DEEP - O melhor inimigo

Capítulo 22 - Medo e repulsa

Os meses foram passando e meu relacionamento com Eddie parecia voltar a ter paz. Voltei a morar no apartamento com ele e depois viajamos para o Havaí durante todo o período de festas de fim de ano e os meses inteiros de janeiro e fevereiro de 1993. Adoraria poder ficar ainda mais tempo, mas a turnê de lançamento do álbum Vs começaria em abril daquele ano indo até novembro quando voltaríamos a Seattle novamente. Quer dizer, Eddie voltaria. Eu não o acompanharia cem por cento dessa vez porque ainda precisava trabalhar, mas meu namorado disse que até setembro ele já teria uma grana melhor pra que eu pudesse deixar a loja de discos e acompanhá-lo nos shows.

Ficamos esses dois meses no Havaí em plena paz, nos curtindo, passeando, fazendo planos como nunca imaginei que viveria com um cabeludo antes. Bom, agora Eddie não estava tão cabeludo. Devido a preguiça de pentear, certo dia, seus cabelos criaram tantos nós que ele precisou cortar uma boa parte das madeixas e agora usava o cabelo nos ombros. Continuava lindo e agora meio cabeludo.

Quando voltamos a Seattle em fevereiro não tive quaisquer atritos com Dave visto que Eddie permanecia em um ensaio atrás do outro, ou em reuniões com produtoras, ou ainda gravando em estúdios. Eu evitava acompanhá-lo e com isso não tinha acesso a fuça daquele infeliz que até hoje eu tinha engasgado em minha garganta.

Das vezes em que fomos em confraternizações em comum, eu evitava Dave a todo custo, mas aquele asqueroso não desistia e fazia questão de me cumprimentar usando de bastante educação justamente pra que eu não tivesse argumentos contra ele. Ok, eu fingia demência e parecia um jogador de futebol americano desviando dele para chegar do outro lado do campo. Ás vezes, era até engraçado. Eu via ele indo em uma direção e logo dava um jeito de ir pra direção oposta. A única coisa ruim nisso tudo, era que eu não conseguia ficar a vontade em ambientes que ele estava e ficava sempre dando um jeito de estar o mais longe dele possível, principalmente, quando por algum motivo, Eddie não estava ao meu lado.

Em abril, eles começaram a turnê e eu fiquei em Seattle. Eddie me ligava praticamente todos os dias como uma forma de me garantir que estava limpo sem usar drogas ou abusar de bebidas. Éramos um casal que sempre tinha muito assunto pra conversar e com o passar do tempo e o aumento da saudade nossas conversas muitas vezes era pra fazermos sexo por telefone. Tinha dias que era tenso e a gente se desejava muito!

Em julho, tive a notícia de que eu podia pedir demissão da loja de discos e ir encontrá-lo, e apesar de estar muito contente em revê-lo depois de três meses eu também estava tensa por novamente estar perto de Dave. Eu não sei explicar, mas aquele cara me causava tensão, nojo e todo tipo de sensação desconfortável possível. Eddie sabia que eu estava apreensiva e procurou me confortar. Sendo assim, no dia 31 de julho de 1993 eu embarquei pra Suécia. Como eu ainda estava bastante tensa pra voltar a frequentar shows, combinei com Eddie que não iria assisti-los de pronto. Tanto que só voltei a fazer isso quando fomos para a Holanda quase quinze dias depois do nosso reencontro.

Holanda, 12 de agosto de 1993 

Fomos ao show em uma van separada. Nela ia Eddie, eu, Ava e Mike junto com o empresário e algumas pessoas encarregadas da produção. Eddie achou que eu não me sentiria tão confortável indo no ônibus da banda, visto que Dave estava mais chato do que o normal por estar se tornando um alcoólatra incontrolável.

Aquela notícia mexeu comigo mais do que o normal. Eu não sei o que aconteceu. Sempre fui desbocada do tipo que não precisava de ninguém pra me defender, mas aos poucos fui tomando consciência que Dave me causava mais pavor do que qualquer outro sentimento e toda vez que o nome dele era falado, fatidicamente vinha a minha memória o dia em que ele me agarrou no pub Marea e depois no hotel onde dissimuladamente convenceu Eddie de que eu o assediava.