Capítulo 26 - Olhos abertos para o inferno

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Houve um momento em que a minha voz não saía mais da minha boca. Não sei por qual motivo eu acabei ficando rouca. Ava e eu pulávamos e dançávamos feito loucas como se estivéssemos em uma montanha russa fazendo looping.

E ríamos muito também. 

Do quê, não se sabe. Não havia nada engraçado naquele lugar.

Depois de um tempo eu não avistei mais o meu namorado, mas lembro vagamente de tê-lo visto sendo arrastado caindo de bêbado. Jeff e Stone eram quem os carregavam. Ainda me lembro quando o guitarrista disse que ia colocar' o bebê para dormir'.

Minha visão também ficou bastante turva e parecia que eu apenas acompanhava tudo que estava acontecendo em algum lugar dentro da minha cabeça, mas que não era eu que comandava meu próprio corpo. A princípio achei aquilo engraçado, parecia que eu estava anestesiada e que existia duas de mim: uma que comandava meu corpo contra minha vontade e a outra que assistia tudo da minha cabeça.

Em determinado momento senti um mal-estar estomacal e resolvi parar de beber. Fui ao banheiro e lavei o rosto. Depois procurei alguma água para que eu pudesse me hidratar, mas aquele lugar só tinha álcool e drogas e eu nem enxergava nada direito pra continuar procurando.

Eu ainda estava muito zonza e quando cheguei no corredor dos quartos comecei a procurar meu namorado para saber onde o teriam colocado e ir dormir com ele.

Fui entrando  quarto por quarto a sua procura. 

Em alguns não tinha ninguém. Em outros haviam pessoas transando e eu fiz questão de entrar e me certificar que não era Eddie. Estava achando aquilo tudo muito engraçado e eu não entendia como eu tive coragem de fazer tal coisa. Uma parte dentro de mim dizia: 'sua louca, não entra aí', mas meu corpo não obedecia e era algo muito estranho. 

Eu me sentia um fantoche.

Em outros quartos haviam pessoas roncando. Adentrei um outro corredor e, somente no último quarto, encontrei o meu namorado dormindo só de cueca. Ele roncava muito alto o que significava que estava em sono profundo. Estava aliviada de tê-lo encontrado e resolvi entrar, mas uma mão forte me puxou de dentro e me carregou até outro quarto.

Tentei dizer alguma coisa, mas tive minha boca abafada e mesmo que não tivesse eu não tinha mais voz.

Tentei não ir junto, mas eu não tinha força alguma para comandar meus movimentos.

Era Dave quem havia me puxado.

Tentei dizer alguma coisa, mas minha voz não saía o que para ele parecia perfeito. Foi o que o seu sorriso malicioso me disse naquele momento. Eu tentei me soltar dos braços dele mas não consegui, e ele foi me empurrando até uma cama de casal que estava no centro daquele quarto. Antes que me tocasse eu consegui me levantar, mas não consegui alcançar a porta. Minha visão estava tão embaçada que eu não distinguia direito o que estava a minha frente.  Fechei os olhos por alguns segundos depois que ele me jogou na cama de volta na tentativa de que minha visão melhorasse. Pude ver quando ele tirou algo de dentro do bolso da calça que estava com zíper aberto. Parecia um vidrinho de remédio, eu não entendi direito.

- Está vendo isso aqui, Lilith?

Eu olhava para aquilo sem entender o que ele queria dizer.

- Isso é um santo remedinho que pedi que colocasse nas bebidas em que você estava tomando. Sua amiga Ava me fez gastar mais com isso já que ela também compartilhou com você. Mas ela não é problema meu. Você é!

Minha visão voltou a ficar turva e eu sentia meus olhos pesados como se quisessem fechar e meu corpo desfalecer. No entanto, eu sentia que precisava continuar firme ou não conseguiria me desvencilhar daquela situação. A sensação que eu sentia era horrível, pois eu assistia tudo dentro de algum lugar no meu corpo e não conseguia dominar nada em mim. Quando ele me agarrou pela segunda vez eu não tinha força alguma para me livrar dele. Me apavorei imaginando que Dave havia me envenenado como forma de vingança. 

DEEP - O melhor inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora