sei disso, mas ver meu irmão, que cresceu comigo, que compartilhou tantas experiências comigo, agora se apresentando dessa forma tão íntima para estranhos... é difícil aceitar.

Eu me preocupo com ele. Não só pela exposição física e emocional que isso implica, mas também pelos perigos que esse mundo pode trazer. Os olhares gananciosos dos clientes, as expectativas cada vez maiores, os desafios constantes para manter sua integridade. Eu queria que ele estivesse fazendo algo mais seguro, mais estável. Algo onde não precisasse se expor e se sexualizar tanto, onde ele não estivesse sujeito a julgamentos cruéis e olhares famintos.

Mas Ran é Ran. Ele sempre fez o que quis, e sempre foi brilhante em tudo o que se propôs a fazer. Ele encontrou seu espaço neste mundo de luxúria e desejo, e é admirado por isso. E, apesar de tudo, sei que ele está feliz nesse mundo.

Então, eu engulo meu desconforto e minha preocupação, porque, no fim das contas, o que importa é que ele seja feliz.

Enquanto me perco na contemplação das estrelas em movimento, sinto-me conectado ao mistério do universo e à beleza infinita que ele contém. É um momento de serenidade, onde o tempo parece suspenso e as preocupações se dissipam. Sob o brilho suave do projetor, me permito mergulhar em um estado de tranquilidade profunda, pronto para deixar as estrelas guiar meus sonhos.

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